'PL das Fake News pretende modificar o regime de responsabilidade das empresas, que é o núcleo do problema', diz Orlando Silva no Rio de Janeiro

Deputado federal debate regulação das big techs no Festival 3i,

deputado federal Orlando Silva (PCdoB), relator do Projeto de Lei nº 2630/2020, conhecido como “PL das Fake News”, participou da mesa “Regulação das plataformas: qual o melhor modelo para os nativos digitais?” no Festival 3i, na manhã deste sábado (6), na Casa da Glória, no Rio de Janeiro. O relator defende que é necessário modificar o regime de regulação e responsabilidade das empresas e entende que este é o cerne do projeto. Ele ainda ressalta que essa mudança traz obrigações de transparência e respeito à liberdade de expressão.

“No PL sugerimos que quando houver pagamento para ampliar o alcance de uma mensagem, caso essa mensagem seja levada adiante mediante pagamento e se produza um dano, se constitua responsabilidade. Pagou, é sócio, digamos assim. Aparentemente é algo simples, mas é objeto de uma campanha inacreditável de questionamentos”, afirmou o parlamentar.

O deputado também aponta que a votação do projeto de lei abriu uma “guerra” no Brasil, que está ligado a parceria das big techs com o fenômeno do bolsonarismo. “Eles podem até ter objetivos distintos, mas tentam travar a votação desse projeto. No caso do bolsonarismo, é manter os mecanismos que permitem o estímulo e a formação das bolhas e discursos extremistas que engajam e mobilizam bolhas que cegam e impedem o fluxo do debate”.

Festival 3i, no Rio de Janeiro
Festival 3i, no Rio de Janeiro – Foto: Divulgação

O painel também contou com a presença do dinamarquês Iacob Gammeltoft, gerente de políticas da NewsMedia Europe, de Francisco Brito Cruz, diretor-executivo da InternetLab e teve a mediação da jornalista e fundadora da agência de checagem Aos Fatos, Tai Nalon.O canadense Taylor Owen, diretor-fundador do Centro de Mídia, Tecnologia e Democracia da Universidade McGill, participou remotamente.

Owen trouxe para o debate a situação no Canadá que, assim como o Brasil, tenta aprovar um projeto para regular a atuação das big techs. “O que está acontecendo aqui faz parte do mesmo movimento global, estamos com o debate atrasado em relação à Europa, mas no último ano houve várias atualizações de políticas. Com países como Brasil e Canadá atuando nessa regulação, precisamos aprender uns com os outros”, destacou.

Apresentando o panorama na Europa, Iacob Gammeltoft ressaltou que é preciso continuar a discussão apesar dos constantes impasses gerados pelas plataformas digitais. “Na Europa estamos regulamentando basicamente a mesma coisa que o “PL das Fake News”, mas com seis leis diferentes. O resultado é que precisamos nos manter fortes. O que as plataformas digitais estão fazendo é chantagem. Fizeram na Austrália, na Europa, estão fazendo no Canadá e no Brasil. É assim que eles fazem e não devemos ter medo”, afirmou o dinarmaquês. Iacob reforçou a importância do projeto ter mecanismos de transparência sobre os acordos celebrados e os critérios e bases de cálculo utilizadas para definir os valores dos acordos com cada veículo.

Francisco Brito Cruz pontuou que o debate faz parte de uma tarefa geracional e é importante que o texto do PL vá adiante. Contudo, destaca que é necessária uma agência reguladora com corpo técnico especializado em moderação de conteúdos para acompanhar as ações das plataformas. “O que o projeto faz é difícil de executar sem que exista um corpo técnico que possa acompanhar as plataformas. Não existe regulação sem regulador, se deixa sem regulador, vai para o judiciário. Me parece que ter um regulador é inevitável”.

Festival 3i

Um dos principais eventos de jornalismo e empreendedorismo da América Latina, o Festival 3i reúne mais de 60 especialistas nacionais e internacionais para debater temas atuais como a regulação das big techs, os impactos da inteligência artificial no debate público, novas formas de financiar o jornalismo e a potência do jornalismo digital brasileiro e latino-americano. O evento termina neste domingo (7), na Casa da Glória, no Rio de Janeiro. As mesas principais são transmitidas no YouTube do Festival 3i.

Festival 3i é uma realização da Associação de Jornalismo Digital (Ajor). Esta edição conta com patrocínio de Google, Meta, Luminate, TikTok, Fundação Tide Setubal e Clua (Climate and Land Use Alliance); apoio de Ford Foundation e Oak Foundation; e produção da Cardápio de Ideias Comunicação e Eventos