MC Poze - Foto Reprodução

Rio de Janeiro (RJ) – MC Poze do Rodo, nome artístico do cantor Marlon Brendon Coelho Couto Silva, foi transferido nesta quinta-feira para o presídio de segurança máxima Bangu 3A, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. O motivo? Um “X” cravado com todas as letras no campo “ideologia declarada” da ficha de custódia: CV, sigla nada discreta do Comando Vermelho, facção que manda e desmanda em boa parte da capital fluminense. Não foi a polícia que apontou. Não foi denúncia anônima. Foi ele mesmo que escreveu.

Assinatura própria: CV e nada mais
No universo paralelo do sistema prisional do Rio de Janeiro, onde o Estado virou figurante e a criminalidade dita as regras do jogo, os presos escolhem de qual facção fazem parte — ou pelo menos declaram uma preferência para garantir a própria sobrevivência. MC Poze do Rodo não titubeou: marcou Comando Vermelho no campo ideológico da ficha de admissão no sistema penitenciário, e com isso, selou sua ida para Bangu 3A, território amplamente conhecido como reduto da facção.

O documento, obtido pelo portal Metrópoles, também informa que o funkeiro tem ensino médio incompleto, foi preso de forma temporária por 90 dias e ingressou na unidade prisional às 13h29 do dia 29 de maio. Um detalhe adicional: a ficha inclui um pedido formal de mapeamento das tatuagens do artista — protocolo que, em tempos de tatuagens com códigos de guerra, não é mera burocracia.

Triagem à la milícia: separação por afinidade criminosa
A realpolitik do sistema prisional brasileiro é um manual não escrito da convivência forçada: para evitar carnificinas internas, a Secretaria de Administração Penitenciária (Seap) segue à risca a política de separação por facção. É o Estado admitindo, por vias tortas, que não tem controle sobre os presídios. Assim, a ficha com o X em “CV” não é apenas simbólica — é um salvo-conduto para que MC Poze do Rodo sobreviva na cadeia. Bangu 3A, sob domínio do Comando Vermelho, é o novo endereço do cantor.

Apologia, tráfico e fuzil: a trilha sonora do processo
A prisão de MC Poze do Rodo não foi uma casualidade de blitz. Foi operação articulada. Agentes da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) da Polícia Civil bateram na porta do funkeiro durante a madrugada, no luxuoso condomínio do Recreio dos Bandeirantes, zona oeste do Rio de Janeiro. O mandado de prisão cumprido ali foi resultado de uma investigação que vai além da estética do funk proibidão.

Segundo a polícia, Poze não é apenas um cantor que fala da favela: ele seria um ativo do tráfico, fazendo shows em comunidades controladas pelo Comando Vermelho, com proteção ostensiva de traficantes armados com fuzis — o tipo de segurança que nem artista de gravadora internacional consegue por aqui. Os investigadores afirmam que a presença do funkeiro nesses bailes não é neutra: ela reforça o domínio territorial e cultural da facção.

Verso como arma e palco como trincheira
O repertório de MC Poze do Rodo, conforme a DRE, “faz clara apologia ao tráfico de drogas e ao uso ilegal de armas de fogo”. Mais do que isso, suas letras “incitam confrontos armados entre facções rivais, o que frequentemente resulta em vítimas inocentes”. A acusação transforma a liberdade artística em linha de frente de uma guerra não declarada, onde os microfones se confundem com metralhadoras, e o palco com o campo de batalha.

É nesse território cinza — entre a liberdade de expressão e a instrumentalização do crime — que o caso MC Poze do Rodo se desenrola. E enquanto o sistema prisional se reorganiza para abrigar mais um preso famoso, o Rio de Janeiro segue em sua rotina de distopia tropical, onde os artistas viram soldados e os presídios separam detentos como se fossem torcedores organizados.

Cena repetida, Estado omisso
MC Poze do Rodo não é o primeiro artista a ser enquadrado por apologia ao crime e envolvimento com o tráfico — e, se depender da lógica podre das estruturas do Rio de Janeiro, também não será o último. O que impressiona não é a prisão em si, mas o grau de naturalização da convivência entre cultura pop e crime organizado. Shows bancados por facções, letras que servem como hino de guerra e fãs que veem nisso tudo um reflexo legítimo da realidade.

A Seap, por sua vez, segue administrando presídios como quem gerencia condomínios de facção: um bloco para o CV, outro para o TCP, e assim vai. A democracia? Essa ficou do lado de fora do portão principal.

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JR Vital - Diário Carioca
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JR Vital é jornalista e editor do Diário Carioca. Formado no Rio de Janeiro, pela faculdade de jornalismo Pinheiro Guimarães, atua desde 2007, tendo passado por grandes redações.