Nutrição e saúde: como diferenciar informações válidas de pseudociência

Os resultados de pesquisas sobre nutrição raramente são claros, pois a dieta é apenas um dos muitos comportamentos e fatores de estilo de vida que afetam a saúde

Redacao
Por Redacao
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Aimee Pugh Bernard, University of Colorado Anschutz Medical Campus

A pandemia da COVID-19 revelou um vasto cenário de desinformação sobre muitos tópicos, entre eles, ciência e saúde.

Desde então, a sobrecarga de informações continua inabalável, e muitas pessoas estão confusas, com razão, devido a uma enxurrada de informações conflitantes sobre saúde. Mesmo as orientações de especialistas costumam ser contraditórias.

Além disso, às vezes as pessoas distorcem deliberadamente os resultados das pesquisas para promover uma determinada agenda. Por exemplo, o fosfato trissódico é um aditivo alimentar comum em bolos e biscoitos usado para melhorar a textura e evitar a deterioração, mas “influenciadores do bem-estar” exploram o fato de que uma substância com nome semelhante é usada em tintas e produtos de limpeza para sugerir que ela é perigosa para a saúde.

Essas alegações podem se espalhar rapidamente, criando equívocos generalizados e minando a confiança em pesquisas científicas e orientações médicas legítimas. O crescimento da mídia social como fonte de notícias e informações alimenta ainda mais a disseminação de opiniões pseudocientíficas.

E a desinformação está desenfreada no campo da saúde e nutrição. Os resultados de pesquisas sobre nutrição raramente são claros, pois a dieta é apenas um dos muitos comportamentos e fatores de estilo de vida que afetam a saúde, mas a simplicidade de usar alimentos e suplementos como uma cura para tudo é especialmente sedutora.

Sou uma professora assistente especializada em educação médica e comunicação científica. Também treino cientistas e futuros profissionais da saúde para comunicar sua ciência ao público em geral.

Na minha opinião, para combater as vozes dos influenciadores das mídias sociais e ativistas que promovem alegações pseudocientíficas sobre a saúde é preciso se apoiar na ciência da prevenção de doenças. Uma extensa pesquisa produziu um conjunto de práticas baseadas em evidências e medidas de saúde pública que têm demonstrado consistentemente melhorar a saúde de milhões de pessoas em todo o mundo. Avaliar alegações populares relacionadas à saúde com base nesse trabalho pode ajudar a distinguir quais são baseadas em ciência sólida.

Para diferenciar alegações pseudocientíficas de recomendações sólidas sobre saúde e nutrição é fundamental avaliar a fonte da informação. tadamichi/Getty Images
Para diferenciar alegações pseudocientíficas de recomendações sólidas sobre saúde e nutrição é fundamental avaliar a fonte da informação. tadamichi/Getty Images

Podemos encontrar informações conflitantes sobre praticamente tudo o que comemos e bebemos.

Isso ocorre porque um alimento ou bebida raramente é apenas bom ou ruim. Em vez disso, seus efeitos sobre a saúde podem depender de tudo, desde a quantidade que uma pessoa consome até seu perfil genético. Centenas de estudos científicos descrevem os benefícios do café para a saúde e, por outro lado, seus riscos à saúde. Uma visão panorâmica pode apontar em uma direção ou outra, mas notícias e publicações nas mídias sociais geralmente fazem afirmações com base em um único estudo.

As coisas podem ficar ainda mais confusas com os suplementos alimentares, pois as pessoas que os promovem geralmente fazem grandes afirmações sobre seus benefícios à saúde. Veja o vinagre de maçã, por exemplo – ou ACV, na sigla em inglês, se você estiver por dentro do assunto.

O vinagre de sidra de maçã tem sido apresentado como um remédio totalmente natural para várias doenças, inclusive problemas digestivos, urinários e para controle de peso. De fato, alguns estudos demonstraram que ele pode ajudar a reduzir o colesterol, além de ter outros benefícios à saúde, mas, em geral, essas pesquisas têm amostras pequenas e são inconclusivas.

Os defensores dessa substância geralmente afirmam que um componente específico dela – o sedimento turvo no fundo da garrafa denominado “a mãe” – é especialmente benéfico devido às bactérias e leveduras que contém. Mas não há nenhuma pesquisa que comprove a alegação de que ele oferece benefícios à saúde.

Uma boa regra geral é que os conselhos de saúde que prometem soluções rápidas quase sempre são bons demais para ser verdade. E mesmo quando os suplementos oferecem alguns benefícios à saúde em circunstâncias específicas, é importante lembrar que eles são, em grande parte, isentos das regulamentações da Food and Drug Administration (FDA, a agência que controla remédios e alimentos nos EUA). Isso significa que as listas em seus rótulos podem conter mais ou menos dos ingredientes prometidos, ou outros ingredientes não listados, que podem causar danos, como toxicidade hepática.

Também é importante ter em mente que o setor global de suplementos alimentares fatura mais de US$ 150 bilhões por ano. Portanto, as empresas – e os “influenciadores do bem-estar” – que vendem suplementos têm um interesse financeiro em convencer o público de seu valor. https://www.youtube.com/embed/VM1zCZLCClM?wmode=transparent&start=0 A desinformação sobre nutrição não é novidade, mas isso não a torna menos confusa.

A distorção da ciência da nutrição

Não há dúvida de que a boa nutrição é fundamental para sua saúde. Estudos mostram consistentemente que uma dieta balanceada, contendo uma variedade de nutrientes essenciais, pode ajudar a prevenir doenças crônicas e promover o bem-estar geral.

Por exemplo, minerais como o cálcio e o ferro sustentam a saúde dos ossos e a circulação de oxigênio no sangue, respectivamente. As proteínas são essenciais para o reparo e crescimento muscular e as gorduras saudáveis, como as encontradas no abacate e nas nozes, são vitais para a saúde do cérebro.

Entretanto, alegações pseudocientíficas frequentemente distorcem esses fatos básicos para promover a ideia de que dietas ou suplementos específicos podem prevenir ou tratar doenças. Por exemplo, sabe-se que a vitamina C desempenha um papel no apoio ao sistema imune e pode ajudar a reduzir a duração e a gravidade dos resfriados.

Mas, apesar das afirmações em contrário, o consumo de grandes quantidades de vitamina C não previne resfriados. De fato, o corpo precisa de apenas uma certa quantidade de vitamina C para funcionar adequadamente e qualquer excesso é simplesmente excretado.

Às vezes, as empresas afirmam que seu suplemento é “cientificamente comprovado” para curar doenças ou impulsionar a função cerebral, sem nenhuma pesquisa confiável que comprove isso.

Algumas empresas exageram os benefícios e subestimam os riscos.

Por exemplo, “influenciadores do bem-estar” promoveram o leite cru em vez do leite pasteurizado como uma opção mais natural e nutritiva, mas consumi-lo é arriscado. O leite não pasteurizado pode conter bactérias nocivas que provocam doenças gastrointestinais e, em alguns casos, doenças muito mais graves e potencialmente fatais, como a gripe aviária.

Esses mitos dietéticos não são inofensivos. A dependência apenas na nutrição pode levar à negligência de outros aspectos essenciais da saúde, como exames médicos regulares e vacinas que salvam vidas.

A sedução dos mitos alimentares levou pessoas com câncer a substituir tratamentos comprovados, com respaldo científico, como quimioterapia ou radiação, por programas de nutrição não comprovados e enganosos.

Como identificar ciência pouco sólida

A pseudociência explora suas inseguranças e emoções, tirando proveito do seu desejo de viver a vida o mais saudável possível.

Embora o mundo ao seu redor possa ser incerto e estar fora de seu controle, você quer acreditar que, no mínimo, tem controle sobre sua própria saúde. É aí que o setor de bem-estar entra em cena.

O que torna as alegações pseudocientíficas tão confundidoras é o fato de usarem jargões científicos suficientes para parecerem confiáveis. Os suplementos ou pós que afirmam “aumentar a imunidade” geralmente listam ingredientes como adaptógenos e superalimentos. Embora essas palavras pareçam reais e convincentes, na verdade elas não têm nenhum significado científico. São termos criados pelo setor de bem-estar para vender produtos.

Pesquisei e escrevi sobre maneiras confiáveis de distinguir fatos científicos de falsas alegações de saúde. Para ficar alerta e encontrar informações confiáveis, sugiro que você siga algumas etapas importantes.

Primeiro, observe suas emoções – reações emocionais fortes, como medo e raiva, podem ser um sinal de alerta.

Em seguida, verifique se o autor tem experiência ou conhecimento especializado na área do tópico. Se não for um especialista, talvez não saiba do que está falando. É sempre uma boa ideia certificar-se de que a fonte é respeitável – pergunte a si mesmo: essa fonte seria confiável para os cientistas?

Por fim, procure referências que comprovem as informações. Se houver muito pouco ou nada mais no mundo da ciência para apoiar as afirmações, talvez seja melhor confiar em uma fonte diferente.

Seguir essas etapas ajudará você a separar fatos de notícias falsas, e o capacitará a tomar decisões baseadas em evidências.

Aimee Pugh Bernard, Assistant Professor of Immunology and Microbiology, University of Colorado Anschutz Medical Campus

This article is republished from The Conversation under a Creative Commons license. Read the original article.

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