Posse de armas sobe no Brasil sob Bolsonaro

Em um ano de sua presidência, Bolsonaro e seus filhos ajudaram a alimentar um movimento pelos direitos das armas que tinha pouco apoio popular, ou influência política, no país antes de ele assumir o cargo.Milton de Oliveira em sua loja. Centenas de milhares de brasileiros solicitaram licenças de armas no último ano. Victor Moriyama, do The New York Times, 31 de março de 2020 às 17h46. ETBRASÍLIA – O presidente Jair Bolsonaro galvanizou a cultura de armas no Brasil, seu sinal de campanha de marca registrada era uma mão dobrada no formato de uma arma. Um de seus primeiros movimentos no cargo foi facilitar as regras de posse de armas. Seus três filhos mais velhos, os próprios políticos, têm sido feroz defensores da expansão da posse de armas por meio de propostas de políticas e publicações nas redes sociais. Com suas ações, Bolsonaro e seus filhos fizeram mais do que tornar mais fácil para os brasileiros obterem uma arma legalmente. Eles alimentaram um debate político e cultural sobre armas que era novo no Brasil, mas que de muitas maneiras reflete a discussão nos Estados Unidos, onde críticos dizem que mais armas significam mais mortes e apoiadores dizem que armas são necessárias para a autodefesa. leis de desarmamento, quem abre mão de armas de fogo, o cidadão decente que quer apenas se proteger, ou o criminoso, que por definição não segue as leis? ” Bolsonaro escreveu no Twitter. “O direito à legítima legítima defesa não pode continuar sendo violado!” No Brasil, um país de mais de 209 milhões de habitantes que possui uma das maiores taxas de homicídios do mundo, o direito de portar armas não é uma garantia constitucional, pois está nos Estados Unidos. O movimento dos direitos das armas está no lado perdedor dos debates sobre políticas. Cerca de dois em cada três brasileiros se opõem à posse de armas, e uma parcela ainda maior da população é contra a facilitação da obtenção de uma permissão para armas, de acordo com uma pesquisa de 2019 Datafolha, um dos principais grupos de pesquisa brasileiros, mas as atitudes em relação às armas podem estar mudando sob Bolsonaro. Desde que ele diminuiu as regras de posse de armas em suas primeiras semanas no cargo, o número de pedidos de permissão aumentou bastante: “No longo prazo, isso pode ser desastroso”, disse Natália Pollachi, coordenadora de projetos do Instituto Sou da Paz, Durante o primeiro ano de mandato de Bolsonaro, o governo emitiu mais de 200.000 licenças para os proprietários de armas. A polícia federal, que emite licenças para autodefesa, aprovou 54.300 licenças em 2019, um aumento de 98% em relação ao ano anterior. O Exército, que concede licenças a caçadores e colecionadores, emitiu mais de 147.800 novas licenças em 2019, um aumento de 68%. O Instituto Sou da Paz obteve esses números através de solicitações de liberdade de informação e os compartilhou com o The Times. Pollachi advertiu que os lares brasileiros tornam a violência doméstica mais letal, tornam fatais os confrontos comuns e turbinam um mercado negro que já está prosperando. Atualmente, o Congresso está considerando um punhado de projetos de lei que facilitariam ainda mais a regulamentação. E os maiores defensores do movimento pelos direitos das armas são os três filhos mais velhos do presidente. Eduardo Bolsonaro, membro do Congresso e um dos substitutos mais visíveis de seu pai, falou com admiração da Segunda Emenda nos Estados Unidos. Ele fez lobby para tornar o mercado brasileiro mais atraente para os fabricantes estrangeiros de armas, o que, segundo ele, reduziria os preços e proporcionaria mais opções aos entusiastas de armas. Flávio Bolsonaro, senador, fez da promoção da fabricação de armas no Brasil o foco de seu primeiro projeto em a legislatura no ano passado. E Carlos Bolsonaro, membro do conselho do Rio de Janeiro, também tem sido um defensor dos direitos das armas. “O direito de defender a própria vida é um direito legítimo dos cidadãos brasileiros”, disse Flávio Bolsonaro, o senador, em entrevista. “O direito à vida é inegociável para nós.” Reagindo a uma onda de violência relacionada às drogas que se enraizou na década de 1990, o congresso do Brasil em 2003 aprovou uma lei abrangente de desarmamento que procurava tornar rara a posse de armas, tornando o processo de solicitação de uma permissão cara, demorada e burocrática. Ele determinou que qualquer pessoa interessada em solicitar uma licença de arma para autodefesa tivesse que convencer a polícia federal de que tinha uma “necessidade razoável” de uma arma, um critério vago que dava ao governo muita discrição para negar petições. Os colecionadores e caçadores tiveram que solicitar uma permissão ao exército. Os candidatos também tiveram que pagar taxas elevadas, demonstrar que não possuíam antecedentes criminais, se submeter a um teste psicológico e receber treinamento em pontaria. A lei também pagou aos proprietários de armas – licenciados e não – para entregar suas armas ao estado, e quase 650.000 o fizeram no primeiro ano, de acordo com as licenças. Dois anos após a aprovação da lei, os eleitores rejeitaram uma medida mais abrangente apresentada em um referendo, que teria efetivamente proibido todas as vendas de armas civis, mas mesmo com a posse de armas de fogo fortemente regulamentadas, as armas ilícitas ainda circulavam amplamente. Os cartéis poderosos do narcotráfico há muito tempo desrespeitam os regulamentos sobre armas, contrabandeando armas, principalmente através da fronteira porosa com o Paraguai. Membros de gangues carregam abertamente armas de mão e rifles poderosos em vários distritos do Rio de Janeiro, São Paulo e outras cidades onde as organizações criminosas costumam ter mais influência entre os cidadãos do que o Estado. No ano passado, a polícia do Rio de Janeiro apreendeu mais de 8.400 armas de fogo, incluindo Com o lançamento de sua candidatura presidencial, Bolsonaro apresentou mais de 63.800 homicídios, um recorde, e liderou o mundo no número de mortes causadas por armas de fogo. Bolsonaro, um ex-capitão do Exército de extrema direita, prometeu facilitar a obtenção de armas pelos civis: “Todas as coisas boas são armadas!” ele exclamou durante uma entrevista na televisão em 2018, quando estava em campanha. “Apenas cidadãos decentes não são.” A facada quase fatal do presidente em uma manifestação poucas semanas antes da eleição deu um novo senso de urgência à afirmação de Bolsonaro de que “bons cidadãos” precisavam ser armados para se protegerem de “criminosos”. O decreto executivo que Bolsonaro assinou duas semanas depois de assumir o cargo relaxou o processo de licenciamento, facilitando o atendimento aos requisitos de posse de armas. Por exemplo, o simples fato de morar em uma área rural ou em uma área urbana com uma alta taxa de criminalidade agora pode ser usado como justificativa para solicitar uma licença de arma sob o decreto. O decreto estendeu a validade das licenças de cinco para dez anos e aumentou quantidade de munição que pode ser comprada de uma só vez e o número de armas que um indivíduo pode possuir. Também permitiu a venda de armas de maior calibre. Entre as já disponíveis comercialmente, está o T4, um rifle semi-automático de estilo militar produzido pela Taurus, uma fabricante brasileira de armas, que antes só estava disponível para as forças armadas. Bolsonaro assinou o decreto, Bolsonaro disse que a capacidade de possuir armas daria aos brasileiros “paz dentro de suas casas”. Obter permissão para comprar uma arma no Brasil ainda requer um processo demorado – incluindo uma avaliação de saúde mental e uma verificação de antecedentes criminais – que pode se arrastar por meses. Lilia Melo, professora do ensino médio no norte do estado do Pará, disse que as novas regras levariam inevitavelmente a que mais armas fluíssem para o interior do país. mercado negro, que só pode levar a mais violência. “Armas não nos trazem segurança”, disse ela. “Esses conflitos acabam nos privando do nosso direito de estar nas ruas.” Letícia Casado, de Brasília, e Ernesto Londoño, do Rio de Janeiro.