A permanência da tortura policial nos dias atuais foi o tema desta terça-feira (8) do ciclo de debates “Conhecendo o DOI-Codi/SP”. Um dos centros de tortura da ditadura militar no Brasil (1964-1985), a sigla refere-se ao extinto Destacamento de Operações de Informação e Centro de Operações de Defesa Interna, que era subordinado ao Exército. O prédio do DOI-Codi, na Vila Mariana, zona Sul da capital paulista, está sendo examinado por arqueólogos desde o último dia 2. O edifício foi usado para interrogatório de opositores do regime, sob tortura. No local, foram registrados assassinatos: ali foi encontrado, por exemplo, o corpo de uma das vítimas mais emblemáticas do período da repressão – o jornalista Vladimir Herzog – no final de 1975. Para um dos debatedores convidados, o jornalista Marcelo Godoy – vencedor do Prêmio Jabuti 2015 com o livro A Casa da Vovó – Uma Biografia do DOI-Codi – a permanência da tortura pode estar ligada ao baixo nível de investigação dos casos denunciados à Justiça. Godoy disse que apenas 3,4% das denúncias de tortura levadas ao conhecimento da Justiça, nas audiências de custódia em São Paulo, entre 2015 e 2017, transformaram-se em inquéritos. Segundo o jornalista, é preciso haver uma investigação sobre esses casos. “E isso não acontece, não aconteceu, pelo menos, pelos dados desses dois anos”, destacou. “Essa situação [de não investigação] me parece ser uma das causas, certamente deve ser uma das causas, de o número de denúncias permanecer alto e permanecer constante, apesar de a gente estar aqui falando mais de 20 anos depois da aprovação da Lei da Tortura”, acrescentou. De acordo com o diretor de Jornalismo da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e assessor da presidência da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), Moacyr Oliveira Filho, que foi preso e torturado no DOI-Codi, em maio de 1972, a tortura feita pelo aparato policial do destacamento serviu de modelo para os demais aparelhos de Estado no restante do país. “A tortura não foi inventada pelo DOI-Codi. Ela existe no Brasil desde, na verdade, a escravidão e, politicamente, no Estado Novo. Mas ela se aprimorou, do ponto de vista da tortura dos presos políticos, no DOI-Codi”, disse. “O DOI-Codi criou um modelo científico, vamos dizer assim, de tortura e que serviu de exemplo para todos os outros estados. E, hoje, a tortura continua existindo, como sempre existiu, assim como a violência policial – basta ver esse episódio recente do Guarujá”, ressaltou. Valéria Oliveira, do movimento Mães de Maio, destacou que a tortura, a violência policial e os desaparecimentos forçados permanecem presentes nas periferias de todo o país. De acordo com Valéria, a polícia age como interventor, juiz e executor. “Por que a vida é banalizada desse jeito, por que que a polícia tem que ter tanto poder assim, de intervir, julgar, e executar?”, questionou. “Ela não pode ter esse poder, e nós estamos deixando que isso aconteça. A gente está falando de 35 anos do período democrático, e nada mudou. Piorou”, acrescentou. O debate integra a programação das atividades arqueológicas, coordenadas pela historiadora Deborah Neves, que começaram no último dia 2 e vão até o dia 14 deste mês, no prédio do antigo DOI-Codi.
Tortura policial ainda segue modelo da ditadura, apontam especialistas
Meu corpo, minhas regras
Conheça líderes do feminismo ao redor do mundo
Pesquisa feita pela Ipsos, mostra que mais da metade (51%) das mulheres brasileiras se consideram feministas
Descaso
RJ: Pesquisa sobre desaparecimento forçado na Baixada Fluminense será lançada em livro
Publicação apresenta resultado da pesquisa do Observatório Fluminense, da UFRRJ, em parceria com o Fórum Grita Baixada
Estado Inoperante
64 mil crianças e adolescentes vivem sem acesso adequado a água no Rio de Janeiro, alerta UNICEF
A falta de água potável impacta de forma mais intensa crianças e adolescentes negros e indígenas, comprometendo também o acesso deles a outros direitos
Combate ao Racismo
Racismo contra Vinícius Jr. ativa reação que não existe para casos no Brasil
Muito é dito sobre o motivo da indignação ser o racismo, enquanto a sociedade brasileira também possui esse traço, inclusive em estádios de futebol
Unidas
Me Too Brasil lança 0800 no Dia da Mulher para ampliar acesso a atendimento e acolhimento
A organização prestará atendimento relacionado à denúncias, apoio jurídico e acompanhamento psicológico a partir desta sexta (8)
Direitos
Rio: Grupo Pela Vidda promove mutirão de retificação civil para transexuais nesta terça-feira (5)
É necessário apresentar os seguintes documentos originais para tramitar o processo: Identidade, CPF, título de eleitor e certidão de nascimento