ONU: Covid destaca a necessidade de mudar sistemas de saúde na América Latina

Santiago do Chile, 14 out (EFE) .- O prolongamento da pandemia mostra a necessidade de transformar os sistemas de saúde da América Latina, a região mais desigual do mundo e onde o processo de vacinação avança assimmetricamente, denunciou a ONU nesta quinta-feira.

Em relatório conjunto, a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) e a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) afirmaram que "fortalecer o investimento público" e "consolidar estados de bem-estar" são condições necessárias para controlar a pandemia e "avançar para uma recuperação transformadora com igualdade e sustentabilidade ambiental, em consonância com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)".

"No ano passado, sustentamos que sem saúde não há economia e hoje reiteramos que sem saúde não haverá recuperação econômica sustentável", disse a secretária executiva da ECLAC, Alicia Bárcena, durante a apresentação do documento.

Com mais de 1,5 milhão de mortes e mais de 45,7 milhões de casos confirmados desde que o primeiro caso foi detectado no Brasil, em fevereiro de 2020, a pandemia está longe de acabar na América Latina e, embora os tempos mais difíceis tenham passado e nenhum país já esteja em quarentena, há alguns surtos.

Apesar de constituir apenas 8,4% da população mundial, a região é responsável por cerca de um quinto dos casos confirmados de COVID-19 e cerca de 30% das mortes em todo o mundo.

APENAS 39% DA POPULAÇÃO VACINADA

O prolongamento da pandemia na América Latina está relacionado às "fragilidades estruturais dos sistemas de saúde", juntamente com o lento progresso da vacinação e "as dificuldades dos países em manter as medidas sociais e de saúde pública em níveis adequados", diz o documento.

Em média, 39% da população latino-americana tem o calendário completo de vacinação, embora haja grandes diferenças: se Chile e Uruguai ultrapassarem 70%, 25 dos 49 países e territórios da região não excedem 40%.

"A importância de fortalecer a capacidade da região de produzir vacinas e medicamentos e superar a dependência externa tornou-se evidente", acrescentou Bárcena.

Os sistemas de saúde da região são "fragmentados" e possuem um "subfinanciamento", com um nível de investimento muito inferior ao acordo de 6% do PIB, segundo o relatório, que também lembra que na América Latina há uma disponibilidade média de 20 médicos por 10.000 habitantes, "bem abaixo dos parâmetros recomendados".

No texto, ambas as agências que fazem parte do sistema das Nações Unidas registraram "uma alta correlação entre a vulnerabilidade socioeconômica e o nível de gravidade e morte por covid-19".

Também manifestaram preocupação com a falta de acesso aos serviços de saúde que uma parcela da população tem experimentado durante a pandemia devido à saturação: 35% dos países teriam registrado algum tipo de interrupção na prestação de serviços integrados de saúde este ano.

"O Estado tem desempenhado um papel fundamental e indispensável na resposta aos desafios da pandemia e deve continuar desempenhando esse papel para tomar uma nova direção de políticas públicas, a fim de construir sociedades mais igualitárias, inclusivas e resilientes", disse a diretora da OPAS, Carissa F. Etienne.

O PIB regional despencou 6,8% em 2020 – a maior recessão em 120 anos – e houve uma queda histórica do emprego e um aumento sem precedentes do desemprego, juntamente com aumentos significativos da pobreza e da desigualdade.

Para 2021, a ONU espera uma taxa de crescimento de 5,9%, enquanto em 2022 será de 2,9%, embora essa expansão não seja suficiente para recuperar o nível pré-crise do PIB.