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Até onde vai a militarização da Europa?

Ursula von der Leyen, a presidente da Comissão Europeia, declarou ao mundo que “a Europa precisa ser urgentemente rearmada”.

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As frequentes e crescentes humilhações públicas impostas por Trump a Zelensky demonstram que o papel dos Estados Unidos na guerra por procuração contra a Rússia tende a ser secundário. Os europeus já planejam assumir o protagonismo da tragédia anunciada.

Ursula von der Leyen, a presidente da Comissão Europeia, declarou ao mundo que “a Europa precisa ser urgentemente rearmada”. A União Europeia realiza uma cúpula especial de defesa nesta quinta-feira precisamente para debater os planos de expansão militar, em pleno ponto de inflexão da política europeia do pós-II Guerra.

“Todos nós entendemos que, após um longo período de subinvestimento, agora é de extrema importância aumentar o investimento em defesa por um período prolongado. É para a segurança da União Europeia”, afirmou, em evento hospedado pelo premiê britânico Keir Starmer para debater os caminhos da situação na Ucrânia, logo após Zelensky ter apanhado na Casa Branca. “Temos que colocar a Ucrânia em uma posição de força, para que ela tenha os meios para se fortalecer e se proteger”, completou von der Leyen.

Mas essa tendência não é de hoje. Ela apenas se acentuou com a chegada de Trump à Casa Branca. Em janeiro de 2024, o jornal Bild revelou um documento secreto das forças armadas alemãs que previa uma guerra direta entre a OTAN e a Rússia no verão europeu de 2025. Poucos dias depois, Robert Bauer, chefe do comitê militar da OTAN, declarou em uma reunião com os chefes militares dos países-membro: “precisamos de uma transformação da OTAN para a guerra.”

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Desde que a Rússia reagiu às provocações da OTAN e entrou de vez na guerra na Ucrânia, Macron tem defendido com certa frequência o fim da dependência europeia em relação aos Estados Unidos, tanto em termos econômicos como militares. Chegou mesmo a sugerir uma aliança militar estritamente continental, e não atlântica. Agora o provável novo chanceler alemão, Friedrich Merz (homem da BlackRock), parece seguir o mesmo discurso, ao afirmar em um debate pré-eleitoral que sua prioridade será tornar a Europa independente dos EUA.

Em setembro passado, von der Leyen nomeou o primeiro comissário para a Defesa da Europa, um claro sinal dos novos tempos castristas. Comissão Europeia, União Europeia e OTAN estão centralizando o controle sobre o orçamento dos países europeus para forçar o aumento dos gastos militares em cada um deles.

É curioso que os europeus estejam indicando fazer exatamente o que Trump exige deles há muito tempo. O orçamento de defesa está a ponto de aumentar na OTAN, o que já ocorreu na Espanha e foi anunciado pela França, Reino Unido e Dinamarca. Em 2014, somente 8 dos 28 membros de então gastavam 20% do orçamento da defesa em equipamentos e programas, o que é considerado o ideal pela OTAN. Em 2024, já eram 29 entre os 32 membros atuais que seguiam essa orientação – sendo que os poloneses já gastam mais de 50%, à frente até dos 30% dos EUA. Por sua vez, em 2014 apenas três países gastavam 2% do seu PIB na Defesa (meta da OTAN desde 2006), e hoje esse número já chega a 23.


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Como sempre, quem mais quer a guerra é a indústria bélica. Não é coincidência que o complexo militar-industrial dos EUA sempre foi contrário a Donald Trump – não porque o vê como um machista, racista e homofóbico, mas sim por suas indicações de reduzir o papel militar dos EUA mundo afora, no que se inclui a saída de soldados da Europa e a redução das despesas com a OTAN.

Apesar de ser um sinal de possível recuo na dependência em relação aos EUA, a própria von der Leyen disse em fevereiro que os europeus deveriam aumentar a importação de gás dos americanos para compensar a dependência que ainda existe da Rússia. O mais relevante, contudo, é que a militarização da Europa partiria precisamente do complexo militar-industrial dos EUA, pois os europeus não têm condições de produzir o material que precisam, justamente devido à submissão a Washington desde o Plano Marshall.

A eleição de Trump foi um golpe no complexo militar-industrial americano – também conhecido como Deep State (em conjunto com as agências de inteligência). Como está há muito tempo controlado pelo capital financeiro, pode-se dizer que ele é o pilar do sistema imperialista do pós-II Guerra. Esse setor fundamental do poder imperialista até tenta influenciar as decisões do novo governo americano, mas outras camadas do grande capital se opõem a ele, ao menos em parte. Resta utilizar suas peças do outro lado do Atlântico, enquanto ainda as controla sem muitas dificuldades.

Um esperto intelectual do establishment americano sugeriu em uma prestigiosa revista que os países europeus deveriam comprar mais gás dos EUA e reduzir as tarifas de importação de produtos químicos e farmacêuticos da América para garantir os investimentos na defesa europeia, bem como apertar o cerco contra a liberdade de expressão nas redes sociais. Afinal de contas, ele já sabe que, com o aumento dos gastos militares, os bancos vão exigir corte de gastos sociais e, portanto, haverá uma onda de descontentamento. Será preciso suprimir a oposição.

A Europa enfrenta uma desindustrialização histórica (acelerada a partir das sanções à Rússia e da retaliação de Moscou). Além disso, a inflação tem sido elevada desde a intervenção russa na Ucrânia – com um empurrãozinho dos houthis com seu bloqueio do Mar Vermelho –, bem como o índice de falência de empresas, o desemprego, as taxas de pobreza e os protestos, em especial os dos camponeses.

A reindustrialização que os industriais alemães, em especial, exigem, virá precisamente através da produção militar, como foi na II Guerra. Foi o que salvou o capitalismo mundial e assegurou aos EUA o papel de potência reinante no mundo até hoje. O cenário pode agradar gregos e troianos: os grandes capitalistas americanos lucram com a venda de armas e equipamentos para a Europa e os grandes capitalistas europeus lucram com a reindustrialização e a austeridade social proporcionadas por isso.

Tal política é um prato cheio para a extrema-direita europeia. Ela já vem há muito tempo surfando na onda da intensa insatisfação popular com a doutrina neoliberal. Chegou ao governo ou a importantes posições de barganha no Parlamento Europeu e dos principais países do continente ao enganar eleitores de classe média e trabalhadora com sua demagogia, mas principalmente ao receber um apoio crescente do empresariado nacional.

Embora na França e Alemanha ela seja oficialmente contra a guerra à Rússia, apoia o ressurgimento das grandes potências e é apoiada pelos industriais. Marine Le Pen e Alice Weidel não escondem sua disposição de formar uma coalizão com os partidos da direita tradicional, como a base de Macron ou a CDU. O cordão sanitário já começou a se romper na Alemanha. A própria política dos atuais governos de militarização e endurecimento de leis (seja contra a imigração ou contra a liberdade de expressão) assenta o terreno para a instalação da extrema-direita no poder.

Muitos comparam a situação atual ao período imediatamente anterior à I e à II guerras mundiais. Ele foi de industrialização, militarização e aumento da competição entre as potências pelos mercados mundiais. A Europa foi protagonista nas duas guerras, em especial a Alemanha. Os alemães chegaram atrasados na competição pré-I Guerra, foram humilhados por Versalhes antes da II e basicamente colonizados pelos EUA após 1945. São o elo mais frágil do eixo imperialista, e o mais pendente ao fascismo. Uma retomada do crescimento econômico independente, acompanhado do rearmamento massivo, conduziria necessariamente à expansão da Alemanha. Essa necessidade, como vimos, só pôde ser atendida da última vez por um regime fascista. Desta vez não deverá ser diferente.

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