Raíssa Araújo Pacheco – A incendiária escritora e militante comunista paulista Patrícia Rehder Galvão, sempre lembrada apenas pelo seu apelido: Pagu, teve uma vida e uma produção intelectual bastante ativa. Ainda muito nova já dava o que falar por seu comportamento transgressor, causando burburinho nos círculos artísticos, sendo lembrada como a musa dos modernistas; “Pagu tem uns olhos moles, uns olhos de fazer doer…”, eternizou Raul Bopp. Após entrar na militância comunista, chegou a ser presa pelo menos vinte e três vezes por suas atividades políticas. Já mais velha, viajou à China para divulgar seus trabalhos e por motivações políticas.
Sua produção é vasta. Já no primeiro emprego, aos quinze anos, no Brás Jornal, escreveu críticas às injustiças sociais, sob o pseudônimo de Patsy. Desde então, colaborou com diversos veículos e fundou até mesmo o próprio: O Homem do Povo, ao lado de Oswald de Andrade.

O livro Pagu na Vanguarda Socialista: os escritos mais incendiários de Patrícia Galvão, lançado pela Autonomia Literária, apresenta uma compilação de textos da autora, publicados entre 1945 e 1946 na coluna Crônica Literária do jornal Vanguarda Socialista.
Este periódico, fundado e editado pelo pelo militante e crítico de arte Mário Pedrosa e secretariado por Geraldo Ferraz, circulou no Rio de Janeiro entre 1945 e 1948 e se caracterizou por sua postura dissidente em relação às diretrizes do Partido Comunista do Brasil (PCB).
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O jornal reunia trotskistas e outros intelectuais socialistas. Além disso, não era ligado a partidos políticos. Seu principal objetivo era o de desenvolver um trabalho de crítica e construção do movimento revolucionário se opondo às diretrizes emanadas pela direção stalinista na União Soviética.
Certa vez, o célebre economista Paul Singer comentou que o conteúdo do Vanguarda Socialista costumava ser mais denso do que a maioria das publicações de mesmo sentido à época: “A diferença que havia é que o Vanguarda Socialista era mais denso, intelectualmente muito mais pretensioso, publicava textos de Marx, de Engels, de Trotski, de Rosa Luxemburgo, de Kautski, autores que ainda não conhecíamos. (…) Tenho a impressão de que Mario Pedrosa tinha como critério que os clássicos tinham que ser conhecidos diretamente, não por meio de vulgarizadores, coisa que eu, depois que me tornei professor, pratiquei a vida inteira.”
O jornal encerrou suas atividades em 1948.
Pagu na Vanguarda Socialista: os escritos mais incendiários de Patrícia Galvão, resulta de uma pesquisa exclusiva, realizada em arquivos históricos de relevância, como o Centro de Documentação do Movimento Operário Mário Pedrosa (CEMAP), o Centro de Documentação e Memória da Universidade Estadual Paulista (CEDEM/Unesp), a “Seção DEOPS” do Arquivo Público do Estado de São Paulo, o acervo de Oswald de Andrade, o Centro de Documentação Alexandre Eulalio (CEDAE) da Unicamp, entre outros.
Tais acervos proporcionam uma visão ampliada da trajetória de Patrícia Galvão e de sua contribuição à teoria política e ao pensamento social no Brasil, no contexto das disputas ideológicas da época.
Portanto, a publicação faz uma importante contribuição para o estudo da história intelectual e política brasileira, expandindo o olhar para a atuação de uma das figuras mais memoráveis da luta pelo socialismo em nosso país.