Rio de Janeiro – Mais uma vez, o Complexo do Chapadão virou cenário de guerra. A manhã desta segunda-feira, 26 de maio, começou com barricadas em chamas, tiroteios e helicóptero da imprensa sobrevoando o terror.
A razão? Uma nova ação policial do 41º BPM, como sempre, sem transparência, sem resultado divulgado, mas com muito barulho e medo espalhado entre os moradores.
Segundo informações da própria Polícia Militar, a operação ocorre na área conhecida como Caminho do Padre, e até o momento nenhum preso, nenhuma arma, nenhuma apreensão foi anunciada. Em contrapartida, o saldo visível é o de sempre: trânsito interrompido, comunidades sitiadas e vidas em suspenso sob o pretexto de “combate ao crime”.
Nas imagens aéreas transmitidas pela TV Globo, é possível ver pneus pegando fogo em barricadas espalhadas pelas ruas do Chapadão. Os chamados “criminosos” reagem ao cerco militar da forma já conhecida: interditam vias e dificultam o avanço da tropa. A pergunta que segue ecoando: para quem serve essa coreografia ensaiada entre fogo, fuzis e helicópteros?
PM avança, mas sem mostrar resultado
O 41º BPM, que tem jurisdição sobre a área, é conhecido por suas ações truculentas e mal justificadas. Não há mandados coletivos divulgados, tampouco qualquer dado que sustente a eficácia dessas operações recorrentes.
Moradores, em grupos de aplicativos e redes sociais, relatam o terror cotidiano que se tornou viver sob essa tensão constante. Comércios não abriram. Escolas suspenderam as aulas. O Estado, mais uma vez, chega na ponta do fuzil – mas nunca com ambulância, professor ou saneamento.
O ciclo vicioso da militarização
As operações policiais em favelas do Rio repetem um padrão obsoleto: invadir, atirar, recolher e sair. E depois? Tudo volta ao ponto zero, com exceção do trauma deixado para trás. Não há presença contínua do Estado que não seja repressiva. Enquanto isso, a lógica de ocupação se sustenta em dados rasos e em um discurso militarizado de “pacificação” que nunca pacificou nada.
O Complexo do Chapadão, como tantos outros territórios da cidade partida, segue sendo tratado como zona de exceção. Ações como a desta segunda-feira não resolvem o narcotráfico, não desmobilizam milícias, e tampouco oferecem qualquer política pública que enfrente as raízes da violência urbana.
Rio sitiado: helicóptero, fumaça e silêncio institucional
Além das barricadas incendiadas, o que chama atenção é a ausência de prestação de contas por parte das autoridades. Nenhuma entrevista coletiva, nenhum boletim com dados concretos, nenhuma explicação para o uso da força.
O helicóptero da TV Globo, mais uma vez, atua como testemunha ocular da barbárie. Imagens que lembram zonas de conflito internacional circulam nos telejornais, enquanto o restante da cidade segue indiferente. Para muitos, o que acontece no Chapadão é “problema de bandido”. Para nós, é sintoma de um Estado que falhou – e que insiste em repetir os mesmos erros.
O Carioca esclarece
Quem comanda a operação no Complexo do Chapadão?
A ação está sob responsabilidade do 41º BPM (Irajá), conhecido por ações agressivas na Zona Norte do Rio.
Por que há barricadas incendiadas?
Elas são montadas por grupos armados para retardar o avanço da polícia nas vielas e impedir a circulação de blindados.
Quais as consequências para os moradores?
Trânsito interrompido, escolas fechadas, comércio paralisado e medo permanente em uma comunidade já abandonada pelo Estado.
Como isso afeta a democracia e os direitos humanos?
Essas operações militarizadas violam o direito de ir e vir, tratam civis como alvos e reforçam a lógica da guerra interna contra os pobres.