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China injeta R$ 27 bi e ajuda o Brasil a se redesenhar

Brasília, Brasil – 3.jun.2025 – A China não está apenas vendendo produtos ao Brasil. Está redesenhando seu cotidiano, suas cidades, sua base industrial e até seus hábitos de consumo. Com mais de R$ 27 bilhões em investimentos anunciados nos últimos meses, o país asiático avança sobre setores estratégicos como mobilidade, energia, alimentação e tecnologia — não como mero fornecedor, mas como protagonista de um novo modelo de globalização: digital, interdependente e liderado por plataformas.

Os aportes mais visíveis surgem no cotidiano: pedir comida por aplicativo, tomar um bubble tea ou andar em um carro elétrico — atividades comuns nas metrópoles chinesas — se tornam rotina também nas cidades brasileiras. Por trás disso estão megacorporações como Meituan, Didi, BYD, GWM, Envision e Mixue, que trazem não só capital, mas infraestrutura, know-how e poder de modelagem de comportamento.

De Pequim a São Paulo: a China exporta seus aplicativos

A Meituan, maior empresa de delivery da China, estreou no Brasil com o app Keeta e um plano ousado: investir R$ 5,6 bilhões em cinco anos para desafiar o monopólio do iFood. A ideia vai além da entrega de refeições: inclui digitalização de restaurantes e criação de uma malha logística nacional baseada em inteligência artificial — uma réplica tropical do modelo chinês.

Já a Didi, que controla o app 99, reativou seu braço de entregas, o 99 Food, e anunciou um investimento adicional de R$ 1 bilhão para instalar 10 mil pontos de recarga para veículos elétricos. O plano une mobilidade urbana, logística e transição energética — tudo sob controle chinês.

A gigante das bebidas Mixue, maior rede de chá com leite do mundo, investirá R$ 3,2 bilhões até 2030 para abrir centenas de lojas no Brasil, prometendo 25 mil empregos e uma revolução nos hábitos alimentares. O consumo cultural e alimentar também é geopolítica.

Indústria e energia: parceria ou dependência?

Se no varejo digital o impacto é direto no consumidor, na indústria o movimento chinês é ainda mais profundo — e estratégico. A Great Wall Motors (GWM) vai investir R$ 6 bilhões para transformar a antiga fábrica da Mercedes-Benz em Iracemápolis (SP) num polo de exportação para a América Latina. O Brasil vira extensão produtiva da cadeia industrial chinesa.

Na transição energética, a ofensiva é liderada por empresas como Envision, CGN e Powerchina. A Envision construirá o primeiro Parque Industrial Net-Zero da América Latina com um aporte de R$ 5 bilhões, enquanto a CGN vai aplicar R$ 3 bilhões em energia solar e eólica no Piauí — em áreas tradicionalmente negligenciadas pelo Estado brasileiro.

O setor de semicondutores também entra no radar: a Longsys investirá R$ 650 milhões para produzir chips no Brasil e fortalecer o ecossistema da Internet das Coisas (IoT). A soberania digital do país, cada vez mais, será mediada por chips chineses.

O Brasil como base de expansão na América Latina

Por que tanto interesse? O Brasil oferece o que a China busca: tamanho de mercado, juventude populacional e infraestrutura em construção. Com mais de 200 milhões de habitantes e um PIB per capita de US$ 10 mil, o país é visto como terreno ideal para consolidar plataformas tecnológicas e iniciar uma nova fase da globalização liderada por algoritmos e integração vertical.

Cerca de 86% da população já está conectada à internet, com uso intenso de smartphones e serviços digitais. Esse ambiente favorece a adaptação dos ecossistemas chineses, que operam com logística avançada, sistemas de recomendação e integração entre setores — algo que as empresas ocidentais ainda não conseguiram replicar com sucesso na América Latina.

Além disso, o ambiente diplomático é favorável. O governo Lula tem sinalizado interesse em diversificar parcerias e buscar autonomia tecnológica. A afinidade com a agenda verde chinesa — mesmo que por razões distintas — cria uma ponte para projetos sustentáveis e industriais ao mesmo tempo.

Co-criação ou imposição? O dilema da interdependência

Especialistas defendem que o modelo chinês não é pura cópia, mas adaptação. A ideia de “co-criação” entre empresas chinesas e mercados locais busca legitimar o processo de internacionalização como benéfico para ambas as partes. Mas a assimetria de poder é inegável.

Afinal, quem dita os termos dessa nova integração? As ferramentas digitais, os algoritmos de recomendação, os padrões de consumo e os valores corporativos continuam sendo importados. O Brasil participa como parceiro ou hospedeiro de uma infraestrutura tecnológica e econômica já testada na China?

Para Bai Ming, da Academia Chinesa de Comércio Internacional, trata-se de uma nova fase da globalização: menos ocidental, mais interdependente, mas ainda movida por interesses estratégicos. “A China quer ser parte da solução do desenvolvimento global. E o Brasil, com seus recursos e população, é peça-chave nesse tabuleiro”, afirma.

Um novo ciclo de dependência ou chance de reconstrução?

A presença chinesa reabre o debate sobre desenvolvimento dependente. Se por um lado os investimentos prometem empregos, digitalização e crescimento industrial, por outro colocam o Brasil numa posição delicada: sem controle sobre as plataformas, as tecnologias ou os fluxos de dados.

Resta saber se o país conseguirá negociar soberania em meio à avalanche de capital estrangeiro — ou se continuará trocando dependência americana por subordinação chinesa. A escolha não é entre oriente e ocidente, mas entre autonomia e captura.

O Brasil, mais do que nunca, precisa decidir se será só mercado — ou se voltará a ser projeto.


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Equipe de jornalistas do Jornal DC - Diário Carioca

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