Rio de Janeiro, 6 de julho de 2025 – Um levantamento da Coppe/UFRJ revela que o avanço do mar e a erosão costeira já provocam perdas visíveis nas praias mais emblemáticas do Rio de Janeiro — como Copacabana, Ipanema e Leblon —, e que esses efeitos podem se intensificar dramaticamente até o fim do século. O estudo indica que o nível médio do mar pode subir até 0,78 metro até 2100, levando a um avanço superior a 100 metros da linha costeira. Nesse cenário, inundações hoje sazonais poderão se tornar permanentes.
A pesquisa utilizou modelagem hidrodinâmica regionalizada, com dados específicos do litoral carioca, e foi conduzida pela pesquisadora Raquel Santos e pelo oceanógrafo Luiz Paulo de Freitas Assad. Os dados apontam que Copacabana já perdeu 10% de sua faixa de areia nos últimos dez anos, enquanto Ipanema, Leblon e Botafogo podem encolher até 80 metros. Durante ressacas e marés altas, o mar pode invadir outros 60 metros do território urbano.
Sem espaço para recuo, praias ficam vulneráveis
O estudo ressalta que, cercadas por estruturas urbanas, as praias do Rio de Janeiro não têm como recuar naturalmente, o que amplia o risco de impacto sobre áreas residenciais, turísticas e ambientais. Além da erosão das faixas de areia, pode haver aumento do espelho d’água em áreas como a Lagoa Rodrigo de Freitas, bem como desaparecimento de manguezais da Área de Proteção Ambiental (APA) de Guapimirim.
Segundo Luiz Paulo de Freitas Assad, “as mudanças climáticas aumentam a força das ondas e aceleram a erosão”, o que agrava os impactos já perceptíveis no litoral carioca.
Orla em risco: vulnerabilidade estrutural e necessidade de planejamento
O Índice de Vulnerabilidade Costeira (IVC), também calculado no estudo, aponta que mais de 75% da costa entre a Bahia e o Rio Grande do Sul está em condição de alta vulnerabilidade. A orla do Rio de Janeiro figura entre os trechos mais críticos, em função da densa ocupação urbana e da baixa capacidade de adaptação. Entre as soluções viáveis apontadas pelos pesquisadores estão o engordamento artificial de praias, a instalação de recifes artificiais e a construção de moles, desde que fundamentadas em estudos técnicos rigorosos.
Casos como o de Balneário Camboriú, onde o alargamento da faixa de areia não impediu o avanço do mar, ilustram os limites dessas intervenções. Assad alerta para a importância de incluir eventos extremos no planejamento urbano e costeiro. “Eventos extremos vão se tornar mais frequentes e intensos”, adverte.
Alerta científico: agir agora é imperativo
O estudo foi realizado com o modelo ROMS (Regional Ocean Modeling System), baseado no cenário climático RCP4.5, utilizado pelo IPCC da ONU. A simulação permite prever o impacto do aquecimento global no litoral do Rio de Janeiro e reforça a urgência de ações tanto em escala local quanto global para mitigar os prejuízos climáticos.
A recomendação dos cientistas é objetiva: agir imediatamente. Sem políticas públicas coordenadas e investimentos em adaptação climática, o cenário para a orla do Rio de Janeiro será de perdas irreversíveis para o ecossistema e para a infraestrutura urbana.
O Diário Carioca Esclarece
O que é erosão costeira?
Processo de desgaste das faixas litorâneas causado por ondas, marés, ventos e mudanças climáticas, agravado por ocupações urbanas.
O que é o modelo RCP4.5?
Cenário climático intermediário do IPCC que prevê estabilização de emissões de gases de efeito estufa até meados do século.
O que é engordamento artificial de praias?
Técnica de ampliação da faixa de areia por meio de aterros controlados, usada para conter o avanço do mar, mas com efeitos limitados.
FAQ
Quais praias do Rio de Janeiro estão mais ameaçadas?
Copacabana, Ipanema, Leblon e Botafogo estão entre as mais impactadas pela erosão e avanço do mar, segundo o estudo da Coppe/UFRJ.
Qual o principal fator da erosão costeira nas praias cariocas?
As mudanças climáticas, que aumentam a força das ondas, somadas à ocupação urbana, são os principais causadores do avanço do mar.
O que pode ser feito para conter o avanço do mar?
Medidas como recifes artificiais, engordamento de praias e sistemas de alerta podem ajudar, mas exigem planejamento técnico e ação imediata.