Brasília, 13 de julho de 2025 – As tarifas impostas pelos EUA sobre produtos brasileiros intensificam a aproximação estratégica entre Brasil e China, com efeitos já visíveis na indústria, comércio e diplomacia.
O tarifaço como catalisador da reconfiguração global
A decisão de Donald Trump de sobretaxar produtos brasileiros não é apenas um gesto de guerra comercial: é um marco de ruptura que empurra o Brasil para uma nova arquitetura econômica, centrada no eixo Sul-Sul. O impacto imediato se deu na indústria automotiva. Só em 2023, as importações de carros chineses somaram US$ 1 bilhão. Em 2024, triplicaram. E em 2025, antes mesmo de julho, o montante já supera os US$ 2 bilhões.
Fábricas antes controladas por montadoras europeias e norte-americanas agora operam sob bandeiras chinesas. A Great Wall Motors assumiu o polo industrial na Bahia. A BYD reconfigura linhas de produção em São Paulo. Mais do que troca de marcas, trata-se da reorganização da soberania produtiva brasileira.
EUA saem, China entra: uma presença econômica de longo prazo
Não é de hoje que os chineses disputam espaço no Brasil. Desde 2009, são nossos principais parceiros comerciais. Mas o vácuo deixado pelos Estados Unidos – hoje focados em conflitos na Ásia e no controle interno – abriu margem para investimentos massivos em energia limpa, mobilidade urbana e tecnologia de ponta. Segundo o Conselho Empresarial Brasil-China, o volume total de investimentos chineses já ultrapassa o dos EUA com folga.
A busca chinesa por alimentos, minerais e petróleo se alinha à oferta brasileira. O que parecia complementar agora ganha contornos estratégicos. Essa não é apenas uma relação comercial: é uma proposta de reordenamento do mundo a partir do Sul Global.
Washington fora do jogo: Brasil entre gigantes
Alexandre Uehara, professor de relações internacionais da ESPM, afirma que o tarifaço de Trump é um erro tático: “Os EUA subestimaram o papel regional do Brasil e deixaram a China ocupar espaços antes seus. A relação com Washington continuará, mas em outro patamar”.
A estratégia de Lula é clara. Com a campanha “Brasil Soberano”, o Planalto reativa um discurso de autonomia que vai além do marketing. É resposta direta a um cenário global em que alianças verticais perdem espaço para pactos horizontais entre países do Sul.
Desafios, resistências e a transição em curso
A aproximação com a China não é isenta de contradições. As exigências tecnológicas, padrões regulatórios e disputas comerciais no setor agrícola impõem barreiras. Mas a ausência de alternativas viáveis no Ocidente acelera esse realinhamento.
Não se trata de escolher um novo tutor, mas de construir alternativas. O Brasil não está “virando as costas” aos EUA — está reorientando sua bússola. E essa reorientação tem cor, sotaque e destino: Ásia-Pacífico.
O Carioca esclarece
Por que Trump impôs tarifas ao Brasil?
Por razões eleitorais e protecionistas. Ele mira a indústria americana e usa tarifas como instrumento político.
O Brasil está rompendo com os EUA?
Não. O governo busca manter relações com ambos, mas com maior equilíbrio e autonomia.
Quais setores lideram a aproximação com a China?
Automobilístico, energia limpa, tecnologia, mineração e agronegócio.
As fábricas chinesas estão substituindo as ocidentais?
Sim. Empresas como BYD e Great Wall estão ocupando plantas antes dominadas por montadoras europeias e americanas.
A China se tornará o principal parceiro do Brasil?
Já é desde 2009. Mas agora a relação avança do comércio para a diplomacia estratégica.