Brasília, 14 de julho de 2025 — O governo Lula decidiu que vai oficializar a adesão do Brasil à ação sul-africana na Corte Internacional de Justiça que acusa Israel de genocídio em Gaza.
A decisão, confirmada por Mauro Vieira, enterra a estratégia diplomática e eleva o embate internacional. As informações são de Mônica Bergamo do jornal Folha de S. Paulo
Brasil entra em Haia contra Israel
A diplomacia brasileira rompe o cerco da neutralidade e decide se posicionar com clareza. O Brasil será parte formal da ação movida pela África do Sul na Corte Internacional de Justiça contra o governo de Israel, acusado de genocídio contra a população palestina em Gaza. O anúncio foi feito pelo chanceler Mauro Vieira, durante entrevista à rede Al Jazeera, no mesmo fim de semana em que o país sediou a cúpula do Brics no Rio. A resposta do Itamaraty vem após meses de apelos ignorados por Tel Aviv e diante da escalada de ataques a civis. A entrada no processo coloca o Brasil, do ponto de vista jurídico e político, ao lado do Sul Global na denúncia de crimes internacionais cometidos por potências aliadas ao Ocidente.
Aposta diplomática fracassou, afirma governo
Segundo Mauro Vieira, a decisão foi tomada após “enormes esforços” diplomáticos para evitar o desfecho judicial. Fontes do Itamaraty relatam que Lula segurou a adesão até o último momento, pressionado por setores da comunidade judaica no Brasil e por temores de retaliação comercial dos Estados Unidos. Ainda assim, prevaleceu o entendimento de que a omissão diante da barbárie em Gaza tornaria o Brasil cúmplice. A iniciativa foi articulada com apoio direto de Celso Amorim, assessor da Presidência, que já defendia há meses o rebaixamento das relações com Israel e a revisão dos acordos bilaterais de livre comércio.
Genocídio não é metáfora, é denúncia formal
A ação da África do Sul foi registrada com base na Convenção para a Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio da ONU. O documento alega que as operações israelenses são sistemáticas, planejadas e dirigidas contra civis — o que caracteriza uma grave violação do direito internacional humanitário. A nova fase do conflito, descrita por diplomatas sul-africanos como “horrenda”, tornou insustentável a continuidade do silêncio brasileiro. O Brasil agora se junta a países como Bolívia, Argélia e Namíbia, que já haviam manifestado apoio explícito à ação em Haia.
Tensões com Israel e Trump se agravam
A decisão brasileira deve intensificar a crise diplomática com Israel, que nega as acusações e acusa o Brasil de “intervencionismo ideológico”. O impacto mais imediato, porém, será nas relações com os Estados Unidos. Donald Trump já havia reagido com hostilidade à política externa brasileira, impondo uma tarifa de 50% sobre produtos nacionais e acusando o STF de perseguição a “aliados ocidentais”. A adesão ao processo em Haia, nesse contexto, é lida por analistas internacionais como um gesto deliberado de confronto com o eixo Tel Aviv-Washington.
Brasil reafirma papel do Sul Global
Para o governo Lula, a decisão é coerente com a política externa baseada na justiça internacional, autodeterminação dos povos e reconstrução da ordem multipolar. A retórica do Palácio do Planalto desloca a narrativa dominante sobre o conflito: não se trata de um embate entre civilizações, mas de crimes cometidos por um Estado ocupante contra uma população sitiada. Ao apoiar a África do Sul, o Brasil não apenas denuncia o genocídio, mas também reforça o protagonismo africano nas disputas jurídicas internacionais — uma aposta clara na solidariedade Sul-Sul e na reconstrução de mecanismos multilaterais contra a impunidade das potências bélicas.
Perguntas e Respostas
O Brasil aderiu formalmente à ação contra Israel?
Sim. O anúncio foi feito por Mauro Vieira em entrevista à Al Jazeera.
O que a ação na CIJ denuncia?
Genocídio sistemático contra civis palestinos, com base em tratados da ONU.
Qual é o impacto para as relações com Israel?
O governo Lula já rebaixou as relações e deve manter embaixada sem embaixador.
E com os Estados Unidos?
As tensões aumentaram. Trump impôs tarifas ao Brasil e critica a posição brasileira.
Quem articulou a decisão?
O Itamaraty, com apoio direto de Celso Amorim e aval de Lula.