Qual a Próxima?

Donald Trump resolve se meter na fórmula da Coca-Cola

Decisão do presidente mira saúde pública, desafia o milho transgênico e agita o setor agrícola nos EUA

JR Vital - Diário Carioca
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JR Vital é jornalista e editor do Diário Carioca. Formado no Rio de Janeiro, pela faculdade de jornalismo Pinheiro Guimarães, atua desde 2007, tendo passado por...
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Donald Trump - Imagem Reprodução Youtube

Washington, 16 de julho de 2025 – Em anúncio não protocolar, Donald Trump declarou que a Coca-Cola abandonará o xarope de milho e voltará a usar açúcar de cana nos Estados Unidos. A mudança, ainda não oficializada pela empresa, tem efeitos diretos no setor agroindustrial.

Trump, o açúcar e o populismo alimentar

Na tentativa de reverter o desgaste com setores urbanos e progressistas, Trump disparou uma mensagem aparentemente banal, mas carregada de implicações políticas e econômicas. Ao prometer uma “Coca melhor”, com açúcar de cana no lugar do xarope de milho, o presidente ataca um símbolo da indústria alimentícia ultraprocessada e sinaliza alinhamento com pautas sanitárias — ao mesmo tempo em que mina os pilares do agronegócio que o sustenta no Meio-Oeste.

Coca-Cola silencia e Wall Street reage

A gigante dos refrigerantes não confirmou a substituição integral do adoçante nem detalhou se haverá uma nova fórmula para o mercado interno. Em comunicado evasivo, limitou-se a agradecer o “interesse presidencial” e prometer novidades. O mercado, porém, reagiu como se o anúncio já fosse fato consumado: ações da Archer Daniels Midland e da Ingredion — duas potências na produção de xarope de milho — despencaram. A Coca, por sua vez, manteve estabilidade, ancorada na popularidade internacional de sua versão mexicana, que já usa cana-de-açúcar.

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Xarope de milho em xeque — e o milho também

Desde os anos 1980, a Coca-Cola americana passou a ser adoçada com xarope de milho de alta frutose, produto subsidiado que viabilizou a explosão do fast food nos EUA. Essa mudança histórica moldou os hábitos alimentares do país — e também suas comorbidades crônicas, como diabetes e obesidade. Ao sugerir a reversão desse modelo, Trump rompe com um dos elos mais antigos entre o governo e o agronegócio transgênico. Estados como Iowa, Nebraska e Illinois, onde o milho reina, receberam a notícia como uma afronta à política agrícola tradicional.

Robert Kennedy Jr. e a pressão regulatória

O anúncio presidencial ocorre enquanto o secretário de Saúde, Robert F. Kennedy Jr., amplia o cerco aos ultraprocessados e intensifica a fiscalização sobre açúcares industriais. Ainda que não exista uma política consolidada contra o xarope de milho, cresce nos bastidores o impulso por rotulagem mais rígida e revisão de incentivos fiscais à produção intensiva de alimentos manipulados. Trump, que nunca foi adepto de uma agenda alimentar progressista, agora ensaia se apropriar dela — mas com um viés empresarial e personalista.

Populismo líquido com aroma de cana latino-americana

A fala de Trump também carrega uma camada simbólica inusitada: a Coca “com gosto de verdade” que ele propõe é, na prática, a versão vendida no México e importada ilegalmente por consumidores que rejeitam o sabor da fórmula americana. Essa nostalgia pelo “real sugar” é parte de um imaginário coletivo que associa o produto latino à autenticidade — e transforma uma mudança de insumo em fetiche cultural e jogada eleitoral. O presidente sabe disso. E aposta que, num país saturado de alimentos artificiais e narrativas insossas, o sabor pode ser uma arma política.

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Perguntas e Respostas sobre a Coca-Cola

Trump tem poder para mudar a fórmula da Coca-Cola?
Não. A decisão cabe exclusivamente à empresa, mas a fala presidencial pressiona politicamente.

A Coca-Cola confirmou a troca do adoçante?
Ainda não. Apenas agradeceu o interesse e disse que anunciará novidades em breve.

Por que o xarope de milho é usado nos EUA?
Por ser subsidiado, barato e parte do modelo agroalimentar dominante desde os anos 1980.

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O açúcar de cana é mais saudável?
Ambos são açúcares simples, mas o xarope de milho tem maior índice glicêmico e menor aceitação popular.

Quais empresas foram afetadas no mercado?
Archer Daniels Midland e Ingredion, grandes produtoras de xarope de milho, viram suas ações despencarem.

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JR Vital é jornalista e editor do Diário Carioca. Formado no Rio de Janeiro, pela faculdade de jornalismo Pinheiro Guimarães, atua desde 2007, tendo passado por grandes redações.