Brasília, 17 de julho de 2025 — A nova pesquisa Quaest revela que o presidente Lula (PT) ampliou seu apoio eleitoral em praticamente todos os segmentos da população após o tarifaço anunciado por Donald Trump contra produtos brasileiros.
Um tarifaço que virou combustível político
A ofensiva tarifária de Donald Trump contra o Brasil, anunciada como punição comercial, produziu um efeito colateral doméstico inesperado: fortaleceu a popularidade de Lula entre setores historicamente hesitantes ou neutros. A Quaest aponta que o presidente brasileiro não apenas estancou sua rejeição, como também expandiu seu apoio além da militância tradicional.
Entre os eleitores petistas, o apoio à reeleição saltou de 84% em maio para 90% em julho. A rejeição despencou de 15% para 9%. Mas o avanço mais expressivo ocorreu entre os que se identificam como progressistas sem vinculação partidária: apoio a Lula cresceu de 61% para 72%, enquanto a rejeição recuou de 37% para 26%.
Rejeição em queda fora da bolha bolsonarista
Mesmo nos estratos políticos mais voláteis — eleitores sem posição ideológica clara — Lula ganhou tração. Seu apoio subiu de 22% para 28%, com a rejeição caindo de 73% para 67%. O presidente também ganhou pontos entre os conservadores não alinhados ao bolsonarismo: apoio dobrou de 5% para 10%, e a rejeição caiu de 95% para 88%.
Na base mais radicalizada da extrema-direita, porém, o cenário permanece estagnado: 96% dos bolsonaristas seguem rejeitando Lula, índice praticamente inalterado desde o início do ano.
Liderança sólida nos dois turnos
O levantamento da Quaest confirma que, com ou sem tarifaço, Lula segue na dianteira em todos os cenários simulados de primeiro turno para as eleições de 2026. O dado mais sensível surge no segundo turno: o único adversário que aparece tecnicamente empatado com o petista é Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo. Ainda assim, Lula mantém vantagem numérica.
Tarifaço como divisor de águas
A retaliação econômica de Trump, apresentada por ele como gesto de “defesa dos empregos americanos”, teve efeito oposto no Brasil. A ofensiva foi lida, majoritariamente, como agressão externa e gerou uma onda de solidariedade interna ao governo. Economistas apontam que o episódio expôs, mais uma vez, a fragilidade da inserção brasileira nos acordos comerciais internacionais — e ofereceu a Lula a oportunidade de se reposicionar como defensor da soberania nacional.
Ao capitalizar politicamente a crise, o Planalto transformou um gesto de hostilidade em plataforma eleitoral. E ao contrário de 2022, Lula agora entra na disputa com parte do centro desmobilizado e uma direita fragmentada.
O bolsonarismo perdeu a exclusividade da pauta nacionalista?
A resposta pode estar no efeito imediato do tarifaço. Durante anos, a retórica “Brasil acima de tudo” foi monopolizada por Bolsonaro e seus aliados. Mas em 2025, a imagem de um presidente brasileiro desafiando a imposição de sanções estrangeiras — sem ruptura institucional ou espetáculo golpista — redesenha o campo simbólico da soberania. Lula, ao reagir com firmeza ao ataque comercial norte-americano, ocupou esse espaço com legitimidade.
A nova disputa será por narrativas de proteção nacional: não mais com tanques nas ruas, mas com acordos, tarifas e diplomacia multilateral.
Perguntas e Respostas
O que motivou o tarifaço de Trump contra o Brasil?
Trump alega defesa da indústria americana, mas especialistas apontam intenção eleitoral e punição por acordos do Brasil com a China.
O tarifaço prejudicou a imagem de Lula?
Não. Pelo contrário: a crise fortaleceu o presidente, segundo a pesquisa Quaest.
Quais grupos mais ampliaram o apoio a Lula?
Eleitores de esquerda não-petista, indecisos e até conservadores fora do bolsonarismo.
Lula venceria em 2026 se a eleição fosse hoje?
Sim. A pesquisa mostra que ele lidera em todos os cenários de primeiro turno e vence todos no segundo — com um empate técnico contra Tarcísio.
O tarifaço reativou o sentimento nacionalista?
Sim, mas agora sob outra chave: não militar, mas diplomática. Lula usou o episódio para reforçar o discurso de soberania.