Brasília, 20 de julho de 2025 — Cercado por investigações, alvo da Polícia Federal e com uma tornozeleira no tornozelo, Jair Bolsonaro se vê abandonado por aliados do Centrão, que nada mais é que uma direita mais frouxa e envergonhada de assumir suas reais ideologias.
A debandada coincide com o desgaste provocado pelas tarifas impostas por Donald Trump ao Brasil — defendidas por seu filho Eduardo — e reacende a disputa interna por uma nova liderança da direita em 2026.
A direita tradicional se cansa do fardo político que Bolsonaro se tornou. O que começou como recuo estratégico já é tratado por dirigentes do União Brasil, MDB e PP como ruptura inevitável. As imagens do ex-presidente monitorado eletronicamente, somadas à submissão vexatória ao governo Trump, aceleraram o processo.
No Congresso, a ordem é clara: construir uma alternativa viável ao bolsonarismo sem que o núcleo duro bolsonarista imploda a direita por dentro.
Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, desponta como favorito — não por mérito próprio, mas por exclusão do desastre.
Soberania negociada a preço de alumínio
A gota d’água foi a postura do clã Bolsonaro diante da imposição de tarifas de 50% por parte dos Estados Unidos. Enquanto o país sofria retaliações econômicas, Eduardo Bolsonaro elogiava Trump, atacava o Supremo Tribunal Federal e reiterava teses conspiratórias.
A reação do Centrão foi silenciosa, mas definitiva: “Não dá mais”, confessou um dirigente do PP. Para os articuladores da direita institucional, Bolsonaro virou um passivo eleitoral — um entrave à viabilidade de qualquer chapa de centro-direita.
Tarcísio, que até aqui caminhava com cautela para não desagradar o ex-chefe, agora já articula por fora, com bênçãos discretas do União Brasil e do MDB.
Comando fragmentado, plano improvisado
Sem apoio formal e sem condições jurídicas claras, Bolsonaro tenta manter influência por meio de encontros reservados. Nas últimas 72 horas, reuniu-se com Ciro Nogueira (PP), Valdemar Costa Neto (PL) e Antônio Rueda (União Brasil). Saiu sem garantias.
Além disso, a situação de Eduardo Bolsonaro agrava o quadro: sua licença parlamentar expira nesta semana, e ele segue nos Estados Unidos. Caso não retorne, poderá ter faltas não justificadas registradas, o que provocaria ainda mais desgaste. O presidente da Câmara, Hugo Motta, já sinalizou que não pretende intervir.
Na pauta da extrema direita, a anistia aos golpistas de 8 de janeiro virou miragem. Nem mesmo a bancada mais fiel acredita que a proposta avançará sob a atual correlação de forças.
Michelle e o papel de vitrine
Damares Alves anunciou que Michelle Bolsonaro será a nova líder pública da oposição. Mas o gesto é protocolar: sem mandato, sem partido próprio e sem estrutura, a ex-primeira-dama deverá ser usada como figura de vitrine para manter o bolsonarismo mobilizado, enquanto as negociações reais caminham na direção de Tarcísio.
Nos bastidores, até aliados fiéis admitem que o projeto de poder de Bolsonaro chegou ao limite — sufocado por investigações, sabotado por seus próprios filhos e atropelado por um realinhamento geopolítico que o transformou em peça descartável.
Perguntas e Respostas
Bolsonaro será candidato em 2026?
Hoje, a tendência é que não. O Centrão trabalha por um nome de consenso, como Tarcísio.
O apoio do PL continua firme?
Não. Valdemar Costa Neto negocia uma transição sem traumas, mas já admite outro nome.
Eduardo Bolsonaro perderá o mandato?
Ainda não. Mas, se continuar ausente sem justificativa, poderá ser punido pela Câmara.
Michelle Bolsonaro pode liderar a oposição?
Não há estrutura política para isso. Seu papel, por ora, é simbólico.
Quem lidera as articulações da direita?
União Brasil, MDB e PP, que buscam isolar Bolsonaro e viabilizar Tarcísio.