Retaliação

Aliados de Bolsonaro querem Trump contra Hugo Motta

Grupo pressiona pela revogação do visto do presidente da Câmara após recusa em pautar anistia do 8 de Janeiro

JR Vital
por
JR Vital
JR Vital é jornalista e editor do Diário Carioca. Formado no Rio de Janeiro, pela faculdade de jornalismo Pinheiro Guimarães, atua desde 2007, tendo passado por...
© Lula Marques/Agência Brasil

Brasília, 22 de julho de 2025 — Após frustrar a votação da anistia aos condenados pelo 8 de Janeiro, o deputado Hugo Motta (Republicanos-PB) virou alvo da extrema direita, que agora articula um pedido para que Donald Trump revogue seu visto norte-americano.

Bolsonarismo reage com chantagem diplomática contra presidente da Câmara
A guerra política do bolsonarismo contra as instituições democráticas ganhou mais um episódio grotesco. Lideranças do grupo já articulam nos bastidores um pedido informal ao governo de Donald Trump para que o visto do deputado Hugo Motta, presidente da Câmara, seja revogado. A proposta, em tom de ameaça, circula como punição por Motta ter se recusado a pautar a anistia aos golpistas do 8 de Janeiro antes do recesso.

A tentativa de envolver um governo estrangeiro — ainda que simbólica — revela o grau de descolamento político e institucional do bolsonarismo. O objetivo é intimidar, humilhar e impor um alinhamento forçado a qualquer liderança que ouse contrariar os interesses do grupo. Hugo Motta, até então considerado neutro, tornou-se alvo após não ceder à pressão explícita de Eduardo Bolsonaro e da ala mais radical do PL.

Extrema direita age fora das regras para manter Bolsonaro no centro do jogo
A pressão sobre Motta aumentou depois que ele também recusou o pedido da oposição para suspender o recesso parlamentar em razão das medidas cautelares impostas a Jair Bolsonaro. O ex-presidente, agora monitorado por tornozeleira eletrônica, ainda circula na Câmara, afrontando restrições judiciais e estimulando desobediência institucional.

Mesmo proibido de usar redes sociais e com ordens judiciais claras de recolhimento, Bolsonaro é esperado nesta terça-feira em novos atos de apoio organizados dentro da própria Câmara — uma afronta direta ao Supremo Tribunal Federal. A presença contínua do ex-mandatário no Parlamento, mesmo sem cargo, é parte da estratégia de criar instabilidade permanente e desgastar quem não se curva à sua tutela.

Motta ignorado por aliados, comissões convocadas à revelia
A decisão de Motta de manter o recesso parlamentar não impediu que deputados bolsonaristas convocassem sessões de comissões sob seu controle, como as de Segurança Pública e Relações Exteriores. Em ambas, a pauta foi moldada para atacar o STF e sustentar politicamente Bolsonaro, com moções de repúdio e declarações de apoio explícito.

O presidente da Câmara foi informado apenas após a convocação. O líder do PL na Casa, Sóstenes Cavalcante (RJ), relatou que avisou Motta por telefone no sábado, sem pedir autorização. A lógica é a do fato consumado: criar tensão, desafiar a autoridade institucional e impor a narrativa de que quem não age por Bolsonaro, age contra ele.

A tentativa de envolver Donald Trump em uma retaliação política contra um deputado brasileiro não é apenas um ultraje à soberania nacional. É parte de uma estratégia autoritária transnacional, que instrumentaliza relações diplomáticas para subjugar adversários internos. A democracia brasileira está, mais uma vez, sendo desafiada por forças que recusam o resultado das urnas, desprezam a ordem constitucional e fazem da chantagem uma tática cotidiana.

Hugo Motta não é um herói — é um presidente da Câmara hesitante e tardio. Mas, ao recusar pautar uma anistia vergonhosa e não suspender o recesso, ele se tornou alvo da lógica bolsonarista que exige fidelidade cega e castiga qualquer gesto de autonomia. A esquerda, os movimentos sociais e a sociedade civil precisam compreender o que está em jogo: não se trata de disputas regimentais, mas da própria sobrevivência das instituições democráticas diante de um projeto que opera por sabotagem e intimidação.

Quadro técnico – Perguntas e Respostas

Por que Hugo Motta virou alvo dos bolsonaristas?
Por não pautar a anistia aos golpistas do 8 de Janeiro antes do recesso.

O que os bolsonaristas querem de Trump?
Que revogue o visto americano de Hugo Motta, como retaliação simbólica.

Bolsonaro respeitou as medidas judiciais?
Não. Mesmo com tornozeleira e restrições, circula na Câmara e participa de atos.

As comissões bolsonaristas seguiram o recesso?
Não. Foram convocadas sessões extraordinárias com pautas contra o STF.

Motta autorizou essas sessões?
Não. Foi apenas comunicado por telefone, após a decisão dos deputados.

Seguir:
JR Vital é jornalista e editor do Diário Carioca. Formado no Rio de Janeiro, pela faculdade de jornalismo Pinheiro Guimarães, atua desde 2007, tendo passado por grandes redações.