Brasília, 22 de julho de 2025 — Eduardo Bolsonaro utilizou recursos da Câmara para alugar um Jeep Commander no Brasil mesmo após deixar o país rumo aos Estados Unidos, em fevereiro. O contrato foi firmado com empresa ligada a ex-assessor do próprio deputado. As informações são do jornalista Hugo Souza, do Come Ananás e foram confirmadas pelo Diário Carioca.
Aluguel com verba pública: deputado no exterior, carro em Brasília
Eduardo Bolsonaro (PL-SP), ausente do país desde 27 de fevereiro de 2025, continua recebendo reembolsos mensais da Câmara dos Deputados por gastos com aluguel de veículo no Brasil. Segundo registros públicos, ele utilizou R$ 8 mil da Cota para o Exercício da Atividade Parlamentar (CEAP) em março para alugar um Jeep Commander em Brasília — embora estivesse morando nos Estados Unidos desde o mês anterior.
O carro foi contratado junto à Novacar Locadora de Veículos Ltda, empresa cujo administrador registrado na Receita Federal é Joel Novaes da Fonseca — ex-assessor de Eduardo e de Jair Bolsonaro, além de ex-funcionário da Presidência durante o governo anterior.
Empresa-fantasma e relações cruzadas com o bolsonarismo
A Novacar, que aparece como beneficiária dos repasses, não tem site, não mantém redes sociais ativas e funciona apenas com endereço fiscal num coworking na W3 Norte, em Brasília. Quando visitado pela reportagem, o espaço confirmou que não há presença física da locadora nas instalações.
A estrutura opaca da empresa, somada ao vínculo direto com o grupo Bolsonaro, expõe mais um capítulo de promiscuidade entre recursos públicos e negócios de aliados. Joel Fonseca, que já assessorou o deputado e o ex-presidente, tem longa trajetória no entorno do bolsonarismo institucional.
Durante sua atuação no Palácio do Planalto, sua família já operava o aluguel de carros para congressistas — por meio da Locar1000, registrada em nome da esposa e da filha. Hoje, a Novacar parece ter herdado essa clientela, sobretudo entre parlamentares do PL.

Reembolso em série: carro, combustível e pedágios
Os dados oficiais da Câmara revelam que, mesmo após o deputado anunciar sua mudança definitiva para os EUA, em março, a verba parlamentar continuou a ser usada para cobrir despesas típicas de quem está em atuação no território nacional.
O contrato de aluguel de março foi emitido no dia 5 daquele mês. Já em fevereiro, a nota data de 4 de fevereiro — ou seja, apenas seis dias antes da viagem internacional. Em ambos os casos, parte dos valores foi glosada pela Casa: R$ 2.666,66 foram recusados em cada nota, o equivalente a um terço do total solicitado.
O gabinete de Eduardo também declarou gastos com combustíveis e pedágios rodoviários nesse mesmo período, ainda que o parlamentar já estivesse articulando alianças internacionais nos Estados Unidos.

Deputado de fora, verba dentro: ataque ao país com dinheiro do país
A permanência de Eduardo Bolsonaro nos EUA tem caráter político explícito. Desde que desembarcou, intensificou seus laços com setores da extrema-direita norte-americana e se assumiu como “embaixador informal” do bolsonarismo no exterior.
Foi dele a articulação para trazer ao Brasil a versão local da CPAC — conferência ultraconservadora alinhada ao trumpismo. Agora, vive permanentemente nos EUA, segundo ele mesmo declarou em março, sob o argumento de que estaria lutando pela anistia dos condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023.
Enquanto transforma o mandato em plataforma para deslegitimar as instituições brasileiras em solo estrangeiro, Eduardo segue financiado por dinheiro público — inclusive para alugar carros que ele sequer utiliza.
Jeep de luxo pago pelo povo, de novo
O veículo alugado — Jeep Commander — é um SUV de alto padrão. Em sua versão mais completa, pode ultrapassar R$ 340 mil. O modelo chegou a ser apelidado por apoiadores do deputado de “Blackhawk Hurricane”, em referência a um helicóptero militar norte-americano.
A ironia histórica é inevitável: em 2018, Eduardo dizia que “para fechar o STF, bastava um soldado e um cabo, não precisava nem de um jipe”. Sete anos depois, parece que o jipe se tornou essencial — não para golpe algum, mas para manter o conforto de um parlamentar que abandonou o Brasil e segue desmoralizando os recursos públicos do país que diz representar.
Perguntas e Respostas
Eduardo Bolsonaro pode usar verba da Câmara mesmo morando fora?
Pelas regras da CEAP, assessores podem realizar gastos em nome do mandato, mas é preciso comprovar vínculo com atividades parlamentares — o que não ocorre neste caso.
Quem é o dono da empresa que alugou o carro?
A Novacar é administrada por Joel Novaes da Fonseca, ex-assessor de Eduardo Bolsonaro e de Jair Bolsonaro.
A empresa tem sede física?
Não. Usa apenas um endereço fiscal em coworking em Brasília e não tem site nem redes sociais.
Eduardo Bolsonaro se pronunciou?
Até o fechamento desta matéria, o deputado e sua assessoria não responderam aos questionamentos enviados.
Por que Eduardo está nos EUA?
O deputado anunciou mudança definitiva em março para “lutar pela anistia” dos envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro, e mantém alianças com grupos trumpistas.




