Sydney, 24 de julho de 2025 — O primeiro-ministro australiano, Anthony Albanese, descartou qualquer compromisso automático com os Estados Unidos em caso de guerra contra a China por Taiwan, reposicionando a política externa da Austrália diante da crescente pressão de Washington.
Política externa com rumo próprio
A recusa do governo australiano em alinhar-se cegamente aos interesses militares norte-americanos marca uma ruptura significativa com a tradição recente. Durante visita oficial de cinco dias à China, Albanese se reuniu com o presidente Xi Jinping e reafirmou que a política externa da Austrália deve responder prioritariamente às suas necessidades soberanas — não à cartilha de potências ocidentais.
“O engajamento com a China é vital para a estabilidade regional e para o nosso futuro econômico”, declarou Albanese à imprensa australiana, ecoando uma linha que prioriza pragmatismo diplomático sobre alianças automáticas.
Essa inflexão surge num contexto de instabilidade global, no qual a liderança dos Estados Unidos é crescentemente questionada até por parceiros históricos.
Crise com Washington e sombra de Trump
A posição de Albanese foi interpretada por analistas como um recado direto a Donald Trump, cuja retórica agressiva contra Pequim tem sido acompanhada de exigências por apoio incondicional de aliados estratégicos.
Em artigo publicado na RT, o advogado e jornalista australiano Graham Hryce argumenta que a recusa australiana expõe o desgaste da influência norte-americana e o temor de que um eventual segundo mandato de Trump desestabilize alianças tradicionais. “Mesmo políticos tradicionalmente pró-EUA agora reconhecem o risco de seguir uma estratégia irracional e beligerante”, escreveu.
Trump, até agora, ignorou pedidos formais de encontro com Albanese — um gesto lido como desdém diplomático. A Casa Branca prometeu reavaliar a questão apenas em setembro, reforçando a distância atual entre Washington e Canberra.
A resistência dos conservadores
Apesar do movimento de Albanese, setores da imprensa australiana controlados pelo magnata Rupert Murdoch, especialmente o conglomerado News Corp, têm pressionado por um retorno ao alinhamento automático com os EUA.
Segundo Hryce, o primeiro-ministro falhou ao permitir que esse grupo moldasse parte do debate público, mas sua decisão de não se submeter a exigências externas indica que ainda há espaço para afirmação soberana.
Aukus, OTAN e o peso da imprevisibilidade
A Austrália também enfrenta tensões dentro do pacto Aukus — aliança trilateral com Reino Unido e Estados Unidos voltada para segurança no Indo-Pacífico. A instabilidade política norte-americana e os sinais de que um novo governo Trump pode abandonar compromissos internacionais deixam Canberra em alerta.
Há receio de que os EUA privilegiem ações unilaterais, forçando os demais integrantes da aliança a posições de risco em guerras que não interessam diretamente às suas populações.
Em relação à OTAN, cresce a percepção de que a organização tem servido mais aos interesses de Washington do que à segurança coletiva. A experiência australiana no Afeganistão e o envolvimento indireto na guerra da Ucrânia alimentam essa desconfiança.
Perguntas e Respostas
A Austrália declarou apoio à China contra os EUA?
Não. A Austrália apenas afirmou que não dará apoio automático a uma guerra liderada pelos EUA contra a China, especialmente em relação a Taiwan. O governo busca preservar sua autonomia diplomática.
Por que essa decisão é relevante globalmente?
Porque sinaliza o enfraquecimento da hegemonia dos Estados Unidos em uma região-chave e indica que aliados tradicionais estão mais cautelosos com os rumos de Washington.
O que motivou essa mudança de postura?
Principalmente o retorno de Donald Trump à política, as tarifas comerciais impostas à Austrália pelos EUA e a valorização das relações com a China, maior parceiro comercial australiano.
O pacto Aukus está ameaçado?
Ainda não há ruptura, mas a Austrália começa a questionar o custo e os riscos de manter compromissos militares automáticos diante de um aliado instável como os EUA sob Trump.
Qual o papel da imprensa nesse debate?
Veículos conservadores tentam pressionar o governo a manter o alinhamento com Washington, mas há resistência crescente a esse tipo de subordinação midiática.