Brasília, 4 de agosto de 2025 — A prisão domiciliar de Jair Bolsonaro (PL), determinada pelo ministro Alexandre de Moraes do Supremo Tribunal Federal (STF), foi motivada por uma série de ações coordenadas de seus filhos, especialmente Eduardo e Flávio Bolsonaro, que teriam desrespeitado decisões judiciais e usado as redes sociais para pressionar e coagir o Judiciário brasileiro. A decisão inclui publicações e vídeos que mostram o ex-presidente, mesmo impedido por medidas cautelares, participando de manifestações.
Eduardo Bolsonaro foi aos EUA pedir ajuda contra Moraes
Segundo a decisão do STF, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) se licenciou do mandato e viajou aos Estados Unidos para pleitear apoio político ao ex-presidente e buscar sanções contra Alexandre de Moraes.
Em postagens nas redes sociais, Eduardo compartilhou vídeos e textos em inglês com críticas diretas ao ministro, incluindo pedidos públicos para que o governo norte-americano “tomasse providências” contra o que chamou de “perseguição judicial” à sua família. Moraes interpretou a iniciativa como tentativa internacional de coação ao STF, o que, segundo ele, caracteriza obstrução de Justiça.
“Apoiadores políticos de Jair Messias Bolsonaro e seus filhos, deliberadamente, utilizaram as falas e a participação — ainda que por telefone e pelas redes sociais — do réu para a propagação de ataques […] com a nítida intenção de pressionar e coagir esta Corte Suprema”, escreveu Moraes.
Essa conduta foi determinante para a imposição do uso de tornozeleira eletrônica a Jair Bolsonaro. O dispositivo foi instalado após sua aparição em um vídeo durante um ato político, o que indicava descumprimento das cautelares.
Flávio postou vídeo de Bolsonaro em ato e depois apagou
A decisão de Moraes também destaca a atuação do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que publicou em suas redes um vídeo no qual Jair Bolsonaro aparece com tornozeleira eletrônica, enviando uma mensagem gravada para os manifestantes que se reuniram em Copacabana, no domingo (3).
Na gravação, Bolsonaro diz:
“Boa tarde Copacabana, boa tarde meu Brasil, um abraço a todos. É pela nossa liberdade, estamos juntos. Obrigado a todos, é pela nossa liberdade, pelo nosso futuro, pelo nosso Brasil. Sempre estaremos juntos! Valeu!”
Horas depois, Flávio apagou a publicação, mas a prova já havia sido registrada por investigadores do STF. Moraes entendeu que a divulgação da fala violava diretamente as condições impostas a Bolsonaro, especialmente a de não se manifestar politicamente nem participar de eventos públicos, ainda que de forma remota.
Filhos ignoraram restrições e atuaram em rede
Outro vídeo ainda disponível nos perfis do senador mostra Flávio discursando em um palanque com a legenda: “Obrigado, Estados Unidos, por ajudar a resgatar a nossa democracia”. A postagem reforça a narrativa de apoio estrangeiro contra instituições brasileiras, o que Moraes considera inaceitável e potencialmente golpista.
O terceiro filho do ex-presidente citado na decisão é Carlos Bolsonaro, vereador do Rio de Janeiro. Moraes aponta que Carlos, mesmo ciente da proibição judicial, estimulou seguidores a seguir o perfil de Jair Bolsonaro nas redes sociais — descumprindo as restrições impostas ao pai.
Veja os conteúdos citados na decisão de Moraes
Publicações de Eduardo Bolsonaro:
- Viagens aos EUA com agenda pública para denunciar Alexandre de Moraes;
- Pedido explícito por sanções internacionais contra o ministro do STF;
- Compartilhamento de vídeos com ataques ao Judiciário em inglês.
Publicações de Flávio Bolsonaro:
- Vídeo de Jair Bolsonaro com tornozeleira eletrônica, falando aos manifestantes;
- Apagamento posterior da publicação, apontado como tentativa de omissão de prova;
- Post com agradecimento aos EUA por “ajuda à democracia brasileira”.
Publicação de Carlos Bolsonaro:
- Incentivo para que seus seguidores voltassem a seguir Jair Bolsonaro, burlando decisão judicial que proíbe o ex-presidente de manter perfis ou se comunicar por redes sociais.
A quem Bolsonaro culpará agora?
Durante toda sua carreira política, Jair Bolsonaro defendeu seus filhos com veemência. Em uma das frases mais lembradas, declarou:
“Mexeu com um dos meus, mexeu comigo. Eu morro pelos meus filhos.”
Agora, é a atuação dos filhos que encurrala Bolsonaro juridicamente. Eduardo, ao internacionalizar o conflito com o STF, e Flávio, ao divulgar imagens proibidas, fortaleceram o argumento de Moraes de que há uma ação coordenada para burlar decisões judiciais e intimidar a Corte.
A ironia é inevitável: os filhos que Bolsonaro sempre protegeu agora se tornam protagonistas nas decisões que o isolam politicamente e o colocam sob vigilância judicial permanente.
A pergunta que emerge nas redes e nos bastidores de Brasília é direta e desconcertante:
Qual dos filhos será o responsável por mandar Bolsonaro para a cadeia definitiva?