Brasília, 6 de agosto de 2025 — O avanço da mobilização bolsonarista no Congresso Nacional tem causado crescente desconforto entre as lideranças do Legislativo. Nesta quarta-feira (6), os presidentes da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado Federal, Davi Alcolumbre (União-AP), expressaram irritação com as tentativas de aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) de impor sua pauta por meio de pressão direta e ameaças públicas.
Nos bastidores, interlocutores próximos aos dois presidentes relatam incômodo com as atitudes de parlamentares como o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que teria feito ameaças veladas durante reuniões e entrevistas. A avaliação conjunta é que há um esforço deliberado para paralisar os trabalhos do Congresso e forçar a tramitação de propostas de interesse do bolsonarismo, como o projeto de anistia aos investigados pelos atos golpistas de 8 de janeiro e os pedidos de impeachment contra ministros do STF, especialmente Alexandre de Moraes.
Congressistas pressionam; cúpula rejeita chantagem
O movimento de obstrução teve início após a decretação da prisão domiciliar de Jair Bolsonaro, determinada por Moraes no último dia 4. Desde então, deputados e senadores bolsonaristas intensificaram protestos, discursos e ações performáticas no plenário, como o ato em que Magno Malta (PL-ES), Eduardo Girão (Novo-CE) e Hélio Lopes (PL-RJ) se acorrentaram à mesa do Senado.
A resposta da cúpula do Congresso tem sido firme. Apesar de evitar confrontos diretos, Alcolumbre e Lira passaram a articular medidas para isolar o grupo e garantir o funcionamento das comissões e das votações, mesmo com o clima de tensão. Segundo aliados, ambos consideram a tentativa de subordinar o Legislativo aos interesses de uma corrente política específica como uma ameaça ao equilíbrio institucional.
Discurso de Eduardo Bolsonaro eleva tensão
A irritação aumentou após declarações do deputado Eduardo Bolsonaro, que em entrevista nesta semana sugeriu que “o povo pode invadir de novo se for ignorado”. A fala foi interpretada por lideranças como incitação à desordem e elevou o tom das discussões internas sobre possíveis medidas disciplinares ou jurídicas.
Segundo relatos, Lira classificou o comportamento como “inaceitável” e estuda uma resposta institucional, que pode envolver o Conselho de Ética da Câmara. Já Alcolumbre, que tem conduzido a retomada das comissões no Senado, foi descrito como “furioso” com a tentativa de sabotagem do funcionamento da Casa.
O clima entre os presidentes das duas Casas é de convergência: não ceder à pressão, garantir o funcionamento do Parlamento e preservar a institucionalidade frente ao que consideram uma escalada autoritária.
Reação institucional deve marcar próximos dias
O endurecimento do discurso de Alcolumbre e Lira indica que o Congresso pode reagir formalmente às ameaças bolsonaristas. Uma das possibilidades em estudo é a instauração de procedimentos internos contra os parlamentares que incitarem o descumprimento das regras regimentais ou atentarem contra o decoro parlamentar.
Além disso, lideranças partidárias já foram acionadas para conter seus membros. A avaliação é que a crise não pode contaminar a pauta legislativa, especialmente com projetos importantes em tramitação, como o que amplia a faixa de isenção do Imposto de Renda.
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