Mensagens interceptadas pela Polícia Federal (PF) expuseram o vínculo financeiro entre o ex-deputado estadual Thiego Raimundo dos Santos Silva, conhecido como TH Joias, e integrantes do Comando Vermelho, a maior facção criminosa do Rio de Janeiro.
Segundo as investigações, o traficante Gabriel Dias de Oliveira, o Índio, repassou R$ 148 mil a TH Joias e prometeu mais R$ 90 mil ao advogado Alessandro Pitombeira Carracena, ex-secretário estadual de Esportes. A PF estima que o grupo movimentou cerca de R$ 140 milhões desde 2020, em um esquema que envolve tráfico de drogas, corrupção e lavagem de dinheiro.
Imagens e repasses milionários
Preso em um condomínio de luxo na Barra da Tijuca, TH Joias já havia sido investigado em 2017 por crimes semelhantes. Em uma das imagens obtidas pela polícia, ele aparece sobre uma cama repleta de cédulas, somando cerca de R$ 5 milhões em espécie.
As mensagens também detalham repasses diretos: “100 mil do Mano mais 48 mil. 148 mil tô te dando. E vou te dar mais 90 mil para dar a Carracena”, escreveu Índio em conversa interceptada. Em outro diálogo, há queixas sobre operações policiais que, segundo a PF, teriam sido antecipadas por Carracena.
Além disso, a investigação aponta que TH enviou US$ 1,7 milhão ao foragido Luciano Martiniano da Silva, o Pezão, um dos chefes históricos do Comando Vermelho.
Política e crime organizado
A situação de Carracena chama atenção pela interseção entre política e crime. Ex-secretário de Esportes e advogado, ele teria usado influência política para obter e repassar informações sobre operações em áreas controladas pela facção. No relatório, a PF afirma que ele “transcendeu os limites da advocacia” ao atuar diretamente em benefício do grupo criminoso.
Operação e prisões
A ofensiva foi conduzida pela PF, em parceria com o Ministério Público e a Polícia Civil do Rio, e também prendeu Luiz Eduardo Cunha Gonçalves, o Dudu, ex-assessor de TH Joias.
As defesas, por sua vez, negam envolvimento nos crimes. A de TH classificou as acusações como “absurdas” e alegou que as fotos com dinheiro seriam apenas “cenografia para atrair jogadores e artistas”. Já os advogados de Carracena sustentam que ele foi citado apenas em mensagens de terceiros, sem provas materiais de sua participação.
Risco à soberania e poder paralelo
O caso expõe, mais uma vez, como o crime organizado se infiltra em espaços políticos e movimenta cifras bilionárias em paralelo ao Estado, corroendo instituições e ampliando sua rede de influência. A manutenção desse poder paralelo evidencia não apenas falhas na repressão, mas também a relação histórica entre setores da política fluminense e o crime organizado.