A atriz e diretora Irene Ravache viralizou nas redes sociais nesta quarta-feira (17) com um vídeo de protesto contra a PEC da Blindagem — aprovada pela Câmara dos Deputados na terça-feira (16) — onde satiriza com ironia afiada os privilégios concedidos aos parlamentares. No monólogo, Ravache declara: “Olá. Você sabia que eu sou melhor que você? Eu sou porque eu posso fazer coisas que você não pode. Eu posso cometer vilanias. Ah, fazer pequenos, médios, grandes crimes. Você não pode”.
O vídeo, que já foi compartilhado por milhares de usuários, chega no momento em que a proposta — apelidada de “PEC da Bandidagem” — gera revolta generalizada na sociedade civil. O texto, articulado pelo Centrão e pela extrema-direita, estabelece que deputados e senadores só poderão ser investigados criminalmente com autorização do Congresso, em votações secretas — criando um sistema de impunidade institucionalizada.
A ironia como arma política
Ravache, com precisão cirúrgica, expõe o núcleo do problema:
“Não pode porque você vai ser investigada, né? Mas eu posso. Eu sou bem superior a você, meu bem. Por quê? Porque eu sou atriz. Não, boba. Não. É porque eu sou deputada. Quem disse isso? Quem garante isso? O congresso, o nosso congresso, viu?”
A fala captura a essência do sentimento popular: o Congresso aprovou uma medida que coloca seus membros acima da lei e acima dos cidadãos que representam. A “superioridade” ironizada por Ravache é a da impunidade.
O que a PEC da Blindagem realmente faz
A proposta aprovada na Câmara:
- Exige autorização prévia do Congresso para investigar parlamentares;
- Estabelece votações secretas para processos e prisões;
- Cria uma casta intocável de políticos blindados judicialmente;
- Viola o princípio republicano da igualdade perante a lei.
Críticos apontam que a medida retorna o país ao cenário pré-2001, quando o Congresso barrou 253 pedidos de investigação e autorizou apenas um processo contra parlamentares em 13 anos.
Reações: da sociedade civil ao Senado
O vídeo de Ravache não é um caso isolado. A PEC desencadeou uma onda de protestos de:
- Juristas e constitucionalistas;
- Movimentos sociais e entidades de direitos humanos;
- Parlamentares da oposição;
- Artistas e intelectuais.
Agora, a proposta segue para o Senado, onde promete enfrentar resistência — mas também pressão dos mesmos grupos que a aprovaram na Câmara.
Por que a sátira importa
Em um contexto onde a política formal falha, a cultura assume papel crucial de denúncia. Ravache — assim como outros artistas — usa sua visibilidade para:
- Traduzir complexidades jurídicas em linguagem acessível;
- Mobilizar o debate público;
- Confrontar o discurso oficial com humor ácido.
Seu vídeo é mais que entretenimento: é um ato político em defesa da democracia.