A organização Autistas Brasil divulgou nota de repúdio às declarações do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que associou o uso de Tylenol durante a gravidez e a vacinação infantil ao desenvolvimento do autismo.
Durante coletiva na Casa Branca, Trump afirmou que bebês seriam “carregados” com até 80 vacinas “de uma só vez” e recomendou que grávidas evitem o paracetamol. A FDA (equivalente à Anvisa) confirmou que atualizará informações sobre o medicamento, mas reforçou que não existe comprovação científica de relação causal entre paracetamol e autismo.
“Lógica eugenista”
Segundo o vice-presidente da entidade, Arthur Ataide Ferreira Garcia, as falas de Trump integram um “projeto político de apagamento” das pessoas com deficiência.
“Trump e Kennedy não estão apenas equivocados quando falam que o autismo é causado pelo uso de Tylenol, não é meramente um erro, é um projeto político. Estão reintroduzindo no século XXI a lógica eugenista que trata pessoas com deficiência como tragédia”, afirmou Garcia.
A nota denuncia que tais discursos reduzem pessoas autistas a “sujeitos desumanizados numa cruzada moral em nome de uma sociedade ‘pura’ e homogênea”.
Diagnóstico não é epidemia
A entidade destacou que o aumento nos diagnósticos de autismo nas últimas décadas não representa uma epidemia, mas sim o resultado do maior acesso a avaliação e diagnóstico, especialmente entre grupos historicamente invisibilizados, como mulheres autistas e pessoas negras.
Garcia lembrou ainda que não há evidências científicas robustas que sustentem ligação entre paracetamol, vacinas e autismo:
“Até o momento, não há ensaios clínicos randomizados, metanálises robustas ou grandes estudos populacionais que apontem uma relação real. O que vemos é uma estratégia deliberada de transformar nossa condição em um mal a ser combatido.”
Risco no Brasil
A Autistas Brasil alerta que esse tipo de narrativa já encontra ressonância no país, em setores ligados ao lobby de clínicas privadas que defendem a “cura” do autismo. Para a organização, isso ameaça a construção de políticas públicas inclusivas.
“O autismo não é doença e não precisa de cura. O que a sociedade deve buscar são políticas públicas que promovam emancipação, com acessibilidade, educação inclusiva, cuidado humanizado e emprego apoiado”, concluiu Garcia.