O que nasceu como um código de feira transformou-se em patrimônio cultural. No município de Alcanena, em Portugal, a vila de Minde abriga até hoje falantes do minderico, uma língua criada no século XVIII por comerciantes locais para negociar preços sem que os clientes entendessem.
Da feira para a comunidade
Os mindericos, conhecidos por vender mantas e outros produtos na região, precisavam regatear valores entre si sem levantar suspeitas. Para isso, desenvolveram uma linguagem própria, que rapidamente se enraizou na comunidade.
Mais de 200 anos depois, o minderico continua presente no cotidiano, sobretudo entre os mais velhos, aparecendo misturado ao português em expressões comuns.
Vocabulário próprio
Embora não seja uma língua oficialmente reconhecida em Portugal, como o mirandês, o minderico é valorizado como tradição local. Existem até livros infantis que ensinam a linguagem, numa tentativa de evitar sua extinção.
Hoje, estima-se que apenas cerca de 200 pessoas ainda falem minderico fluentemente. O vocabulário, no entanto, vai muito além do comércio.
🔹 Dias da semana têm nomes curiosos, como “segundo planeta” (segunda-feira).
🔹 “Mãe” é chamada de “videira” e “filho” de “ladina”.
🔹 Uma frase registrada em 2008 pelo jornal Expresso dizia: “o terraisinho jorda cinco cédulas por uma menísea” – em português, “o homem dá quinhentos escudos por uma manta”.
Risco de desaparecer
O minderico nasceu como uma “piação” de feirantes, mas virou gíria tradicional de Minde. Hoje, é visto como um símbolo identitário e cultural da vila. Tanto que, ao chegar a Minde, visitantes encontram na entrada uma placa com duas inscrições: Minde e sua versão minderica, Ninhou.

