Tensão nas Américas

Alvo de Trump, Nicolás Maduro denuncia “golpes da CIA” na América Latina

Presidente venezuelano acusa os EUA de promover ações ilegais e cita desaparecidos durante ditaduras apoiadas por Washington

Evaristo de Paula
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Evaristo De Paula
Evaristo de Paula é jornalista e redator de Política no www.diariocarioca.com, atuou em vários veículos de comunicação
Nicolás Maduro - Foto: Foto: RS/Fotos Públicas

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, fez um discurso contundente nesta quarta-feira (15) em defesa da paz na América Latina e no Caribe, após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, confirmar ter autorizado a CIA a conduzir operações secretas em território venezuelano.

Em resposta, Maduro denuncia golpes da CIA e acusa Washington de tentar repetir “velhos métodos de dominação e violência” contra governos soberanos da região.


Maduro acusa os EUA de promover “golpes orquestrados”

Durante pronunciamento à Comissão de Soberania Nacional, o líder venezuelano afirmou que os Estados Unidos seguem utilizando a Agência Central de Inteligência para desestabilizar governos progressistas.

“Não aos golpes de Estado dados pela CIA, que tanto nos lembram os 30 mil desaparecidos pela CIA nos golpes de Estado contra a Argentina (…) Até quando golpes de Estado da CIA? A América Latina não os quer, não os necessita e os repudia”, declarou Maduro.

Desde agosto de 2025, o governo Trump tem enviado navios de guerra ao Caribe sob o pretexto de combater o tráfico de drogas, enquanto Caracas denuncia tais ações como operações militares ilegais.


Trump confirma autorização para ações secretas

Mais cedo, Donald Trump admitiu ter dado aval à CIA para promover ações que podem levar à derrubada de Maduro, mencionando inclusive a possibilidade de prisão ou assassinato do presidente venezuelano. A declaração foi recebida com indignação em diversos países da América Latina, reacendendo o debate sobre intervenções norte-americanas na região.

“A prioridade da Venezuela é garantir a integridade territorial e evitar qualquer tipo de intervenção estrangeira. Aqui não haverá mudança de regime como no Afeganistão ou na Líbia, nem golpe de Estado como a CIA promoveu no Chile e na Argentina”, afirmou Maduro durante o Conselho Nacional pela Soberania e Paz.


Disputa política interna e apoio da oposição a Trump

Enquanto o governo venezuelano denuncia a ameaça de invasão, setores da oposição, liderados por María Corina Machado e Edmundo González Urrutia, têm se aproximado publicamente de Washington.
A ex-deputada, que recebeu o Prêmio Nobel da Paz, afirmou à CNN que Maduro “declarou guerra ao povo venezuelano” e pediu ajuda direta a Trump.

“Maduro decidiu declarar guerra ao povo venezuelano, uma guerra que nós não queríamos”, disse. “Isso envolve vidas humanas, e precisamos da ajuda internacional para pará-lo.”

Analistas veem as declarações de Machado como parte de uma ofensiva política coordenada que busca pressionar o governo venezuelano e legitimar a intervenção estrangeira sob o discurso de “restauração da democracia”.


Contexto histórico e impacto regional

O embate entre Caracas e Washington reflete décadas de tensões ideológicas e disputas geopolíticas. Desde os anos 1970, a CIA foi acusada de apoiar golpes militares em países como Chile, Argentina e Bolívia, sempre em nome do combate ao comunismo.
Atualmente, o discurso de Trump reacende fantasmas autoritários e ameaça a estabilidade democrática da América Latina, segundo especialistas ouvidos por veículos como a BBC e a Deutsche Welle.

Por outro lado, Maduro tenta consolidar apoio internacional junto a países aliados — como Brasil, México e Colômbia — que defendem a solução pacífica e diplomática da crise venezuelana.


Repercussões e próximos passos

O Ministério das Relações Exteriores da Venezuela deve formalizar uma denúncia na ONU e na Corte Internacional de Justiça, alegando ameaça à soberania nacional. A expectativa é que o tema seja debatido na próxima Cúpula da Celac, em novembro.

“O que está em jogo é o futuro da paz na região”, afirmou Delcy Rodríguez, vice-presidente venezuelana.

Evaristo de Paula é jornalista e redator de Política no www.diariocarioca.com, atuou em vários veículos de comunicação