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“Ideias para Adiar o Fim do Mundo” estreia no Espaço Sérgio Porto, no Rio

Inspirado nas obras de Ailton Krenak, peça teatral percorre o processo de violação dos povos originários do Brasil através das trajetórias do líder indígena e do ator Yumo Apurinã, nascido na Aldeia Mawanaty, em Rondônia

JR Vital - Diário Carioca
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JR Vital é jornalista e editor do Diário Carioca. Formado no Rio de Janeiro, pela faculdade de jornalismo Pinheiro Guimarães, atua desde 2007, tendo passado por...
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Ideias para adiar o fim do mundo - Foto: Dalton Valerio

Pela primeira vez no teatro, “Ideias para adiar o fim do mundo” percorre o pensamento do líder indígena Ailton Krenak para abordar as ficções que sustentam as ideias de humanidade e de Brasil. Em cena, um indígena do povo Apurinã, evangelizado na infância e nascido na Aldeia Mawanaty, na Amazônia, busca as raízes de seu povo enquanto é confrontado diariamente pelas perguntas: “Você é índio de verdade? Você come carne de macaco? O que você está fazendo aqui? Por que não está na sua aldeia?”.

O espetáculo tem dramaturgia de João Bernardo Caldeira e de Yumo Apurinã, diretor artístico e protagonista, e chega aos palcos do Espaço Cultural Municipal Sérgio Porto, Humaitá (RJ), em temporada de 17 a 26 de outubro, com sessões às sextas e sábados às 20h e domingos às 19h. A peça investiga as raízes da colonização que, como aponta Krenak, seguem em curso, produzindo extermínio, etnocídio, devastação ambiental, expropriação de terras e tragédia climática, por meio de tiro, fogo, bíblia, soja, boi, estrada e cimento.

Sinopse: Num planeta em crise, devastado por tiro, boi, cimento e cruz, um indígena nascido na Aldeia Mawanaty, em Rondônia, na Amazônia, busca as raízes de seu povo sabotadas pela colonização: “Somos mesmo uma humanidade?”. Inspirado nas obras de Ailton Krenak.

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Essa é a segunda temporada do espetáculo, que esgotou ingressos na passagem pelo Teatro Futuros, no Flamengo, em dezembro de 2024. A peça também foi apresentada no 14º Festival Interculturalidades, em Niterói, e no 3º Festival Amir Haddad, no Rio.

Em conflito com as ideias de pecado e de expulsão do paraíso, que separam humanidade e natureza, Yumo busca sua ancestralidade, solapada pelos processos de colonização: “Eu não sei a minha língua”, constata, atônito. Sob memórias de massacre, desmatamento e do sistemático aniquilamento dos povos indígenas e de seus direitos — inclusive nas constituições brasileiras até a de 1988 —, a pergunta fundamental da obra de Krenak é então colocada: “Somos mesmo uma humanidade?”.

Ao investigar os costumes e o passado de seu povo — o Demiurgo Tsurá, o ritual Xingané, o poder de cura dos Kusanaty (pajés) —, esse indígena vasculha a si mesmo, enquanto desvela a violência da colonização, a expropriação de terras e o apagamento histórico dos direitos indígenas. Em cena, esse corpo racializado pela sociedade, que lhe imputa a pecha de “índio”, atravessa estereótipos, enquadramentos e racismos vivenciados inclusive em sua carreira como ator.

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“Quando escuto Krenak, sei que estou ouvindo muitas outras vozes de sábios e parentes. Ailton é um porta-voz que representa mais de 300 etnias”, reflete Yumo Apurinã. “Quando eu me apresento num palco, minha mãe, meu pai e meus antepassados estão ali, nunca estamos sozinhos”, diz. “A intenção deste espetáculo é buscar um caminho consciente de transformação interior. Enquanto o teatro puder me fazer existir, é com ele que vou continuar sonhando e suspendendo o meu céu.”

A ficha técnica reúne, em sua maioria, artistas indígenas: ao lado de Yumo e Krenak, somam-se Wangleys Manaó, Giovanna Aguirre, Juão Nyn, Sandro Akroá e Xipu Puri. “Sob os escombros desses falidos projetos de humanidade, que insistem em organizar hierarquicamente os papéis sociais, a questão que se impõe hoje não é dar voz, mas escutar os saberes e vivências daqueles que foram histórica e socialmente silenciados”, diz o diretor João Bernardo Caldeira. “Talvez assim nós, não indígenas e corpos atravessados por privilégios, possamos trair nossas ancestralidades coloniais e nos reconectar com a vida, com os seres visíveis e invisíveis, com a terra.”

O espetáculo faz parte da pesquisa de doutorado em artes cênicas de João Bernardo, concluída este ano, na ECA-USP, intitulada “Derrocada do sujeito universal e reflorestamento de existências: teatros de falas”.

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Instagram oficial https://www.instagram.com/adiarofim/

Serviço:

De 17 a 26 de outubro

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Sexta e sábado às 20h

Domingo às 19h

Inteira: R$ 50

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Meia: R$ 25

Vendas: http://bit.ly/3KGnMBc

Espaço Cultural Municipal Sérgio Porto – Rua Visconde de Silva, ao lado do número 292, no Humaitá, no Rio

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Classificação 12 anos

Duração: 80 minutos

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JR Vital é jornalista e editor do Diário Carioca. Formado no Rio de Janeiro, pela faculdade de jornalismo Pinheiro Guimarães, atua desde 2007, tendo passado por grandes redações.