Durante um fórum empresarial na Indonésia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta quinta-feira (23) que o Pix pode servir de modelo para um novo sistema de pagamentos entre os países do Brics, baseado em moedas locais.
A proposta busca reduzir a dependência do dólar nas transações internacionais e ampliar a autonomia financeira do bloco, composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
Pix como referência de inovação e soberania financeira
Em seu discurso, Lula destacou que o Pix brasileiro e o QRIS indonésio são exemplos de soluções tecnológicas eficazes, acessíveis e seguras, que podem inspirar uma rede de pagamentos compartilhada entre nações emergentes. Segundo o presidente, a integração de plataformas digitais pode fortalecer o comércio Sul-Sul e facilitar transações diretas sem conversão para o dólar.
“O Pix é uma inovação que nasceu no Brasil e provou que é possível democratizar o acesso financeiro. O mesmo pode ser feito entre países amigos, com sistemas próprios e soberanos”, declarou Lula.
O projeto dialoga com a defesa do presidente por uma nova arquitetura financeira global, tema central de sua agenda internacional e dos debates do Brics desde 2023. A proposta também complementa a iniciativa do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), que discute mecanismos multilaterais de crédito e liquidação em moedas locais.
Reação dos Estados Unidos e disputa global
Nos últimos meses, o Pix tem sido alvo de críticas de autoridades financeiras dos Estados Unidos, que classificaram o sistema como uma prática comercial “desleal”, por supostamente favorecer exportações brasileiras de serviços financeiros. O governo brasileiro reagiu, contestando o relatório americano e solicitando a revisão do processo em instâncias multilaterais.
Especialistas em economia internacional interpretam o episódio como parte de uma disputa mais ampla pelo controle das infraestruturas de pagamento globais. A expansão de plataformas nacionais, como o Pix, ameaça o monopólio das redes financeiras privadas dominadas por bancos e empresas de tecnologia dos EUA.
Por outro lado, países do Brics veem a tecnologia brasileira como um modelo de inclusão financeira e autonomia digital, especialmente em regiões com baixa bancarização.
Parcerias e expansão na Ásia
Além do tema financeiro, Lula reforçou o compromisso do Brasil em aprofundar parcerias econômicas com países asiáticos, incluindo Indonésia, Malásia e Vietnã. O presidente defendeu a diversificação comercial e tecnológica como caminho para o crescimento sustentável.
“O século XXI exige que sejamos protagonistas, que criemos nossas próprias soluções e reduzamos as amarras impostas pelo sistema financeiro tradicional”, afirmou o petista.
Durante a visita, Brasil e Indonésia firmaram novos acordos bilaterais nas áreas de energia, ciência e tecnologia, além de promover diálogos sobre um Acordo de Comércio Preferencial com o Mercosul, previsto para ser concluído até o fim do ano.
A iniciativa de criar um sistema de pagamentos inspirado no Pix também dialoga com o projeto de moeda digital do Brics, ainda em fase de estudos técnicos, e reforça a busca do bloco por alternativas financeiras independentes do dólar.
Impactos e perspectivas
A eventual adoção de um “Pix internacional” entre os países do Brics teria efeitos diretos sobre custos de transação, inclusão bancária e segurança digital. Analistas apontam que a interoperabilidade entre sistemas locais pode reduzir tarifas, ampliar a transparência e fortalecer o comércio intrabloco.
Contudo, há desafios regulatórios e geopolíticos: a integração exige infraestrutura comum, garantias de cibersegurança e acordos multilaterais sólidos. Além disso, os Estados Unidos tendem a resistir a iniciativas que diminuam o papel do dólar como moeda de referência.
Mesmo assim, o posicionamento de Lula reforça a imagem do Brasil como líder de inovação financeira e defensor de um modelo econômico mais equilibrado entre países emergentes.
