O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) revelou nesta segunda-feira (27) que ele e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, trocaram telefones pessoais após o encontro bilateral realizado em Kuala Lumpur, na Malásia, durante a Cúpula da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN). O gesto simboliza uma tentativa de aproximação direta entre os dois líderes, após meses de atrito diplomático e disputas comerciais.
“Estabelecemos uma regra de negociação: toda vez que tiver uma dificuldade, eu vou conversar pessoalmente com ele. Ele tem o meu telefone, e eu tenho o telefone dele”, disse Lula, em conversa com jornalistas na saída do hotel onde está hospedado.
A declaração foi uma resposta à fala de Trump, que, ao deixar Kuala Lumpur rumo aos Estados Unidos, classificou o encontro como “uma boa reunião”, mas disse que não há garantias de acordo. “Não sei se algo vai acontecer, mas veremos”, afirmou o republicano, segundo a agência Reuters.
Lula reagiu com naturalidade à incerteza americana. “É óbvio que não seria possível resolver todos os problemas em uma única conversa. Mas demos um passo importante”, disse o presidente brasileiro, sinalizando que o diálogo diplomático continuará por meio de equipes técnicas.
Negociações para encerrar sanções e tarifas
De acordo com Lula, as equipes do Brasil e dos EUA seguirão negociando o fim das sobretaxas impostas a produtos brasileiros e a suspensão de punições aplicadas por Washington a autoridades do governo e do Supremo Tribunal Federal (STF).
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As medidas americanas — impostas no início de 2025 — incluem tarifas de até 50% sobre exportações brasileiras e sanções baseadas na Lei Magnitsky contra o ministro Alexandre de Moraes, outros membros do STF e o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, além de familiares.
O presidente afirmou que o Brasil apresentou um documento formal a Trump, com propostas concretas de resolução.
“Minha equipe é de alto nível. Tem o Alckmin, o Haddad e o Mauro Vieira. Eu entreguei um documento com o que foi dito na nossa conversa, portanto não foram apenas palavras. Ele sabe o que o Brasil quer”, explicou Lula, destacando a seriedade do processo de negociação.
Segundo interlocutores do Palácio do Planalto, o documento inclui medidas de reciprocidade em caso de manutenção das sanções, mas prioriza a via diplomática para recompor a normalidade das relações entre os dois países.
Canal direto e distensão diplomática
O gesto de troca de telefones entre Lula e Trump é inédito na diplomacia recente e reflete uma estratégia de comunicação direta entre chefes de Estado, com o objetivo de evitar ruídos e intermediações políticas.
Especialistas em relações internacionais ouvidos pelo Diário Carioca avaliam que a criação de um canal pessoal de diálogo representa uma “distensão pragmática” entre dois líderes de estilos opostos, mas conscientes do peso estratégico da parceria bilateral.
Desde o início do ano, a crise comercial entre os países vinha se agravando, com impactos sobre o agronegócio e a indústria de base brasileira. O gesto de Trump, ao chamar Lula de “vigoroso” e “enérgico para a idade”, e a reciprocidade cordial do petista indicam uma reaproximação cautelosa, mas com potencial para reabrir canais de cooperação econômica.
Lula intensifica agenda internacional no Sudeste Asiático
A reunião com Trump encerrou uma intensa agenda de cinco dias de compromissos oficiais de Lula no Sudeste Asiático. Em Kuala Lumpur, o presidente participou da abertura da 20ª Cúpula da Ásia do Leste, além de um jantar de gala oferecido pelo presidente da Malásia, Anwar Ibrahim, e pela primeira-dama Wan Azizah Wan Ismail.
Desde a última quinta-feira (23), o presidente passou também pela Indonésia, onde participou da 47ª Cúpula da ASEAN, reforçando a estratégia brasileira de diversificar alianças comerciais e reduzir a dependência de mercados ocidentais.
Com a troca de telefones e a promessa de diálogo contínuo, Lula encerra a viagem com um ganho político significativo: o sinal de que, mesmo com divergências ideológicas, Brasil e Estados Unidos podem reconstruir pontes e buscar soluções diplomáticas para os impasses.




