A lição sociológica do caso Esquerdogata – Por Roberta Bastos

Aline não é apenas uma figura pública que se excedeu. Ela simboliza um tipo de militância contemporânea moldada pelas redes sociais

Roberta Bastos
Roberta Bastos
Comunicadora digital | Ativista política | Ateia | Feminista | Progressista |
Imagem - Reprodução X @roberta_bastoss

O episódio envolvendo Aline Bardy Dutra, a Esquerdogata, é mais do que um escândalo individual. É um retrato das contradições de uma época em que a militância virou performance e a vaidade se disfarça de consciência política.

Aline não é apenas uma figura pública que se excedeu. Ela simboliza um tipo de militância contemporânea moldada pelas redes sociais, onde o engajamento se mede em curtidas, o discurso crítico se confunde com autopromoção e a luta coletiva se dilui na construção de uma persona. Quando o ego toma o lugar da causa, o compromisso político se transforma em espetáculo.

O comportamento arrogante durante sua prisão, ao comparar sua sandália com o carro dos policiais e debochar da origem social deles, expõe uma contradição profunda. É a de quem critica o elitismo, mas reproduz os valores de distinção e superioridade típicos das elites que diz combater. Essa é uma das grandes ironias da sociedade de consumo, em que até a revolta precisa parecer sofisticada.

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Sociologicamente, o caso de Aline revela a crise da representação política nas redes. A esquerda digital, ao tentar competir com a estética populista da extrema direita, criou seus próprios ídolos de linguagem afiada e conteúdo superficial. E quando esses ídolos falham, não é só a imagem individual que desaba. É também a credibilidade de uma militância que deveria pautar ética, coerência e empatia.

Sou de esquerda e defendo as lutas populares e progressistas. Mas não vou amenizar o dano que ela causou a lutas reais e históricas. O que Aline fez não é apenas um deslize ou um erro de comunicação. É um ato que reforça estereótipos, fragiliza causas legítimas e dá munição aos que atacam a esquerda todos os dias. E não adianta pedir desculpas por um ato indesculpável.

O caso não é sobre a queda de uma influenciadora, mas sobre a necessidade de reconstruir uma militância menos narcísica e mais comprometida com o real. Aquela que não busca aplauso, mas transformação. Porque o que ruge nas redes não é necessariamente o que constrói o mundo fora delas.

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