A fala de Ciro Nogueira sobre o PL Antifacção revela mais uma vez o uso político do discurso sobre segurança pública no Brasil.
O senador, representante de um grupo que historicamente manteve alianças com setores que desestruturaram políticas de segurança cidadã, agora tenta se posicionar como defensor da “reocupação dos territórios dominados pelas facções”.
A ironia é evidente. Foram justamente governos de sua base que cortaram investimentos em inteligência policial, educação e políticas sociais , pilares fundamentais para qualquer reocupação legítima e duradoura de territórios.
O trocadilho que ele faz, chamando o projeto de “antificção”, mostra a superficialidade do debate que parte da elite política propõe.
O problema não é apenas semântico, é estrutural.
A criminalidade não se combate com slogans, mas com uma transformação profunda das condições que a sustentam.
Aumentar penas ou criar novos tipos penais, como o PL prevê, pode até gerar manchetes, mas não muda a realidade concreta de um Estado que ainda abandona parte de sua população à própria sorte.
Essa discussão reflete o velho dilema brasileiro entre punição e prevenção.
A elite política e econômica prefere medidas punitivas, porque elas não questionam privilégios nem a desigualdade que alimenta o crime.
Falar em “reocupar territórios” soa ousado, mas é vazio quando não se fala em escolas, saúde, oportunidades e políticas públicas que desarticulem a base social das facções.
O PL Antifacção pode ser mais um instrumento de endurecimento simbólico, sem eficácia real, se não vier acompanhado de um projeto de Estado que combine justiça social e inteligência policial.
Enquanto a política de segurança for guiada por frases de efeito e trocadilhos, continuará sendo, esta sim, uma ficção, uma narrativa conveniente para quem lucra politicamente com o medo e a violência.



