Raramente sabemos como se deu a escolha pelas locações dos filmes que assistimos. Pode acontecer de escapar um ou outro detalhe em alguma entrevista, mas definitivamente nada parecido com um documentário como Locações na Palestina (Sopralluoghi in Palestina, 1965).
Ainda que o áudio seja posto posteriormente, “Locações” captura o olhar do diretor buscando os cenários que imaginava para seu filme – e suas frustrações. A região da Palestina, que engloba Israel e a Jordânia, já não guardava as semelhanças necessárias com a imagem bíblica sequer seu povo tinha o semblante parecido.
Em mais de uma oportunidade, Pier Paolo Pasolini reclama da modernização do cenário e da fisionomia das pessoas que não pareciam ter ouvido a palavra de Cristo, aparentavam ser felizes, arcaicas, “selvagens”. Critica também a abundância do que chama de lumpemproletariado, termo marxista referente a um povo trabalhador sem consciência de classe.
Durante a viagem, o diretor é acompanhado por um religioso que pondera sobre a realidade daquela terra. Em um dos diálogos filmados, consciente da frustração de Pasolini, o religioso reforça a importância de visitar o lugar até para ser possível reproduzir o cenário noutras locações. E é o que acontece: Evangelho segundo São Mateus é gravado em cidadezinhas da Itália mesmo.
Enfim, Locações na Palestina tem uma especial importância em 2025: além de se tratar de um caderno de notas visual do diretor, é um registro da Palestina da década de 60. Em tempos de genocídio, é interessante ver imagens alternativas, mesmo que já mostrassem a expansão do Estado de Israel (em determinado momento, o diretor comenta que Israel avançava pelo deserto e ameaçava quem lá morava). Locações na Palestina (Sopralluoghi in Palestina, 1965) está disponível no 20º Festival de Cinema Italiano no Brasil, do dia 29/10 a 29/11.
