A ex-primeira-ministra de Bangladesh, Sheikh Hasina, foi condenada à morte pelo Tribunal de Crimes Internacionais do país por crimes contra a humanidade, em decisão anunciada nesta segunda-feira (17) sob forte esquema de segurança em Daca. O veredito encerra meses de julgamento e responsabiliza a líder por ordenar uma repressão violenta aos protestos estudantis ocorridos entre julho e agosto de 2024, que deixaram mais de mil mortos e milhares de feridos, segundo relatório da ONU.
Principais pontos do julgamento:
- Sheikh Hasina condenada à morte por crimes contra a humanidade.
- Repressão aos protestos estudantis de 2024 resultou em mais de mil mortos.
- Hasina fugiu para a Índia e não compareceu ao julgamento.
- Defesa alega motivação política e falta de acesso a defesa plena.
- Sentença pode ser recorrida à Suprema Corte.
Repressão violenta e fuga do país
Sheikh Hasina governou Bangladesh de forma ininterrupta desde 2009, mas deixou o país após a escalada dos protestos liderados pela chamada Geração Z. Os estudantes se mobilizaram contra um sistema de cotas que reservava um terço dos empregos públicos a parentes de veteranos de guerra. A resposta do governo foi violenta: mais de mil pessoas morreram e milhares ficaram feridas, segundo documento da ONU. Promotores afirmam que Hasina ordenou o uso de força letal na dispersão das manifestações, configurando o episódio mais grave de violência no país desde a guerra de independência, em 1971.
Defesa e motivação política
A ex-premiê classificou o julgamento como “enviesado e com motivação política”, rejeitando a tese de que tenha havido um ataque premeditado contra a população. Ela alega que o governo “perdeu o controle da situação” durante o levante estudantil e afirma não ter tido acesso a uma defesa plena. Representada por um defensor público, Hasina aguarda julgamento em foro apropriado e promete enfrentar seus acusadores em tribunal adequado, onde as provas possam ser avaliadas de forma justa.
Impactos políticos e cenário eleitoral
A condenação ocorre a poucos meses das eleições parlamentares previstas para fevereiro. O partido de Hasina, a Liga Awami, está impedido de concorrer, o que aumenta o temor de novos protestos e instabilidade política. Sajeeb Wazed, filho e assessor da ex-premiê, afirmou que a família não recorrerá da decisão enquanto o país não tiver um governo democraticamente eleito com participação da sigla.
Hasina, de 78 anos, é filha de Sheikh Mujibur Rahman, líder fundador do país. Durante seus 15 anos no poder, foi creditada por impulsionar a indústria têxtil e promover avanços econômicos, mas também acumulou acusações de repressão à oposição, prisões arbitrárias e execuções extrajudiciais. Após sua fuga, Bangladesh passou a ser governado por uma administração interina liderada por Muhammad Yunus, vencedor do Nobel da Paz, que foi perseguido durante anos pelo governo de Hasina.
Maior violência desde a independência
Durante o julgamento, promotores detalharam que, entre 15 de julho e 5 de agosto de 2024, até 1.400 pessoas podem ter sido mortas durante os protestos estudantis, a maioria atingida por disparos das forças de segurança. O relatório da ONU classificou o episódio como a maior onda de violência desde 1971, quando Bangladesh conquistou a independência após guerra contra o Paquistão. A sentença da ex-premiê derrubada aprofunda as tensões no país e alimenta incertezas sobre a estabilidade política nos próximos meses.

