A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro reagiu à prisão preventiva de Jair Bolsonaro recorrendo ao que o bolsonarismo oferece de mais previsível: um versículo bíblico, desta vez o Salmo 121, publicado em seus stories minutos após o ex-presidente ser levado pela Polícia Federal ao amanhecer deste sábado (22).
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O texto religioso apareceu acompanhado de um recado aos fiéis seguidores: “nós não vamos desistir do Brasil”. Uma frase que funciona melhor como mantra do que como plano político — especialmente quando o líder do movimento está atrás de uma porta de Estado-Maior.
A prisão que desmontou o roteiro
Bolsonaro foi preso preventivamente por ordem do ministro Alexandre de Moraes depois que Flávio Bolsonaro convocou uma “vigília de oração” em frente à casa do pai — um evento tão espontâneo quanto um comício agendado.
A PF considerou a movimentação um risco à ordem pública, e o ministro não esperou o sino da vigília tocar: autorizou a prisão antes do nascer do sol.
Assim, enquanto militantes se preparavam para rezar, Bolsonaro já estava sentado numa sala reservada a autoridades — lugar onde jamais imaginou voltar, mas não exatamente por este motivo.
Michelle no Ceará enquanto o caos estourava em Brasília
Na véspera, Michelle havia desembarcado em Fortaleza para reuniões com lideranças femininas do PL, ainda tentando sustentar a ideia de que o “PL Mulher” é um braço político e não apenas um comitê emocional do bolsonarismo.
Ela participaria do Encontro Nacional do PL Mulher na manhã deste sábado, mas a prisão do marido acabou transformando a pauta do dia: o evento virou mais um camarote de lamentação do que uma agenda partidária.
A defesa apela ao “lado humano” de um ex-presidente condenado por golpe
Para completar a dramaturgia, a detenção ocorre um dia após os advogados pedirem a conversão da pena para prisão domiciliar humanitária, listando uma coleção de comorbidades que cresceram mais rápido do que qualquer projeto apresentado no governo Bolsonaro:
hipertensão, apneia do sono, aterosclerose, câncer de pele, sequelas de pneumonia, lembranças do atentado de 2018…
Se continuar nesse ritmo, a defesa vai precisar anexar um laudo com rodízio.
O aceno religioso que mantém a tropa em transe
Com Bolsonaro preso, Michelle acionou a função que a consolidou como sacerdotisa da ala religiosa do bolsonarismo: usar a Bíblia como cortina de fumaça. O Salmo 121 — tradicionalmente invocado para pedir proteção — serviu como combustível emocional para manter a bolha mobilizada, mesmo com o comandante fora de circulação.
Em vez de explicar por que o marido foi preso, Michelle preferiu entregar espiritualidade embalável, pronta para reforçar a narrativa de perseguição divina.
No fim, sua mensagem não é sobre fé.
É sobre sobrevivência política.
E sobre manter o rebanho unido, mesmo quando o pastor está detido antes do café da manhã.
