A prisão preventiva de Jair Bolsonaro, decretada pelo ministro Alexandre de Moraes em 22 de novembro de 2025, resultou no cancelamento imediato de todas as 29 visitas previamente aprovadas pelo Supremo Tribunal Federal, incluindo as de Tarcísio de Freitas, Ronaldo Caiado e Claudio Castro. A decisão atendeu ao alerta da Polícia Federal, que identificou risco concreto de fuga após a violação da tornozeleira eletrônica.
A medida encerra o regime de prisão domiciliar, vigente desde 4 de agosto, período em que o ex-presidente recebia aliados em fluxo constante no condomínio Solar de Brasília. A PF registrou que a suposta vigília convocada pelo senador Flávio Bolsonaro, marcada para a noite do dia 22, criaria ambiente propício para tumulto e evasão.
Dados centrais da decisão
- 29 visitas anuladas: 13 autorizadas + 16 solicitadas.
- Violação da tornozeleira registrada às 0h08 de 22/11/2025.
- Risco de fuga agravado por aliados já refugiados no exterior.
- Tentativa prévia de buscar asilo na embaixada da Argentina.
A partir desse ponto, o cenário ganhou contornos de crise. O ministro afirmou que a movimentação ao redor da casa do ex-presidente remetia ao “modus operandi da organização criminosa”, ecoando práticas registradas nos episódios que antecederam a tentativa de golpe. O diagnóstico jurídico ampliou a leitura política: o entorno de Bolsonaro mobiliza a desordem como método.
As visitas a Bolsonaro canceladas pelo STF
A lista de cancelamentos revela a dimensão da articulação política que orbitava o ex-presidente:
- Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo.
- Claudio Castro, governador do Rio de Janeiro.
- Ronaldo Caiado, governador de Goiás.
- Ubiratan Sanderson, deputado federal.
- Evair de Melo, deputado federal.
- José Medeiros, senador.
- Guilherme Derrite, deputado federal.
- Nikolas Ferreira, deputado federal.
- Padres, economistas, dirigentes partidários e lideranças regionais.
Entre os pedidos ainda pendentes constavam Bia Kicis, Julia Zanatta, Carlos Portinho, Padre Kelmon, Onyx Lorenzoni, Tiago Pavinatto e o Almirante Flávio Rocha, entre outros nomes do núcleo duro do bolsonarismo.
O risco de fuga e a ruptura da contenção política
A PF reportou que a residência de Bolsonaro fica a apenas 13 km do Setor de Embaixadas, o que facilitaria uma eventual fuga em direção à representação diplomática da Argentina, destino já cogitado por ele durante investigações anteriores. A proximidade geográfica reforçou a decisão pela prisão preventiva.
Esse risco cresceu após a fuga para o exterior de aliados como Alexandre Ramagem, Carla Zambelli e Eduardo Bolsonaro, movimentos que mostram um padrão: a dispersão estratégica de quadros-chave do bolsonarismo para dificultar ações judiciais.
No vídeo divulgado por Flávio Bolsonaro, Moraes identificou “incitação ao desrespeito à Constituição e às instituições”, argumento suficiente para afirmar que a vigília não era ato religioso, mas um mecanismo de pressão política — quase uma cena saída de um thriller político, como em Skyfall, em que a desordem serve de biombo para a fuga.
A manhã da prisão
Bolsonaro foi detido às 6h, sem resistência. Michelle Bolsonaro não estava no local. Às 6h35, o comboio chegou à sede da Polícia Federal, onde ele realizou exame de corpo de delito fora do olhar público. A PF confirmou a execução integral do mandado e a defesa afirmou não ter sido informada a tempo, num gesto que reforça a narrativa de surpresa, ainda que a ruptura da tornozeleira fosse prova inequívoca da escalada.
O isolamento político de Bolsonaro deverá se intensificar. Uma ala dos partidos conservadores tende a buscar distanciamento para proteger capital eleitoral em 2026, enquanto o núcleo ideológico tentará radicalizar a narrativa de perseguição. Para o campo democrático, a prioridade será consolidar mecanismos de transparência institucional, ampliar financiamento para segurança digital e fortalecer o sistema de alerta preventivo para grupos que operam na fronteira entre política e desinformação.
Visitas canceladas após prisão de Bolsonaro: o novo mapa do poder
O episódio marca uma inflexão: o Estado reafirma autoridade diante da tentativa de subversão institucional. A partir de agora, o desafio central será reconstruir a confiança cívica e impedir que redes de desinformação transformem mais uma crise política em capital simbólico para o extremismo.

