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Cartas alheias me interessam

Enquanto meio de comunicação, é sabido que seu tempo já passou. Os tempos modernos exigem praticidade e velocidade no fluxo de mensagens, mesmo que isso se converta em ansiedade e no desaparecimento dos bons modos – quem nunca recebeu uma mensagem de trabalho no WhatsApp em dia de folga ou alguma cobrança por demora na resposta? Já cartas, em seu modus operandi, inviabilizam esses tipos de comportamento, além de estarem sujeitas às adversidades que são cerne de boas histórias. Um extravio e está deflagrado o enredo!

Na ficção, as cartas podem ser fios condutores das histórias, como nos romances epistolares. Alternando os remetentes ou não, todos trazem um ar intimista por meio de sua visão pessoal sobre assuntos de qualquer natureza. Frankstein deve ser o clássico epistolar mais famoso. Há outros romances compostos apenas por uma única carta como Carta ao pai do Kafka e Carta à rainha louca da Maria Valéria Rezende. 

E há ainda simplesmente os melhores livros para curiosos: os compilados de correspondências. Há simplesmente um mundo de opiniões (e mudança delas) e registros temporalmente localizados. Provavelmente, todos conhecem Cartas a um jovem poeta do Rilke, que deve servir de conselhos reflexivos a quem deseja se dedicar à escrita e aqueles livros que vieram depois, claramente inspirados. Porém, ressalto aqui a delicadeza belíssima de “Quando voltei, tive uma surpresa” do Joel Rufino dos Santos e o insuperável Cartas perto do coração, a troca de correspondência entre os amigos Clarice Lispector e Fernando Sabino.

Enquanto Joel Rufino escreve para seu filho de 8 anos direto da prisão em plena ditadura, Clarice Lispector e Fernando Sabino trocam confidências e percepções sobre o cotidiano, incluindo suas descobertas literárias. O deslumbramento em que se pegam ao ler Guimarães Rosa é algo especialíssimo, digno dos grandes e… de qualquer leitor. Aqueles poderes que a literatura tem de igualar a todos, sabe? E tudo por meio das cartas, frágeis, demoradas e livres de spam.

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Jaqueline Ribeiro
Jaqueline Ribeirohttps://www.diariocarioca.com/
Jaqueline Ribeiro é bacharela em Comunicação/Jornalismo pela UEMG-Frutal, interessada por tudo o que conta histórias, escreve sobre livros, filmes e discos

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