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O que assistir no mês da Consciência Negra: Grace Passô e Temporada (2018)

As comédias brasileiras realmente representam uma boa parcela da receita e da audiência do cinema brasileiro, mas a produção nacional vai bem além e, de forma independente ou não, oferece ao público uma senhora diversidade de histórias. Às voltas com pandemia, apagão de incentivos e diversas crises, a arte brasileira vai resistindo e se renovando com novas caras e diferentes genialidades de todas as cores, formas, sexualidades e condições. E uma dessas novas forças da natureza é Grace Passô que protagoniza, entre outras obras, Temporada (2018).

Temporada acompanha os dias de Juliana (Grace Passô), que passou em um concurso e foi chamada para ser agente de endemias. Para atuar no novo cargo, Juliana precisou mudar de uma cidade do interior para uma cidade pertencente à região metropolitana de Belo Horizonte e começar uma nova vida sozinha (ainda que provisoriamente) enquanto espera a vinda do marido para morarem juntos. Então, de forma inédita em sua vida, a mulher precisa simultaneamente se adaptar à cidade nova, ao emprego novo e à vida sozinha, ainda que casada. Porém, ao contrário do que se esperaria, Juliana abraça esses desafios com liberdade e encara como uma nova oportunidade já que, como confessa, nunca teve muitos amigos e é a primeira vez que experimenta fazer as próprias coisas.

O filme apresenta um cenário muito crível, recheado de pessoas que facilmente encontraríamos na rua ou materializadas em qualquer vizinho de porta. Seja os agentes de endemias com seus problemas, suas necessidades e dilemas comuns, seja as pessoas visitadas: gente com horários alternativos devido ao trabalho, gente que chama para entrar e oferece café e bolo. Toda gente com quintais recheados de lixo e alguma história. 

Para além dos personagens, o cargo ocupado por Juliana e seus colegas reforça a veracidade da história: não há ilusão alguma. Na primeira oportunidade, explicam que o salário é pouco e, ao contrário da ideia de concurso como estabilidade, aquele não era o emprego para isso, as pessoas estavam sempre buscando encontrar outra fonte de renda para sair. A protagonista, no entanto, não reclama em momento algum. Parece entender e aceitar que é essa sua nova realidade e é o que funciona para aquela temporada de sua vida. 

Com exceção das cenas finais ambientadas em um rio, o filme é majoritariamente urbano e poderia se passar em qualquer lugar do país tanto por sua história universal, quanto pelas similaridades entre as cidades em crescimento. Um personagem marcante e não nomeado, no entanto, enriquece a trama e dá uma colher de chá para o público atuando para identificar a localização geográfica: o sotaque mineiro. De forma espontânea, os personagens emendam uais, cês e gírias e nos levam pelos trilhos dos trens de Minas até Contagem, para viver a história.

Intérprete de Juliana, Grace Passô é uma atriz, diretora e escritora mineira com diversos trabalhos no teatro, na TV e no cinema. Reconhecida como uma das revelações da sua geração, Passô acumula prêmios. Por Temporada, Grace foi indicada à melhor atriz no Festival de Cinema do Vale do Ivinhema, Festival de Cinema de Brasília, Festival de Cinema de Turim e Prêmio Guarani de Cinema Brasileiro. Venceu todos.Em 2021, participou da premiada série Sob pressão.

Temporada foi lançado em 2018, tem direção de André Novais Oliveira e pode ser assistido na Netflix.

MAIS SUGESTÕES PARA ASSISTIR NESTE NOVEMBRO:

Cidade de deus (2002)

Disponível na Globoplay e na Netflix, “Cidade de deus” é forte candidato a clássico do cinema nacional ao mostrar a vida de Buscapé e a realidade dos moradores de uma das favelas mais violentas do Rio de Janeiro.

Gonzaga: de pai para filho (2012) 

Entre tantos filmes incríveis, é sempre bom lembrar daqueles projetos que resgatam a vida de artistas fundamentais para a história da nossa música. É o caso desta cinebiografia de Gonzagão, disponível tanto na Globoplay quanto na Netflix.

Ó paí, ó (2007)

Composto por um elenco estrelado, o filme aborda a vida carnavalizada no centro histórico do Pelourinho em Salvador. Com a previsão de lançamento de “Ó, paí ó 2” para o próximo dia 23, é um ótimo momento para revisitar essa muvuca. Pode ser assistido na Globoplay.

Um dia com Jerusa (2021)

Alguns encontros podem ser definitivamente muito marcantes. Silvia e Jerusa, você e esse filme. Uma ótima oportunidade para ver dona Léa Garcia, grande dama da dramaturgia brasileira, falecida no último agosto, em ação. Tem na Netflix.

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Jaqueline Ribeiro
Jaqueline Ribeirohttps://www.diariocarioca.com/
Jaqueline Ribeiro é bacharela em Comunicação/Jornalismo pela UEMG-Frutal, interessada por tudo o que conta histórias, escreve sobre livros, filmes e discos

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