Sucesso

DC entrevista a atriz Mara Carvalho, sucesso na TV e no Teatro

Atriz multifacetada e inquieta, Mara Carvalho fala sobre a carreira, novos trabalhos e do sucesso que está fazendo com a peça Baixa Terapia, além de seu novo empreendimento, um restaurante em São Paulo.

Mara Carvalho - Foto: Fabio Audi
Mara Carvalho - Foto: Fabio Audi

Mara Carvalho, atriz, roteirista e diretora, atua como empresária e ainda consegue arrumar tempo para cuidar da saúde e boa forma e cuidar da família, haja folego. A atriz é sucesso no teatro onde está em cartaz com a peça “Baixa Terapia” e está no ar na reprise de “Rei do Gado, um dos sucessos de sua carreira.

Mara Carvalho - Foto: Fabio Audi
Mara Carvalho – Foto: Fabio Audi
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Mara iniciou sua carreira como atriz na peça Fragmentos de um Discurso Amoroso, ao lado de Antônio Fagundes, com quem foi casada. Nessa época, Mara cursava a faculdade de Cinema. Na televisão estreou na TV Globo, na novela O Dono do Mundo. Também na TV Globo, roteirizou 36 episódios de Carga Pesada. Atuou também na novela Marcas da Paixão. Nesse interim, participou de seu primeiro filme, Bossa Nova. Estreou como dramaturga com a peça “Vida Privada”, recebendo elogios da crítica especializada. Também escreveu “O Banquete”, “Elas são do Baralho”, “De Corpo Presente”, “Gente que Faz” e “Ed Cosby”

Mara Carvalho - Foto: Fabio Audi
Mara Carvalho – Foto: Fabio Audi

Recentemente Mara abriu o restaurante espanhol El Mercado Ibérico, em São Paulo, no fim de 2021, e atrás dele montou o Teatro do Mercado, com 60 lugares. A inquietude parece ser um traço marcante de Mara, que como se não bastasse, ainda está fazendo cursos para se aperfeiçoar como roteirista.

Mara Carvalho - Foto: Fabio Audi
Mara Carvalho – Foto: Fabio Audi

Mergulhada na obra de Nelson Rodrigues, já que escreve um novo projeto com a obra do Dramaturgo, Mara reservou um tempinho para conversar com a gente sobre sua carreira e suas investidas em diferentes áreas. Abaixo você confere o bate papo entre JR Vital e atriz que tem em seu currículo grandes obras da TV e do Teatro no Brasil, como as novelas “A Viagem”, “Renascer”, Corpo Dourado” e o “Mapa da Mina”, entre outras, e em peças como “Macbeth“, “Últimas Luas” e “Histórias de Todos Nós” e muitas outras.

DC – Diário Carioca: Em seus trabalhos você sempre se destacou, tanto atuando como roteirizando, tem alguma preferência pelas áreas e como uma contribui com a outra?

Mara Carvalho: Não tenho uma preferência entre as áreas, mas acredito que uma te traz pra um universo, outra te joga para o outro. Por exemplo, enquanto atriz, é um trabalho que exige dedicação , mas tem espaço na vida social. Enquanto roteirista, a vida social fica bem comprometida, porque é um trabalho intelectual muito solitário. 

Às vezes, eu nem percebo que estou trabalhando totalmente envolvida naquele universo. É quase como se tivesse uma outra vida. Então, acabo trabalhando muitas e muitas horas. Esqueço de dormir, de comer, não consigo sair, e se saio fico pensando no que eu tenho que voltar pra casa. É um comprometimento que me absorve 100 horas do dia. Não consigo fazer nada além de pensar no projeto e escrever, escrever, escrever. Mas de qualquer maneira, eu não tenho preferência. 

DC – Diário Carioca: Você está fazendo grande sucesso no teatro e rememorando a excelente atuação em O Rei do Gado, como o público tem interagido com você? 

Mara Carvalho: É muito bom, porque os personagens são bem diferentes e isso é legal. Quando as pessoas me abordam, é sempre com aquela curiosidade, e surpresa de como eu consigo fazer dois personagens tão diferentes. Isso, na verdade, é o trabalho do ator. Isso nos estimula. É justamente essa ideia de transitar por universos tão diferentes que faz do nosso trabalho um nicho tão especial. 

É curioso como o público se surpreende com isso e ao mesmo tempo que te elogia, te qualifica como um bom ator. Ou mesmo quando você chora e daqui a pouco ri e, além disso, faz o público seguir estas mudanças emocionais. 

DC – Diário Carioca: Em sua carreira, você teve a oportunidade de atuar em obras de grande sucesso, principalmente na TV. Dentre seus trabalhos marcantes, a gente pode destacar, obviamente, “Rei do Gado”, e “Renascer”, duas tramas rurais em que há um viés político que se envereda pela reforma agrária e ambiental. Como você tem visto o Brasil com relação a estes tópicos hoje em dia? 

Mara Carvalho: A parte agrícola, agropecuária e agroindustrial sofrem demasiado com a falta de uma política honesta, compreensiva. Infelizmente agem sempre em benefício do interesse próprio. Também sou empresária, tenho um restaurante em São Paulo, chamado El Mercado Ibérico, e os impostos, as leis e as regras são abusivos e incoerentes.

Infelizmente, o brasileiro não consegue saber tudo o que acontece no país, porque ele é grande demais. Além disso, é muito mal administrado com muita burocracia, que se torna a principal ferramenta da corrupção. As regras contradizem as leis e as leis contradizem as próprias regras. Não tem ninguém que olhe para o cidadão, para o trabalhador de verdade. Não existe. E eles são muitos. As leis são mal resolvidas, arcaicas e estúpidas. Acho que a gente está num cenário muito negativo há muitos anos, porque todos pensam apenas no próprio bolso. 

DC: Você está trabalhando em obras de Nelson Rodrigues, um universo vasto e diversificado, como tem sido o desafio? 

Mara Carvalho: Trabalhar com o Nelson é um desafio grande, porque ele viveu numa época em que as pessoas não tinham esse olhar crítico e exacerbado. Ele viveu uma época em que o machismo imperava e os homens dominavam todas as searas. E hoje a gente está nessa luta contra esse cenário de hipocrisia que judia até hoje as mulheres. Mas, o delicado está em poupar esse lado do Nelson, você não consegue elevar seu trabalho e obter o olhar crítico. Porque se você fizer um Nelson Rodrigues tentando poupar do machismo, você vai tirar essa crítica e aí é como se você estivesse passando a mão na cabeça dos machistas. Então, é delicado, precisa aprofundar e exagerar nessas tintas do machismo para ter relevância. E também lembrar que ele foi um cara que, na época, criticou muito a sociedade, a mediocridade da sociedade, algo que existe até hoje. 

A obra é um clássico, porque até hoje as coisas ainda acontecem. Só que a gente aceitava a imposição da sociedade naquela época. Éramos conduzidos e obrigados a aceitar. Essa nuance entre o que nós vivemos hoje e como era na época, é ainda muito difícil de lidar. Nós, mulheres, ainda estamos conquistando nosso espaço, lutando pela diversidade, lutando contra o machismo, tentando se proteger do feminicídio e preconceitos de todos os gêneros. Então, é difícil, porque ele vivia numa época em que isso era estupidamente aceitável. 

DC: Você sempre foi muito ágil em seu trabalho como roteirista e diretora e agora fala em “doutrina”, como exatamente seus estudos estão mudando seu trabalho?

Mara Carvalho: Sou uma eterna estudiosa. Quando eu pego um trabalho para fazer, me aprofundo naquele assunto que estou desenvolvendo. Mas, é por isso também que falo que estou trabalhando horas e horas. Isto porque não estou apenas escrevendo, estou pesquisando e me aprofundando. Estou sempre em busca de recursos e subsídios para conseguir escrever e chegar num lugar que fico satisfeita. Este é o primeiro passo. A dificuldade maior, às vezes, é a própria autocrítica. 

Essa doutrina é cerceada, criada por mim mesma. É por isso que roteirizar, para mim, hoje é um exercício muito mais desgastante, no bom sentido. Como falei, adoro fazer, mas é desgastante pela quantidade de horas trabalhadas. 

DC: Agora falando sobre seu sucesso no teatro, Baixa Terapia tem sido um fenômeno, bem aceito pelo público e crítica, como tem sido atuar neste sucesso?

Mara Carvalho: Ah, vamos combinar que atuar no sucesso é sempre melhor do que atuar num fracasso [risos]. Sou grata ao universo, com a escolha do Fagundes, o fato de eu estar nesse elenco. Tem sido um grande prazer e, ao mesmo tempo, um desafio. 

O ator, principalmente no teatro, não tem final de semana, não tem férias. Temos que priorizar a temporada e pronto. É um trabalho também de dedicação, mas muito feliz. Com sucesso, tudo fica mais prazeroso. 

DC: Em São Paulo, Baixa Terapia superou todas as expectativas, o que você espera do público carioca nesta temporada? 

Mara Carvalho: Em São Paulo, superou todas as expectativas. No Rio, espero tanto sucesso quanto na capital paulista, para, assim, prolongar a temporada até o final do ano. 

DC: Quais são as semelhanças entre você e Paula, sua personagem em Baixa Terapia?

Mara Carvalho: Nos personagens, você sempre encontra uma série de caminhos que colam no teu. E, para a Paula, eu trouxe um humor que não existia. Ela não tinha nenhum humor na proposta inicial. A busca pela verdade também é outra característica obrigatória em qualquer personagem. 

Mas, não sou muito parecida com a minha personagem. Paula é uma mulher que expõe tudo o que fala. Sou assim também, mas tenho um tato, por exemplo, que a minha personagem não tem. Quanto mais diferente, mais legal! É incrível quando os personagens não permeiam a sua personalidade e cria-se a necessidade de encontrar uma outra Mara para se conectar com a alma da Paula.

DC: Além da arte, você também tem uma verte empresarial, abriu o “El Mercado Ibérico”, como tem sido sua experiência na gastronomia e com seu lado empreendedor? 

Mara Carvalho: Sempre quis ter um paralelo. As pessoas chamam de plano B e hoje vejo que não existe, porque todos os planos são A, senão a gente não sai do lugar. Você tem que se dedicar completamente, tem que absorver tudo aquilo que você precisa, aprender a traçar novos caminhos e lidar com as pessoas também. Tem que se doar. 

Nunca achei que seria fácil, mas também vi o quanto é difícil manter uma maneira de conseguir conciliar o tempo entre uma coisa e outra. Mas a experiência tem sido maravilhosa! O El Mercado Ibérico é um grande sucesso, a comida é maravilhosa, os vinhos exclusivos, queijos e outros produtos que vendemos também são incríveis, assim como as sobremesas. Meu sócio, espanhol, é um cara muito dedicado, talentoso e leal. 

Estou muito feliz com esse lado empreendedor e também me dedico ao máximo para poder aprender coisas novas e transitar por esse universo do empreendedorismo. 

DC: Sempre que se fala em Mara Carvalho, fica difícil não haver uma ligação com boa forma e bem-estar, como concilia sua agenda atribulada com os cuidados com o corpo? 

Mara Carvalho: O cuidado do corpo precisa ser feito junto ao cuidado da mente e da alma. Sempre tive essa disciplina, fiz dietas, sempre evitei comidas que fazem mal à saúde e sempre fiz esportes. Aprendi a gostar de praticar esportes e uma coisa foi levando a outra. 

Esteticamente você também conquista coisas que você começa a gostar. São benefícios para a saúde e para o físico. Sou profundamente dedicada e disciplinada às coisas que estão nas minhas mãos, comigo não tem desculpa. Eu falava: “Quero correr uma maratona”, então treinava para correr uma. Isso veio do sentimento de superação que me dá um aporte muito grande, me deixando fortificada para os tombos que levei na minha carreira. Eu caía, levantava e continuava. Isso se transformou numa característica da minha personalidade, que me ajudou muito no trabalho. “Não desista!”, é o que penso. Chega com o joelho sangrando, mas chega. 

Sempre usei esse traço de personalidade para os meus projetos, para as obras, para o meu trabalho artístico o tempo inteiro. Eu devo muito dos meus resultados ao esporte que me ajudou a ter esse tipo de força e superação.

DC: Em tempos de Baixa Terapia e alta exposição, quais são suas relações com o universo virtual e redes sociais? Como há maior proximidade com o público, também há maior probabilidade de críticas e “julgamentos”, já chegou a ter problemas neste sentido? 

Mara Carvalho: Não tenho problemas com as redes sociais, até porque não me posiciono muito nelas. Embora tenham uma força importante, elas são castradoras e preconceituosas. São nichadas e muitas criam bolhas. Quando você levanta uma bandeira da democracia, independente de qualquer partido, e alguém interage, ao invés de abrir uma discussão, vem o cancelamento. É uma aniquilação pelo opositor, simplesmente por ter uma opinião diferente. 

Acho que estamos meio escravizados por isso. Nós deveríamos usar [as redes] a nosso favor e não permitir que ela nos use. Hoje é necessário ter milhões de seguidores, se não você não arruma um bacana. 

Antes conhecíamos o ator apenas artisticamente. Não sabíamos detalhes de sua vida privada, porque não havia exposição. Agora esta exposição é que te faz ter seguidores, e não o seu talento artístico. É o que você come e como se comporta. Essa mistura pode até ter seu lado positivo, mas é muito invasiva levando a constantes julgamentos o tempo inteiro. As pessoas julgam sem nenhum filtro e as falas têm poder. Acho que as pessoas ficaram mais fragmentadas, ninguém se aprofunda muito. 

As redes sociais são tendência, mas não podemos ficar presos e escravizados, até porque muita coisa é mentira! Rostos fakes, felicidades exageradas. Eu uso as redes e acho até divertido, mas quando te julgam com sinais que às vezes você nem pensou é muito ruim. Tento não me deixar dominar, minha vida é muito mais do que isso, eu quero ser livre. E tudo fica muito bobo, até porque em muitos dos casos são julgamentos superficiais. 

DC: Quais são seus próximos passos, o que o público em geral e seus fãs podem aguardar de você? 

Mara Carvalho: O público pode aguardar de mim muita entrega sempre. Nunca vou parar! Mesmo com as dificuldades de realizar um projeto. Agora estou escrevendo um roteiro para cinema e tenho que passar pela parte burocrática para conseguir chegar na realização final.

Também podem me acompanhar nas redes sociais [risos]. Não quero parar! Quero morrer no palco, set ou no computador escrevendo um novo roteiro. Tenho o [roteiro] da Gala Dalí, um projeto que estou falando faz tempo, mas tive que deixar um pouco de lado para me empenhar neste longa que estou escrevendo para o cinema A ideia é fazer um monólogo sobre a Gala, esposa do Salvador Dalí. Apesar de ser uma mulher incrível, ela sempre viveu à sombra do marido. E é até difícil encontrar material apenas sobre ela, porque tudo o que tem, vem do Dalí. Me identifico com a história dela e acho importante abordar esta questão. E assim vou. Tem mais outro filme para escrever. Estou em “Baixa Terapia”. Recebi outros convites no teatro e vou tentar conciliar com tudo.