Rio de Janeiro, 24 de julho de 2025 – No próximo domingo, 27, a orla de Copacabana será tomada pela 11ª Marcha das Mulheres Negras, reunindo milhares em defesa do bem viver, da democracia e da memória de Marielle Franco.
Vozes negras rompem o silêncio imposto pelas estruturas
A Marcha das Mulheres Negras, que chega à sua 11ª edição neste domingo, se consolida como um dos mais importantes atos de enfrentamento ao racismo, ao patriarcado e à violência política no Brasil. O protesto, que ocupará as ruas de Copacabana com arte, música, ancestralidade e denúncia, acontece justamente no mês de nascimento de Marielle Franco — mulher negra, periférica, vereadora brutalmente assassinada em 2018, e cujo legado permanece vivo nas lutas cotidianas.
A escolha do dia 27 de julho, data próxima ao aniversário de Marielle, não é casual. Trata-se de um gesto político e simbólico: cada passo na orla reafirma que as mulheres negras não serão apagadas. Elas não apenas existem — resistem e reconstroem o país a partir da base, das margens, das favelas e da história que o poder tenta enterrar.
Mobilização para a Marcha Nacional e denúncia da necropolítica
Além de afirmar a centralidade das mulheres negras na política e na cultura brasileira, a Marcha serve como preparação para a grande mobilização nacional marcada para novembro, em Brasília. A expectativa é reunir mais de um milhão de mulheres negras de todo o país. Elas marcharão contra um Estado que escolhe quem deve viver e quem pode morrer — e, historicamente, condena à morte a população negra.
Os números são incontornáveis. Segundo dados do Atlas da Violência, 66% das mulheres assassinadas no Brasil são negras. E 63% das famílias chefiadas por mulheres negras vivem abaixo da linha da pobreza. Em vez de políticas públicas, o que se vê é abandono e violência. A Marcha, portanto, é denúncia viva da necropolítica brasileira.
Instituto Marielle Franco articula, forma e resiste
O Instituto Marielle Franco, um dos principais articuladores da Marcha, tem papel central na mobilização de coletivos e lideranças da cidade. Criado para transformar em ação concreta o legado político de Marielle, o Instituto cumpre a missão de amplificar vozes negras silenciadas pelas estruturas de poder.
Em julho, o Instituto realiza ações decisivas. No dia 25, inaugura a Escola Marielle de Comunicação no IFCS-UFRJ, com foco em jovens comunicadores negros das favelas. No dia 28, instala a escultura de Marielle Franco, criada por Paulo Nazareth, na UERJ — um símbolo de memória e permanência.
Ainda neste mês, Luyara Franco, filha de Marielle, assume a direção geral do Instituto. A transição representa a continuidade de um projeto político centrado no enfrentamento ao racismo institucional e na formação de novas lideranças negras, periféricas e LGBTQIA+.
Mulheres negras são o alicerce da democracia brasileira
A Marcha das Mulheres Negras é mais que protesto. É construção de país. Com batuques, falas públicas, performances e corpos em movimento, mulheres negras apontam um futuro possível — em que a democracia não seja privilégio de poucos, mas direito de todos.
Essa caminhada é também uma convocação: a imprensa não pode continuar alheia ao que pulsa nas ruas. Ignorar essa potência política é pactuar com o silenciamento. A Marcha reivindica cobertura responsável, profunda e comprometida com a escuta das vozes historicamente excluídas.
Perguntas e Respostas
O que é a Marcha das Mulheres Negras do Rio de Janeiro?
É um ato político-cultural que reúne mulheres negras de diversas partes do estado em Copacabana, denunciando o racismo, a violência e a exclusão, e promovendo o bem viver como horizonte coletivo.
Por que a marcha acontece em julho?
Julho é o mês de nascimento de Marielle Franco e da celebração do Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha (25/07). A data carrega forte simbolismo de resistência e ancestralidade.
Quem organiza a Marcha no Rio?
O ato é construído por diversas organizações e coletivos, com protagonismo do Instituto Marielle Franco, que articula ações de mobilização e comunicação.
Qual o objetivo da Marcha Nacional em novembro?
Reunir mais de 1 milhão de mulheres negras em Brasília para pressionar por políticas públicas e denunciar as desigualdades raciais, de gênero e territoriais no Brasil.
Como a população pode apoiar a Marcha?
Participando, divulgando, doando ou oferecendo apoio logístico aos coletivos organizadores. A solidariedade ativa é fundamental para a construção de um país mais justo.