Brasília, 16 de julho de 2025 — O governo dos Estados Unidos abriu investigação contra o sistema Pix e atacou o comércio popular brasileiro, classificando-os como práticas desleais que prejudicam corporações americanas.
Princípios Intransigentes
A ofensiva partiu do Escritório do Representante de Comércio dos Estados Unidos (USTR) e aciona a mesma cláusula legal que justificou, em 2019, a guerra tarifária contra a China. O alvo agora é o Brasil — mais precisamente, o Pix, plataforma pública de transferência instantânea operada pelo Banco Central, e o centro comercial da rua 25 de Março, em São Paulo. A denúncia, conduzida sob a Seção 301 da Lei de Comércio de 1974, afirma que o país promove “serviços de pagamento eletrônico desenvolvidos pelo governo” em detrimento de empresas norte-americanas.
O relatório, tornado público nesta terça (15), escancara o incômodo com o sucesso de uma tecnologia gratuita e estatal que escapa ao controle das grandes corporações financeiras dos EUA. O Pix tem mais de 160 milhões de usuários, circula cerca de R$ 3,5 trilhões por mês e já inspira sistemas semelhantes em países do Sul Global. O que os Estados Unidos classificam como concorrência desleal é, na verdade, a democratização do dinheiro digital em larga escala.
Capital em alerta contra o que não controla
Mais do que uma disputa comercial, o ataque é político. O ex-representante comercial e atual articulador da campanha de Donald Trump, Jamieson Greer, declarou que a investigação é parte do esforço para proteger o que chama de “trabalhadores americanos ligados à inovação e criatividade”. Na prática, o discurso reaquece o protecionismo imperial sob uma nova fachada: criminalizar qualquer forma de autonomia econômica do Sul Global.
A menção à 25 de Março, associada a produtos falsificados, é simbólica. O texto do USTR afirma que o Brasil falha ao coibir “a importação, distribuição, venda e uso generalizado de produtos falsificados” e ataca diretamente “dispositivos de streaming ilícitos, consoles de jogos modificados e outros dispositivos de violação”. Ao equiparar informalidade e pirataria com ameaça comercial, os EUA reafirmam seu histórico de criminalizar economias populares como forma de preservar monopólios globais.
Uma ofensiva econômica com alvo político
O relatório vai além: questiona tarifas brasileiras, subsídios a países aliados, o combate ao desmatamento, restrições a empresas de tecnologia dos EUA e até a política de importação de etanol. Trata-se de um pacote de pressões com motivações múltiplas, mas um foco definido — intimidar qualquer projeto de soberania econômica fora do eixo imperial.
A invocação da Seção 301 permite ao governo estadunidense impor sanções unilaterais, como fez com a China. O que está em curso não é apenas uma investigação comercial: é a tentativa de conter o avanço de soluções públicas e acessíveis em finanças, tecnologia e comércio que escapam à lógica dos mercados dominados por Washington.
Um modelo estatal que desafia monopólios
O Pix não é só uma tecnologia: é um símbolo. Criado no auge da pandemia e promovido por um Banco Central ainda independente, o sistema tornou-se referência mundial por sua eficiência, custo zero e inclusão financeira. Nos últimos anos, países como Colômbia, Argentina e Índia estudaram modelos similares — e os EUA, que apostam em soluções privadas como o FedNow, veem seu controle ameaçado.
Ao chamar o Pix de “barreira injusta ao comércio”, os EUA revelam o que está em jogo: não a defesa da livre concorrência, mas a preservação da hegemonia econômica. O que os incomoda não é o “modelo brasileiro”, mas sua eficácia fora da lógica do lucro. Uma tecnologia estatal, gratuita e funcional rompe com a cartilha neoliberal — e por isso, vira alvo.
Perguntas e Respostas
O que os EUA estão investigando exatamente?
O uso do Pix e o comércio informal como práticas desleais que supostamente prejudicam empresas americanas.
O que é a Seção 301 da Lei de Comércio dos EUA?
Uma norma que permite sanções unilaterais contra países que adotem medidas consideradas injustas.
Por que o Pix incomoda os EUA?
Porque é um sistema estatal gratuito que desafia empresas privadas de pagamentos digitais nos EUA.
O que significa citar a 25 de Março no relatório?
É criminalizar a economia informal e associá-la a pirataria como estratégia de pressão comercial.
O Brasil pode ser sancionado?
Sim, caso os EUA decidam impor tarifas ou barreiras com base na investigação.