O Desapego Estratégico
O Centrão não tem amigos; tem interesses. A ascensão de Hugo Motta à presidência da Câmara dos Deputados consolida a ideia de que o bloco é maior que seus líderes, mantendo o poder informal do Legislativo no ápice da política nacional.
Motta herda o legado de poder estabelecido por Arthur Lira e, com ele, a missão de conduzir o bloco para a próxima grande negociação: a eleição de 2026.
Após o divórcio com Jair Bolsonaro – consolidado com o fim do Orçamento Secreto e a prisão do ex-presidente –, o Centrão já se move, de forma fria e calculista, para garantir um nome na chapa de 2026 que seja palatável à direita, mas que garanta a continuidade do esquema de poder do Centrão. O nome de Tarcísio de Freitas (Republicanos/SP) surge como o ponto central desse xadrez.

O Legado Lira e o Continuísmo Motta
Arthur Lira elevou o conceito de governabilidade transacional a um novo patamar, transformando a Presidência da Câmara em um centro de poder quase superior ao Planalto. A gestão de Lira consolidou o controle do Orçamento e o poder de pauta como as maiores armas do Centrão.
Hugo Motta não representa uma ruptura, mas sim a continuação institucional do modelo de poder do bloco. Seu mandato é manter a hegemonia legislativa e o acesso ininterrupto aos recursos federais.
A Institucionalização do Toma Lá, Dá Cá
O poder do Centrão sob Motta continua garantido por:
- Poder de Pauta: O controle sobre a agenda da Câmara permite transformar o ritmo de votações em uma ferramenta de pressão diária sobre o Planalto, essencial para forçar concessões.
- Controle de Cargos: O PP e o Republicanos mantêm influência sobre órgãos chave como a FUNASA e, crucialmente, o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), essenciais para a distribuição de verbas regionais.
A força do novo presidente reside em sua lealdade ao bloco e na capacidade de entregar a maioria legislativa em troca do acesso ao cofre.

O Xadrez para 2026: A Busca pelo Vice
A verdadeira jogada de mestre do Centrão para 2026 é se descolar do bolsonarismo mais radical e se posicionar no centro da direita moderada. O objetivo não é necessariamente lançar um candidato à Presidência, mas sim emplacar o Vice ou negociar uma fatia inquestionável do governo eleito.
Tarcísio de Freitas e o Pragmatismo do Republicanos
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, apesar de ter sido lançado por Bolsonaro, pertence ao Republicanos, um partido firmemente ancorado no Centrão.
A estratégia de Motta e do Centrão é dupla:
- Apoio ao Nome Forte: Se Tarcísio se consolidar como o nome da direita, o Centrão se unirá em torno dele.
- Garantia do Acesso: O objetivo central é emplacar o Vice-Presidente ou controlar o maior número possível de ministérios e órgãos-chave, garantindo que o acesso ao Orçamento Federal não seja interrompido.
O Centrão, agora sob Motta, sabe que um presidente de seu DNA é muito menos propenso a lutar contra os mecanismos de emendas e nomeações de segundo escalão do que um “outsider” ideológico.
IV. O Futuro do Bloco: Maior que Seus Líderes
A transição de Arthur Lira para Hugo Motta apenas sublinha a tese central: o Centrão é maior que seus líderes. Ele é uma força estrutural da política brasileira.
O Compromisso Inabalável: O Dinheiro
O mandato de Motta e de seus sucessores será o mesmo: manter o Orçamento Federal como arma de negociação. Enquanto o sistema eleitoral e partidário permanecer fragmentado, o Centrão continuará sendo a instituição de estabilização mais importante do Congresso. Seu poder será inabalável, cobrando um alto preço em concessões, lentidão para reformas e o sacrifício da gestão técnica em favor da gestão política.
LEIA MAIS: A articulação para 2026 é apenas o capítulo mais recente de uma história de barganha de mais de 30 anos. Para a análise completa de como o bloco se tornou o freio estrutural da política, leia o Artigo Pilar do Diário Carioca: O Poder Inabalável do Centrão e a Ascensão da Direita Enrustida.




