O presidente da Câmara, Hugo Motta, desencadeou uma nova crise ao anunciar o rompimento com o líder do PT, Lindbergh Farias, após semanas de confrontos internos.
O episódio expôs a estratégia crescente de obstrução do comando da Casa, que opera para limitar a agenda do governo Lula e reforçar sua própria musculatura política no Congresso.
A ruptura ocorreu depois de reclamações de aliados de Motta sobre a postura combativa de Lindbergh, acusando-o — de forma considerada desproporcional pelo Planalto — de tensionar debates e pressionar a Câmara a assumir responsabilidade pública por derrotas legislativas. Para interlocutores do governo, o movimento de Motta buscou deslocar a responsabilidade pelo desgaste para o PT, preservando sua própria narrativa.
A crise explodiu durante a tramitação do Projeto de Lei Antifacção, peça central da política de segurança pública enviada pelo Executivo. Motta designou o deputado Guilherme Derrite como relator, figura alinhada ao bolsonarismo e ao governador Tarcísio de Freitas, que alterou pontos centrais do texto do governo. As mudanças desmontaram diretrizes estratégicas do Planalto, e a orientação do Executivo foi derrotada em plenário.
A escolha do relator foi lida como um gesto calculado. O Planalto avalia que Motta acionou um “pivô de desgaste” para avançar sua independência às custas do governo, elevando sua capacidade de negociação em outras pautas. Nos bastidores, lideranças do Centrão admitem que a articulação piorou de forma inédita. Deputados relatam frustração com acordos não concluídos sobre cargos e execução orçamentária — argumentos usados por Motta para tensionar ainda mais a relação.
O presidente da Câmara, porém, mantém acenos públicos a setores específicos do Executivo. Aliados afirmam que não houve ruptura com a ministra Gleisi Hoffmann, responsável pela interlocução institucional, apesar do evidente esfriamento. A avaliação interna é de que a articulação segue irregular e vulnerável a sabotagens coordenadas.
A deterioração é ainda mais relevante porque Motta chegou ao comando da Casa com apoio transversal, articulado inclusive por Lindbergh e Gleisi, que ajudaram a construir um consenso amplo entre PT, Centrão e parte do PL. Desde então, o presidente da Câmara protagonizou episódios críticos, como a derrubada do decreto do IOF, resistência à MP que aumentava impostos e disputas recentes sobre segurança pública.
Insight Editorial — Projeção de Cenário
Se a crise avançar, o governo corre o risco de ver projetos estruturais travados em comissões e no plenário, abrindo espaço para que Motta amplifique uma agenda própria e fortaleça blocos conservadores. A estabilidade institucional dependerá da capacidade do Planalto de recompor pontes e de isolar movimentos de sabotagem que buscam capitalizar o desgaste público.

