Berlim – Em um movimento que quebra décadas de submissão diplomática, o chanceler alemão Friedrich Merz enfim deu nome ao massacre: o que Israel faz na Faixa de Gaza não tem mais “nenhuma lógica compreensível”. A frase, dita sem rodeios durante visita oficial à Finlândia, escancarou a ruptura da Alemanha com sua tradicional omissão cúmplice diante das atrocidades cometidas pelo regime israelense contra o povo palestino.
Merz não é qualquer um. Herdeiro do conservadorismo que sempre tratou Israel como assunto sagrado pós-Holocausto, sua guinada crítica é simbólica, estratégica e inevitavelmente política. “Os ataques militares massivos dos israelenses na Faixa de Gaza não revelam mais nenhuma lógica”, afirmou, visivelmente desconfortável com o papel de avalista internacional de um cerco cada vez mais descrito como genocida.
Chanceler toca no tabu: armas, silêncio e hipocrisia
A Alemanha não é só uma aliada ideológica de Israel. É o maior fornecedor europeu de armas para o governo de Benjamin Netanyahu, e o segundo maior do mundo, atrás apenas dos EUA. Em 2024, o comércio bilateral somou 42,6 bilhões de euros — um vínculo que vem sustentando a impunidade israelense mesmo diante de crimes de guerra denunciados pela ONU, pela Corte Internacional de Justiça e por dezenas de organizações de direitos humanos.
Ao dizer que “não fornecerá armas que permitam novas violações”, o governo alemão sinaliza que está disposto a reavaliar contratos militares. A frase, dita pelo ministro das Relações Exteriores Johann Wadephul, pode parecer moderada. Mas para padrões alemães, ela soa como terremoto.
Europa reage: pressão cresce por sanções e embargos
A fala de Merz criou ondas em Bruxelas. Pela primeira vez, Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, chamou de “abominável” o ataque de Israel a uma escola que servia como abrigo, matando ao menos 30 civis, entre eles crianças. Fontes diplomáticas da UE admitem que o novo tom alemão encorajou outros países a saírem da inércia — e Bélgica e Espanha já pressionam por restrições comerciais a Israel.
Na semana passada, a Alemanha ainda relutava. Berlim votou contra a proposta de revisar se Israel cumpre os princípios de direitos humanos do seu acordo com a UE. Mas o cenário mudou. Friedrich Merz agora exige que Israel seja pressionado a liberar ajuda humanitária real. Não mais promessas, mas acesso direto, garantido e fiscalizado.
Gaza sangra sob o silêncio cúmplice da “comunidade internacional”
A mudança no discurso ocorre em meio a mais um episódio brutal: uma tentativa da Fundação Humanitária de Gaza (GHF) de distribuir alimentos em uma zona supostamente “segura” foi recebida a tiros pelo Exército de Israel. O resultado: 48 feridos e pelo menos uma morte. Como sempre, Israel diz que foram apenas “tiros de advertência”. Como sempre, o mundo assiste — ou assistia — calado.
Para Wadephul, usar o combate ao antissemitismo como escudo para justificar massacres é inaceitável. “Nosso apoio ao direito de existir de Israel não pode ser instrumentalizado para acobertar guerra e destruição em massa”, disse o chanceler adjunto.
Velha culpa, nova vergonha: Berlim rompe com a narrativa da submissão
Durante décadas, a política externa alemã foi guiada por uma lógica de “culpa histórica” pelo Holocausto, que gerou um apoio irrestrito — e muitas vezes irracional — ao governo israelense. Mas o mundo mudou. E a Alemanha começa a entender que honrar os mortos do passado não pode justificar novos crimes no presente.
Israel, claro, não gostou. O embaixador do país em Berlim disse à TV ZDF que “ouve atentamente” quando Merz fala. O tom é diplomático. Mas o recado está dado: a Alemanha não está mais disposta a aplaudir genocídios em nome da memória.
O Carioca esclarece
Quem é Friedrich Merz e por que sua fala é importante?
Merz é o chanceler alemão e líder da centro-direita. Sua crítica pública representa uma guinada na política externa alemã, historicamente alinhada a Israel.
Por que a Alemanha é tão relevante para Israel?
Além de ser o principal fornecedor europeu de armas ao país, a Alemanha lidera a economia da União Europeia, maior parceiro comercial de Israel.
Quais as consequências geopolíticas dessa mudança?
A posição de Berlim pode influenciar outros países europeus a adotarem sanções ou reverem seus acordos com Israel.
Como isso afeta os direitos humanos e a democracia?
Ao romper o silêncio, a Alemanha pressiona Israel a cumprir o Direito Internacional Humanitário e abre caminho para uma responsabilização global por crimes de guerra.

			
		
		
		
		
		
		
		
		
		
		
		
		
		
		
		
		
		
		
		