Brasília, 15 de julho de 2025 — Em levantamento feito em 25 países, a China foi apontada como a maior potência econômica mundial, superando os Estados Unidos na percepção pública global. No Brasil, a disputa entre influência e autonomia segue em curso.
A virada simbólica no tabuleiro global
A pesquisa do Pew Research Center, realizada com mais de 31 mil entrevistados entre janeiro e abril de 2024, evidencia um deslocamento geopolítico no imaginário popular. Em média, 41% das pessoas ouvidas identificam a China como a principal economia mundial. Os EUA ficaram em segundo lugar, com 39%. Há dois anos, o cenário era inverso: os estadunidenses lideravam com margem confortável.
Esse resultado, embora simbólico, revela mais do que um balanço de exportações ou de PIB. A percepção da China como potência dominante sinaliza uma erosão da centralidade estadunidense em temas econômicos e comerciais, especialmente em países do Sul Global. Alemanha, Indonésia e México já identificam majoritariamente Pequim como o novo polo de poder financeiro.
Brasil dividido entre pragmatismo e vigilância
No Brasil, o resultado revela uma transição em curso. Quarenta por cento dos entrevistados ainda apontam os EUA como a maior potência econômica, mas esse número caiu dois pontos em relação a 2023. A China subiu seis pontos, chegando a 36%. Quando questionados sobre os investimentos externos, 58% dos brasileiros têm visão favorável ao capital chinês. Os EUA seguem bem avaliados, com 54%.
Apesar disso, 60% veem a dívida do país com a China como um “problema muito sério”. A contradição sintetiza o dilema de uma economia periférica diante do novo arranjo multipolar: a China aparece como alternativa concreta ao eixo estadunidense, mas sua presença crescente também gera temores de dependência.
Imperialismo americano ainda incomoda mais
Embora a visão global sobre a China siga majoritariamente negativa — com 54% avaliando mal o país, contra 36% com opinião positiva — o Brasil caminha em sentido oposto. Aqui, 51% têm imagem favorável de Pequim. Só 40% expressam uma visão negativa.
Quando a pergunta muda de eixo e foca em ameaças, o diagnóstico é ainda mais revelador. No Brasil, 29% apontam os EUA como a maior ameaça à soberania nacional. A China aparece com 15%, e a Rússia com 12%. Em países como México, Argentina, Indonésia e África do Sul, o padrão se repete.
A hostilidade estadunidense — expressa em pressões tarifárias, ingerência diplomática e políticas extraterritoriais — parece pesar mais que o receio de um novo hegemôn.
China cresce, mas não lidera sozinha
Ainda que a percepção global coloque a China na dianteira econômica, a mesma pesquisa mostra que a maioria dos entrevistados prefere manter laços comerciais com os EUA. No Brasil, 51% priorizam relações com Washington; 36% com Pequim.
O relatório sugere que a desconfiança em relação a Donald Trump, potencial candidato à reeleição nos EUA, também influencia essa balança. Em países onde Trump é mal avaliado, cresce a preferência por vínculos com a China.
A disputa entre Washington e Pequim, embora assimétrica em muitos aspectos, já não se dá mais nos termos de Guerra Fria. O novo eixo é fluido, contraditório e atravessado por fatores como dívida, acesso a crédito, cooperação tecnológica e disputa por infraestrutura.
Perguntas e Respostas
A China já é a maior economia do mundo?
Não em termos absolutos, mas na percepção pública global, sim. Ela superou os EUA na maioria dos países pesquisados.
O Brasil prefere relações com quem?
A maioria ainda escolhe os EUA, mas a simpatia pela China cresce de forma consistente, especialmente entre os mais jovens.
Os brasileiros têm visão positiva da China?
Sim. A maioria vê a China de forma favorável, diferentemente de países do Norte Global, onde a imagem ainda é negativa.
A dívida brasileira com a China preocupa?
Sim. Sessenta por cento dos entrevistados veem a dívida como um problema grave e crescente.
Os EUA ainda são vistos como ameaça?
No Brasil e em vários países do Sul Global, sim. A percepção de ingerência americana continua forte.