Sem carne moída, não há hambúrguer. Sem hambúrguer, como satisfazer o apetite dos americanos? Esse é o dilema que o Brasil enfrenta no momento, após os Estados Unidos imporem tarifas elevadas sobre a carne brasileira.
Michael Skahill, diretor-executivo da Meat Import Council of America (Mica), enviou carta ao governo brasileiro solicitando a revisão das taxas. Ele alerta que os EUA enfrentam deficiência estrutural em aparas bovinas magras, essenciais para misturar com cortes mais gordurosos e produzir carne moída. O rebanho americano é otimizado para bifes marmoreados, tornando insuficiente a produção interna desse tipo de corte.
“As aparas magras importadas do Brasil são usadas pelos processadores americanos para atender à demanda de cerca de 50 bilhões de hambúrgueres consumidos anualmente no país. Sem elas, a produção ficaria mais cara e limitada”, disse Skahill.
Em 2024, os americanos gastaram US$ 15,3 bilhões em carne moída, aumento de 10% em relação a 2023. As projeções indicam que a produção doméstica seguirá restrita até 2027, reforçando a dependência das importações brasileiras.
Atualmente, o Brasil exporta cerca de 400 mil toneladas de carne para os EUA por ano. Antes do tarifaço de agosto, a taxa aplicada era de 36,4%; agora, chega a 76,4%, percentual que, segundo a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), inviabiliza a venda do produto.
O caso está relacionado à Seção 301 da Lei do Comércio dos EUA, que permite ao presidente adotar medidas contra países que violem regras internacionais ou restrinjam o comércio americano.
A consulta pública sobre a questão está aberta, e uma audiência está marcada para 3 de setembro.
Caso não haja acordo, os EUA podem aplicar sanções unilaterais ou levar a disputa à Organização Mundial do Comércio (OMC), prejudicando ainda mais as exportações brasileiras.