O Exército de Israel anunciou nesta sexta-feira que a Cidade de Gaza, a mais populosa da Faixa, passa a ser tratada como “zona de combate perigosa”. A decisão encerra o corredor humanitário que permitia a entrada de ajuda e abre uma nova etapa da ofensiva ordenada pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, que insiste em uma “vitória total” sobre o Hamas.
Corredor humanitário suspenso
O comunicado militar informou que, a partir das 10h locais (4h em Brasília), deixam de valer as pausas táticas aplicadas em trechos da Faixa de Gaza. Essas interrupções eram destinadas ao fluxo de ajuda humanitária, agora bloqueado na Cidade de Gaza, onde vivem cerca de 1 milhão de palestinos, segundo a ONU.
Grande parte dessa população chegou após fugir de outras regiões devastadas pela ofensiva, que já dura quase dois anos. Nos últimos dias, o Exército intensificou ordens de evacuação, classificadas como “inevitáveis” por porta-vozes militares.
Pressão sobre civis palestinos
O porta-voz Avichay Adraee declarou que famílias que se deslocarem para o sul receberão “a maior assistência humanitária possível”. Estruturas de acolhimento com tendas e centros de abastecimento foram anunciadas.
Líderes religiosos locais, contudo, alertaram que abandonar a cidade “equivale a uma sentença de morte”, diante da insegurança no trajeto e da precariedade nas áreas designadas para os deslocados. Imagens da AFP mostram vans e carros sobrecarregados com colchões, cadeiras e sacolas, numa fuga marcada pelo desespero.
A ONU advertiu que o deslocamento forçado em massa pode configurar crime de guerra, ampliando a pressão diplomática contra Israel.
Bombardeios e cerco militar
Nos últimos dias, tanques israelenses entraram no bairro de Ebad-Alrahman e bombardearam casas, relataram moradores à Reuters. Em Zeitoun, drones e aviões atacaram durante a madrugada, segundo testemunhas à AFP.
Desde 8 de agosto, quando Netanyahu aprovou formalmente o plano de ocupação da Cidade de Gaza, os ataques se tornaram diários. O objetivo é consolidar o controle militar sobre a região antes de expandir a ofensiva para toda a Faixa.
Reações internacionais
Diversos países e o papa Leão XIV apelaram por aceitação da proposta de cessar-fogo mediada por Egito e Catar. O Hamas já declarou apoio ao acordo, incluindo a libertação parcial de reféns, mas Netanyahu rejeitou a iniciativa.
O ministro da Defesa Israel Katz endureceu a posição: “A Cidade de Gaza será destruída caso o Hamas não aceite o fim da guerra nos termos de Israel”.
Ocupação prolongada
A ofensiva prevê escalada de incursões terrestres com tanques e 60 mil reservistas mobilizados. Fontes militares descrevem a estratégia como “progressiva e seletiva”, voltada a áreas onde o Hamas ainda mantém presença.
A rádio militar israelense antecipou que a operação deve se estender até 2026. O chefe do Estado-Maior, general Eyal Zamir, inicialmente contrário à ação imediata, agora se diz alinhado ao governo na meta de ocupação total.
Colapso humanitário
Enquanto Israel impõe cerco total, a ONU relata fome generalizada, colapso nos serviços básicos e risco de deslocamento em massa. A Cidade de Gaza tornou-se o símbolo da devastação e da resistência palestina diante de um genocídio sem perspectiva de término.
A promessa de Netanyahu de “tomar Gaza de qualquer maneira” sinaliza que o conflito pode se prolongar por anos, deixando milhões de civis sob ataque contínuo.