A polícia francesa deteve cerca de 200 pessoas nesta quarta-feira durante os protestos do movimento “Bloqueiem tudo” (“Bloquons tout”), que buscava paralisar transportes e a rotina urbana em todo o país. A mobilização ocorre dois dias após o colapso do governo do primeiro-ministro François Bayrou, em meio a medidas de austeridade impopulares.
Mobilização e confrontos em Paris
As autoridades deslocaram 80 mil policiais e gendarmes para conter a onda de protestos. Em Paris, foram registradas 95 detenções, com mais oito ocorrendo fora da capital. Manifestantes atearam fogo em caixotes de lixo, construíram barricadas e tentaram bloquear vias e carris de transporte, sendo impedidos pelas forças de segurança.
Na Porte de Montreuil, no leste da cidade, manifestantes incendiaram lixo e tentaram obstruir o tráfego do elétrico. Próximo à Gare du Nord, centenas se reuniram, obrigando a polícia a fechar acessos e controlar entradas. Apesar disso, alguns manifestantes tentaram forçar a entrada na estação.
Marie, participante do movimento, afirmou à imprensa: “Hoje estamos aqui para mostrar a Macron que estamos fartos de tudo isto. Ele não pode continuar a ignorar o que o povo quer”, mencionando também os cortes que afetarão o setor cultural.
Apoio e críticas à mobilização
Enquanto alguns transeuntes expressaram solidariedade com os manifestantes, outros criticaram o vandalismo. Nesrine, gestora de projetos em Montreuil, disse: “Concordo que devemos ter o direito de protestar… mas não acho que devemos quebrar coisas. Quem paga somos nós, os contribuintes.”
O movimento “Bloqueiem tudo”, sem liderança central, cresceu no verão em reação à inflação, medidas de austeridade e ao que considera uma classe política disfuncional. Diferente dos Coletes Amarelos de 2018, os protestos contam com forte articulação online.
Apoio sindical e contexto político
Dois grandes sindicatos, CGT e SUD, apoiaram as ações desta quarta-feira, enquanto novas greves estão previstas para 18 de setembro. Pesquisas indicam que 46% dos franceses apoiam o movimento, incluindo eleitores da esquerda e da extrema-direita (Rassemblement National).
Os protestos também abordam cortes em reembolsos médicos, com alertas de que até 6 mil farmácias poderão fechar devido à crise. A queda do governo Bayrou foi motivada por medidas impopulares, como a redução de feriados bancários para reduzir o déficit público. Alguns manifestantes exigem que o presidente Emmanuel Macron dissolva a Assembleia Nacional e convoque eleições antecipadas.
Estudantes e profissionais de diversas áreas demonstram insatisfação com desigualdades e políticas fiscais, reforçando a tensão social no país. Thomas, universitário, resumiu: “Estamos indignados com o sistema político e com o fato de que os ultra-ricos e as corporações não estão pagando impostos suficientes.”