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Retrocesso colonial

França reativa passado colonial e planeja presídio na Amazônia

Saint-Laurent-du-Maroni, Guiana Francesa – O governo de Emmanuel Macron decidiu ressuscitar fantasmas coloniais ao anunciar a construção de um presídio de segurança máxima na Amazônia, em plena selva da Guiana Francesa. O projeto, que pretende isolar traficantes e radicais islâmicos, irritou autoridades locais e aprofundou a já desgastada relação entre Paris e seus territórios ultramarinos.

Com previsão de inauguração em 2028, a nova prisão será erguida próxima a uma antiga colônia penal, num gesto que muitos chamam de “provocação histórica”. No pacote: R$ 2,5 bilhões, 500 celas e 15 vagas exclusivas para condenados por terrorismo. Mas nenhum sinal de diálogo com quem vive ali.


Macron impõe prisão na selva e ignora população local

A ideia do novo complexo penal, segundo o ministro da Justiça Gérald Darmanin, é clara: criar um bunker no meio da floresta para cortar conexões entre líderes do crime organizado e suas redes. “Sessenta vagas, um regime prisional extremamente rigoroso”, declarou ele ao Le Journal du Dimanche, sem esconder o tom de guerra.

O problema? Ninguém da Guiana foi consultado.

A revolta foi imediata. Em nota oficial, Jean-Paul Fereira, presidente interino da Coletividade Territorial da Guiana Francesa, acusou o governo de agir com “espanto e indignação”, revelando que nem os parlamentares locais sabiam da decisão.

“A Guiana não deve se tornar um depósito de criminosos e pessoas radicalizadas vindas da França continental.”


Uma cicatriz colonial que ainda sangra

A cidade escolhida, Saint-Laurent-du-Maroni, carrega o peso da história: foi sede de uma notória colônia penal que funcionou até o século 20 e enviou milhares à infame Ilha do Diabo — entre eles, presos políticos. A prisão inspirou o clássico Papillon, mas nada disso pareceu suficiente para impedir o governo francês de reabrir essa ferida.

O deputado local Jean-Victor Castor classificou o plano como “um insulto” e um retrocesso colonial explícito:

“É uma provocação política. Um insulto à nossa história.”


Um território francês com rosto invisível

Com a maior taxa de homicídios de todos os departamentos franceses — 20,6 assassinatos por 100 mil habitantes — e sendo rota de tráfico para a Europa, a Guiana Francesa vive sob abandono estrutural. Ainda assim, ao invés de investimento social ou reforma penitenciária real, o que chega é mais repressão.

E esse não é um episódio isolado. Paris continua impondo decisões à distância, ignorando as demandas por autonomia e a realidade de quem vive nos territórios ultramarinos. Como mostra o The Guardian, esse padrão centralizador tem sido fonte constante de conflitos e ressentimentos.


Prisão de alta segurança ou símbolo da arrogância francesa?

Mais que um novo presídio, o que está em jogo é o símbolo: enfiar uma superprisão no meio da floresta, sem diálogo com a população, é repetir práticas coloniais com roupagem moderna. E isso num lugar onde a memória penal já é sufocante demais.

Enquanto a França ergue muros no coração da Amazônia, o mundo observa — e a Guiana Francesa grita por respeito.


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Equipe de jornalistas do Jornal DC - Diário Carioca

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