A Justiça dos Estados Unidos proibiu, de forma temporária, o presidente Donald Trump de demitir a diretora do Federal Reserve (Fed), Lisa Cook. A medida foi tomada nesta terça-feira (9), após a economista acionar judicialmente a Casa Branca.
Trump havia anunciado a demissão de Cook no final de agosto, justificando a decisão com base em acusações de suposta fraude hipotecária cometida antes de sua nomeação. A economista, no entanto, contestou o afastamento, afirmando que o presidente não tem autoridade legal para retirá-la do posto.
Em sua ação, Cook alegou que a Lei do Federal Reserve, de 1913, permite a demissão de membros do conselho apenas por “justa causa” relacionada ao exercício da função, e não por episódios da vida pessoal ou anteriores à indicação.
Escalada contra a independência do Fed
A decisão de Trump foi classificada por especialistas como um ataque sem precedentes à independência do banco central americano. O Federal Reserve foi estruturado justamente para blindar a política monetária de pressões políticas, com mandatos longos e autônomos para seus diretores.
Peter Conti-Brown, professor da Universidade da Pensilvânia e especialista em história do Fed, ressaltou que as acusações levantadas pelo republicano já haviam sido analisadas durante a sabatina de Cook no Senado e não foram consideradas impeditivas para sua nomeação.
“Embora a lei não seja explícita, sua interpretação é de que ela se refere à conduta durante o exercício do cargo, e não a fatos anteriores ou aspectos da vida pessoal”, destacou.
Cook reage: “Não vou renunciar”
Em nota divulgada por meio de seu advogado, Lisa Cook afirmou que não existe base legal para a decisão de Trump.
“O presidente Trump alegou ter me demitido ‘por justa causa’, quando não há justa causa prevista em lei, e ele não tem autoridade para fazê-lo. Não vou renunciar. Continuarei a cumprir meus deveres para ajudar a economia americana, como venho fazendo desde 2022”, declarou.
O caso foi encaminhado ao Departamento de Justiça, que deve avaliar a legalidade da medida presidencial.
Risco de instabilidade nos mercados
A possível politização da política monetária preocupa investidores e analistas. A independência do Fed é considerada peça-chave para garantir estabilidade de preços e confiança internacional na economia dos EUA.
A intervenção direta de Trump, caso prospere, pode aumentar a volatilidade dos mercados em um momento já sensível, marcado pelos efeitos das tarifas comerciais e pela incerteza política em Washington.