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Por que Rússia e China adotaram uma postura “tímida” diante do ataque dos EUA ao Irã

De forma extremamente moderada, Rússia e China condenaram neste domingo (22) o ataque dos Estados Unidos contra as instalações nucleares do Irã. A operação, ordenada por Donald Trump, elevou ainda mais a tensão no Oriente Médio.

Apesar de serem os dois principais aliados estratégicos de Teerã, Moscou e Pequim emitiram comunicados diplomáticos muito mais suaves do que outros parceiros do Irã, limitando-se a críticas protocolares e pedidos por diálogo.

O Ministério das Relações Exteriores da Rússia classificou os bombardeios como uma “grave violação do direito internacional, da Carta das Nações Unidas e das resoluções do Conselho de Segurança da ONU”, mas não anunciou nenhuma medida concreta de retaliação ou apoio militar.

Por sua vez, a China se manifestou em tom igualmente moderado. Apesar de condenar os ataques por “escalarem as tensões no Oriente Médio”, o governo chinês evitou tomar partido diretamente. “A China apela a todas as partes envolvidas, especialmente Israel, para que busquem um cessar-fogo imediato”, declarou o Ministério das Relações Exteriores.

O chanceler iraniano, Abbas Araghchi, confirmou que se reunirá nesta segunda-feira (23) com o presidente Vladimir Putin, em Moscou, para discutir os desdobramentos da ofensiva americana.


A Rússia não perde — só ganha

Especialistas avaliam que a reação branda da Rússia não é por acaso. “Moscou não perde nada com isso. Pelo contrário, a Rússia tem mais a ganhar”, explica o analista José Milhazes.

A lógica é simples: um Oriente Médio instável tende a pressionar os mercados internacionais, especialmente o preço do petróleo, o que beneficia diretamente a economia russa, altamente dependente da exportação de energia.

Ao mesmo tempo, Putin não quer romper com Trump. Se o ex-presidente americano conseguir uma vitória rápida e ampliar seu protagonismo internacional, pode redobrar a pressão sobre Moscou no contexto da guerra na Ucrânia.

Além disso, o Kremlin mantém boas relações tanto com o Irã quanto com Israel. Isso explica, em parte, a cautela: não há interesse em queimar pontes com nenhum dos lados.


O fantasma do Estreito de Ormuz

Neste domingo, o Parlamento iraniano recomendou o fechamento do Estreito de Ormuz, por onde passa cerca de 25% do petróleo mundial. A decisão, que depende da aprovação do líder supremo Ali Khamenei, pode provocar um colapso no comércio global de energia.

Se isso acontecer, o impacto será direto nos Estados Unidos e na Europa, com disparada no preço do petróleo e aumento da inflação — um cenário que favorece a Rússia, que se beneficia do petróleo mais caro enquanto sufoca as economias ocidentais.


Putin deixa claro: não quer guerra, só influência

Na prática, Putin adota sua já conhecida estratégia de “diplomacia paralela”. Sem se comprometer diretamente, conversa com todos os lados — Netanyahu, o presidente iraniano Masoud Pezeshkian e Donald Trump —, reforçando sua imagem de ator indispensável nas crises internacionais.

Na última semana, Putin chegou a declarar que vê Israel como uma “pequena Rússia”, destacando os mais de 1,5 milhão de cidadãos russos vivendo em território israelense. Foi sua forma sutil de sinalizar que não entrará em confronto direto com Tel Aviv, nem mesmo em defesa do Irã.

Enquanto isso, as negociações sobre a guerra na Ucrânia ficam em segundo plano, exatamente como Moscou deseja.


Amigos, mas nem tanto

Apesar da aparente aliança, a relação entre Rússia, China e Irã é muito mais pragmática e econômica do que uma verdadeira aliança militar.

Historicamente, Rússia e Irã colaboraram na área militar, especialmente na década de 1990, quando Moscou ajudou Teerã no desenvolvimento dos mísseis Shehab e na construção do reator nuclear de Bushehr. Mais recentemente, a Rússia forneceu ao Irã sistemas de defesa aérea S-300 e adquiriu milhares de drones Shahed, que vem usando na guerra contra a Ucrânia.

Moscou também foi signatária do acordo nuclear de 2015, que os EUA abandonaram dois anos depois. Em 2024, propôs um novo modelo de cooperação nuclear com Teerã, tentando equilibrar a produção de combustível para fins pacíficos, sem abrir caminho para armamentos.

Contudo, não existe nenhum tratado formal de defesa mútua entre Rússia e Irã. Putin assinou, no início deste ano, um acordo de “parceria estratégica abrangente” com Teerã, mas o foco é mais econômico e diplomático do que militar.

No caso da China, a relação é ainda mais comercial. Segundo analistas, Pequim não demonstra disposição para se envolver diretamente no conflito, nem tampouco fornecerá armas ao Irã. Seu papel, por ora, é de pacificador estratégico, tentando evitar que a guerra prejudique seus próprios interesses comerciais no Oriente Médio.


Conclusão

A aparente “timidez” de Rússia e China diante dos ataques dos EUA ao Irã não significa neutralidade, mas sim frieza estratégica. Ambas as potências calculam seus movimentos com foco nos próprios interesses: pressão econômica sobre o Ocidente, manutenção de canais diplomáticos abertos com todos os lados e fortalecimento de suas posições geopolíticas.

No xadrez global, quem perde é quem joga com o coração. E nem Moscou, nem Pequim estão dispostos a isso.


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Equipe de jornalistas do Jornal DC - Diário Carioca

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